
Tenho pensado que dentro de mim existe um universo pouco conhecido. Não é sobre sentimentos, é bem mais concreto: o corpo que habita em mim. Seus órgãos, inter-relações, processos, como respondem aos efeitos externos, dos alimentos aos pensamentos. As reflexões chegaram junto a uma dor profunda que, até a causa ser debelada, passaram 45 dias. Deitada na mesa de cirurgia olhando as luzes no teto, às 7h30 a anestesista feliz cantarolava “Bom dia… O Sol já nasceu lá na fazendinha” enquanto acertava a veia e me dava algo para entrar em sono profundo, quando voltei eu já não era mais a mesma.
Com “zero” de importância ao longo da vida, a vesícula se tornara protagonista nos últimos tempos. A culpa das dores eram as tantas pedras que apareceram numa tomografia sem que nunca tenha percebido a sua chegada. Como nasceram, desenvolveram e tomaram posse sem aviso prévio? Essa pergunta me acompanhou e ainda me intriga.
Quando voltei da anestesia a surpresa: saíram as pedras, e também a vesícula. E assim tive que me aceitar faltando um pedaço, lastimar a perda e exercitar o desapego. Foram apenas alguns furinhos na barriga, como o combinado mas, psicologicamente, São Sebastião perdoe a comparação, recebi como flechadas. Apesar dos exercícios de desapego e de tantas pessoas dizerem que a vesícula não serve para nada, eu ressinto. Nem tive tempo de conhecer, ouvir suas necessidades, ser cuidadosa. Só me resta prestar atenção nos outros órgãos, se fosse possível adoraria virar do avesso e construir uma relação mais amorosa. Agora, no modelo “sem vesícula”, vida que segue com agradecimentos ao Dr. Josdanei Carneiro Silva, sua equipe e atendimento do Hospital Neuroccor, em Porto Seguro, as preces e boas vibrações da família e amigos distantes, a querida Ju Braga que veio me acompanhar, a presença das amigas “baianas” Ana Nunes Bacana, Carla Mott Ancona, Mikie Iwakiri, Patricia Martins, e a nutricionista vegana Carla Figueiredo que tem me alimentado desde que tudo isso começou…