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Desapega

O coração veio à boca e voltou. Começou a bater forte. Ondas de calores, tremores de frio, tudo misturado, diante de cada um que surgia. Poderia ser bem mais simples, jamais imaginei que seria tomada por este sentimento diante dos muitos CDs que me acompanham há mais de duas décadas e confinei em grandes caixas de plástico.  Cansei de vê-los enfileirados, um apoiado no outro, praticamente mortos, tomando espaço na estante da sala. A música não saía mais deles, nem tenho cd player, tudo vem no computador, nas mídias alternativas, no pen drive, no celular….Tomando poeira e sem que ninguém os quisesse ao menos para admirar suas capas, resolvi recolhê-los até o dia em que surgisse uma ideia melhor. E este dia chegou. Depois de ler o livro da japonesinha que ensina a desapegar, minha vida está mudando de forma galopante.

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A guru japonesa Marie Kondo é autora do best seller “A Mágica da Arrumação” que vendeu mais de 2 milhões de exemplares, andou no topo da lista do The New York Times e foi lançado no Brasil há alguns meses.  Uma amiga deu a dica, encomendei e chegou no correio. Agarrei-me ao livro de tal maneira que desde então só penso em reduzir os meus pertences. Marie que nem inglês fala, é viciada em arrumação desde criancinha. Insistia para que a mãe desapegasse de objetos e mantivesse a casa numa organização minimalista. E foi dessa obsessão que nasceu o método KonMarie que a levou a ser disputada por milionários japoneses que acumulam além de dinheiro muita quinquilharia e querem aprender o detox do supérfluo. Aos 30 anos de idade ela ganhou o mundo falando sobre um programa que criou e que baseia-se em dois fundamentos: a necessidade de reavaliar tudo que se tem em casa para descartar sem dó os itens inúteis e a reorganização do espaço segundo categorias bem definidas. Ela sugere que se examine cada objeto por segmento. Das calcinhas/sutiãs aos suéteres, dos sapatos aos cds, passando pela louça, roupa de cama, banho e festas, bolsas, produtos de limpeza e de banheiro, livros, recuerdos de viagens, fazendo a seguinte pergunta: “Isto me traz alegria? ”

Estou vivendo exatamente o momento “isto me traz alegria” com os CDs, mas já de olho comprido nos livros, nas roupas, objetos de decoração e mais adiante a cozinha, o banheiro, fotografias… Já estabeleci que os CDs do coração serão gravados num HD externo, ocuparão menos espaço e terei para sempre as músicas da minha vida. Estou saboreando estes ensinamentos e me fazendo uma outra pergunta “isto me importa? ” Muito mais do que necessito TER é o PARA QUE carregar tantos objetos…  Ao longo da vida já desmontei muitas casas, doei, deixei para trás, abri mão, com o sentimento de querer me libertar do passado. Foi assim em muitas mudanças. Há alguns anos fiz uma conta e cheguei ao número de 26 mudanças em 23 anos. A última há 11 anos quando vim prá Bahia e me lembro que estava colocando as últimas coisas no carro quando percebi que não teria mais espaço para uma TV. Dei ao porteiro que ficou me acenando com o maior sorriso.

Mas nestes últimos anos novos elementos surgiram…. O guarda roupa que usei como executiva indo e voltando de São Paulo, mais livros, objetos de decoração, lembranças, presentes e haja acúmulo…. Vou esvaziar os armários, liberar espaço, respirar…. No entanto o que mais gostei no livro da japonesinha não foram as dicas para guardar meias esticadas (jamais embrulhar como uma bola!!), dobrar roupas de forma especial para serem acariciadas, ou guardar duas bolsas juntas, uma dentro da outra. Nas últimas páginas ela fala sobre o respeito que se deve ter à casa onde se vive, a importância da moradia, agradecer o teto que se tem.

“Você cumprimenta a sua casa ?” Ela pergunta e conta que se ajoelha no chão, no centro da casa dos clientes, e dirige-se mentalmente ao local. É um ritual silencioso que arranca olhares de espanto. “Assim como cumprimenta seus familiares e seus animais de estimação, faça o mesmo com a casa quando chegar da rua “ sugere Marie. Mesmo antes de ler seu livro ou reportagens sobre sua técnica, faço algo parecido. Sou muito grata pela casa que tenho. Ela é parte fruto do meu trabalho e parte memória da família. E por ser tão feliz aonde vivo que criei o hábito de pela manhã, ao abrir as janelas e portas, agradecer o dia e pedir que além do sol, entre muita saúde, alegria, prosperidade, harmonia… À noite, ao fechar cada uma das 9 portas e janelas da parte de baixo da casa, peço proteção e paz… Este pequeno ritual me faz muito bem e acredito que a vida vai ficar ainda muito melhor depois que puser a casa em ordem…