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Sullivan & Massadas

Foram várias as citações nas redes sociais de amigos, matérias em sites e revistas, comentando sobre a série e mergulhei nos 5 capítulos de “Sullivan & Massadas – Retratos e Canções” no Globoplay. Uma viagem no túnel do tempo, somos da mesma geração, e aquela música romântica que eles compuseram em profusão nos anos 80, mesmo considerada “brega” por alguns puristas da MPB, fez parte da minha playlist. Voltei ao Canecão nos anos 80 e vi a casa lotada ao ritmo de “Whisky a Go Go”. Lembrei da dificuldade em conseguir espaço na imprensa para divulgar o Roupa Nova, mas bastava colocar o nome no grande outdoor na porta da casa de shows em Botafogo que os ingressos esgotavam.

Assistir séries documentais é um convite para relembrar momentos que estão escondidos em alguma gavetinha da memória, e me deparei com a citação do Lincoln Olivetti que trouxe junto Vanusa do jeito que a conheci em 1973. Ela tinha acabado de gravar “O Mago de Pornois”, uma música infantil do Paulo Massadas lançada no Fantástico. Alguns anos depois estive mais próxima do Lincoln quando retornou ao Brasil depois de um tempo nos Estados Unidos e participou ativamente do disco “Vanusa 30 anos”, mas aí já é outra história…

Voltando à importância de Sullivan e Massadas, o jornalista Sérgio Martins coloca muito bem o que representaram na década de 80, lembra o movimento dos “falsos gringos”, cantores brasileiros que faziam sucesso cantando em inglês como era o caso do próprio Michael Sullivan. Outro momento delicioso é a sequência de clips, trechos de novelas com as dezenas de trilhas sonoras e um filme vai passando na cabeça de quem viveu aquele tempo. Algumas vezes dei um stop no vídeo para repensar aonde eu estava naquele momento…

A forma como o diretor André Barcinski conta esta história, utilizando alguns artistas que não são desse tempo, como por exemplo Zeca Baleiro e Carlinhos Brown, atesta a atualidade das músicas que podem ser interpretadas em diversos estilos como mostra o sambista Ferrugem com uma versão de “Talismã”, sucesso dos sertanejos “Leandro e Leonardo”.  E é claro que lá também estão os depoimentos de muitos dos que venderam milhares de discos com suas obras, como Gal Costa, Alcione, Angélica, Roberto Carlos, Xuxa, Serginho do Roupa Nova, entre outros tantos… A participação do Pedro Bial em entrevistas pontuais, e dos homens do disco e da TV como Edison Coelho e o Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho), atestam a importância da dupla. No último episódio, Massadas define de forma clara o porquê do sucesso: “a nossa música penetrou na alma, nós geramos memória”… Simples assim… Vale viajar nesses Retratos e Canções…

Léa e João

Quando a moça do cartório com um papel na mão se dirigiu a mim e perguntou Léa e João, soou estranho. Saí do cartório com a cópia da certidão de casamento com a averbação da separação consensual necessária para a 2ª via do RG, pensando que se fôssemos apenas Léa e João poderíamos estar casados até hoje. Mas não tinha como ser assim, a começar pela forma como nos conhecemos. Em 1976 eu estava morando em São Paulo e o vi entrar de braços dados com uma atriz no teatro onde haveria a entrega do prêmio APCA. Não sei por que falei para Maria Helena Dutra, a jornalista amiga que estava ao meu lado: vou casar com ele. Naquela noite não cheguei perto, voltei para casa pensando no ímpeto das palavras que fugiram pela boca sem imaginar o poder que teriam. Nunca tinha ouvido a sua voz, só sabia que era um diretor de novelas. Alguns meses depois, no dia 23 de outubro, morando de volta no Rio de Janeiro, fui convidada com outros tantos jornalistas e artistas para assistir a um show da Angela Maria com Cauby Peixoto, e ele fazia parte do grupo. Fomos apresentados rapidamente e fez um comentário que achei muito pretencioso. Saí do show e fui com amigos para o “706”, no Leblon, o piano bar da moda, onde logo depois ele chegou. Bastou um olhar, o convite “quer dançar” e tudo começou ao som de “Poxa”, um dos mais belos sambas da época. Namoramos bastante, alguns anos depois nos casamos apaixonadamente, mas na verdade, nunca fomos apenas nossos prenomes. Tínhamos história, cargos, funções, responsabilidades, num mundo de aparências e pouca essência. Eu era Léa Penteado, ele Régis Cardoso, primeiro nome, João. Por mais tentativas que fizéssemos para nos manter juntos, pois a química e a paixão era intensa, sempre aparecia algum impedimento. Ciúmes de um lado, tentações do outro e, mesmo quando depois de separados, tentamos reconstruir o amor, não deu mais match. E de tudo o que ficou, além das boas memórias, um documento me acompanhará aonde ali somos Léa e João.

7.5

Houve um tempo em que 3 de janeiro era dia de festa na redação do Segundo Caderno do jornal O Globo com quatro capricornianos aniversariando: Anna Maria Ramalho, Elda Priami, Paulo Alberto Monteiro de Barros (Artur da Távola) e eu.  Em muitos 3 de janeiro comemorei com uma amiga da mesma data, Ângela, sendo que um foi muito especial, quando nos reunimos em minha casa com nossos ilustres maridos. Ela com Gonzaguinha, eu com Regis Cardoso… Apesar do dia do meu nascimento ser logo depois do réveillon, quando muitos ainda estão de ressaca e entrando na dieta, não trocaria ele por qualquer outros 364 do ano. Adoro ser uma capricorniana de boa cepa, com ascendente leão e lua em peixes.

Este ano homenageio Ângela e Anna, amigas confidentes.  Ângela desde os 15 anos e Anna conheci aos 22. Ângela foi a amiga da adolescência, com quem me fechava no quarto (na casa dela ou na minha) para elucubrarmos como seria um grande amor, de onde viria e como chegaria. Foi numa destas conversas que confidenciou estar apaixonada por aquele que viria seu grande companheiro e comporia diversas obras marcantes para a música brasileira, muitas tendo a amada como inspiração. Com Anna ainda haviam amores, alguns desfeitos, outros recompostos, os filhos pequenos, o futuro profissional e sempre muitos planos maravilhosos que eu lia nas cartas de tarô.

Não tenho como reclamar da falta de amigas, foram muitas chegando ao longo da vida, algumas ficaram outras são vagas lembranças, mas estas duas queridas no dia 3 de janeiro sempre me fazem muita falta. Penso o que falaríamos nestes tempos em que estamos setentonas.  Certamente, como sempre acontecia, estaríamos dando boas risadas de nossas mazelas… Creio que foi com elas que aprendi a gostar mais de mim e rir até dos descaminhos…E vou brindar Joca e Loura, assim as chamava… Que estejam na luz e na paz…

Reflexões de 2023

Recentemente li sobre escrever uma retrospectiva pessoal no fim do ano deixando canais limpos para 2024. Não creio que os finais de ano sejam conclusivos, os ciclos não se fecham enquanto estamos vivos, são apenas dias que entram e saem num calendário. Neste período desfilam as estações do ano e alguns nem notam, só tiram e colocam os casacos dos armários. Como nasci no 3º dia do novo ano, o meu ciclo inicia junto, e sempre tenho uma enorme disposição com a nova idade.
2023 começou estranho. Em março fui surpreendida com o covid e em abril, o que jamais imaginei aconteceu, retirei um órgão. A vesícula se foi, fiquei triste, gostava dela. Recomposta dos sustos tive o prazer de colocar o ponto final num livro que estava escrevendo há 18 meses (publicação em breve). Ufa! Também aprendi muito quando, a convite do Jan, topei rejuvenescer o http://www.santoandre-bahia.com criado em 2006. Fizemos um trabalho lindo com a Kris, um orgulho contribuir para ver a região bem promovida e ainda encaramos juntos a realização do 6º Festival da Lagosta. Turma boa! Fiz curtas viagens, reencontrei amigos, trabalhei com o que gosto nas relações com a imprensa, algumas vezes administrando crises, buscando saídas, colaborando para um final feliz. Nos últimos seis meses acompanho o envelhecimento da Akira, a pastora canadense entrando nos 13 anos. Cardíaca, aos poucos vai perdendo os sentidos e com a idade se entregou aos afagos o que jamais permitiu.
Li em algum lugar e colei no mural a reflexão que me foi útil para tentar entender o que tenho visto por aí: “as pessoas não se unem mais para um objetivo em comum, mas para um inimigo em comum. O opositor se nutre do seu sucesso. Os que não tem sucesso se unem para ser contra quem tem. Na mesma proporção que crescem quem é a favor de você, crescem quem é contra. Mas o “a favor” é maior. ” Como a frase em para-choque de caminhão “A inveja é uma merda” e, por mais que o homem crie a inteligência artificial, descubra a cura de males, dê piruetas no espaço e tente se superar, o 3º pecado capital continuará existindo. Como diz o provérbio árabe “os cães ladram e a caravana passa”. Pense nisso ao longo de 2024, feliz novo ano…

21 de dezembro

Querido Victor, sempre acordo nesse data pensando por que estou aqui? Não pense que eu queria ir com você, o tanto que tinha (e tenho) para fazer são a prova de que meu tempo ainda é longo… Mas me pergunto por que fiquei em sua casa, no povoado que você escolheu viver, construindo uma historia que nada tinha a ver com a minha… A lógica não explica… Fui deixando os dias, os meses, os anos passarem e confesso que vivendo muito bem, às vezes não acreditando em tanta mudança de rumo…. Fui ajeitando o que eu era e o que me tornei… Aceitando e agradecendo o que vem… Desci do salto para a havaiana, literalmente… E sou grata sim, não sei se estivesse no caminho anterior teria aprendido tanto apenas olhando o entorno e percebendo que nada é perene, nem a beleza do hibisco. Não é fácil, ninguém disse que seria, mas os momentos prazerosos são muito maiores… E para culminar o seu dia abri finalmente a caixa de fotos que eram da mamãe e encontrei vários momentos seus que compartilho com a família e amigos que o conheceram tão bem, e outros que só sabem de você través das historias que gosto de contar….
Até sempre…

Salve Santa Cruz Cabrália

Foto de 1995 – a placa ainda está no lugar

Hoje Santa Cruz Cabrália completa 190 anos de emancipação política. Em algumas semanas completo 19 anos nessa cidade. Uma mudança radical. De família paranaense, criada entre São Paulo e Rio, o que me moveu para a Bahia foi o afeto ao irmão que escolheu Vila de Santo Andre para construir uma pousada e partiu cedo. Talvez a medalha de Nossa Senhora da Conceição que recebi ao ser batizada era um aviso, afinal é a santa padroeira da cidade. Mas nesses anos felizes, me tornei Cabraliense com título de cidadã, fui secretária em duas gestões, conheci a cidade e meu amor aumentou, sobretudo pela orla norte, onde estão os povoados de Santo Andre, Santo Antonio e Guaiú. A semana que passou conversei com o prefeito Agnelo Santos. Aos 8 anos quando meu pai me levou num comício aprendi que políticos são pessoas eleitas e pagas pelo povo para cuidarem de um lugar por um período. Ao longo da vida estive com muitos, de presidentes a prefeitos, com quem converso respeitosamente. E foi levando uma pauta com sugestões, reclamações e questionamentos que fui ao encontro.  Não represento qualquer associação, vou como cidadã que, independente do político que está no poder, quer a sua cidade bonita e com os serviços básicos atendidos. Podia estar só trabalhando online para grandes centros, nas horas de lazer ir à praia, assistir séries, ler um livro deitada na rede, mas não consigo ver o entorno e reclamar nas redes sociais. A pauta estava focada em melhorias para a região e, exceto os buracos nas ruas e a falta de luz nos postes, nada interfere na minha vida pessoal, mas no todo.  Um diálogo onde ouvi sobre as dificuldades de ser prefeito, cicatrizes das chuvas de abril, projetos para realizar faltando 18 meses para fim do mandato, e pedi pelo tratamento d´água, o transporte coletivo, a melhoria e limpeza das ruas, quebra-molas, cuidar da beira do rio, afinal um lugarejo tão lindo e turístico precisa de atenção. Espero no ano que vem escrever  “Parabéns Cabrália, obrigada Agnelo”.

Em novo shape

Tenho pensado que dentro de mim existe um universo pouco conhecido. Não é sobre sentimentos, é bem mais concreto: o corpo que habita em mim. Seus órgãos, inter-relações, processos, como respondem aos efeitos externos, dos alimentos aos pensamentos.  As reflexões chegaram junto a uma dor profunda que, até a causa ser debelada, passaram 45 dias. Deitada na mesa de cirurgia olhando as luzes no teto, às 7h30 a anestesista feliz cantarolava “Bom dia… O Sol já nasceu lá na fazendinha” enquanto acertava a veia e me dava algo para entrar em sono profundo, quando voltei eu já não era mais a mesma.

Com “zero” de importância ao longo da vida, a vesícula se tornara protagonista nos últimos tempos. A culpa das dores eram as tantas pedras que apareceram numa tomografia sem que nunca tenha percebido a sua chegada. Como nasceram, desenvolveram e tomaram posse sem aviso prévio? Essa pergunta me acompanhou e ainda me intriga.

Quando voltei da anestesia a surpresa: saíram as pedras, e também a vesícula. E assim tive que me aceitar faltando um pedaço, lastimar a perda e exercitar o desapego. Foram apenas alguns furinhos na barriga, como o combinado mas, psicologicamente, São Sebastião perdoe a comparação, recebi como flechadas. Apesar dos exercícios de desapego e de tantas pessoas dizerem que a vesícula não serve para nada, eu ressinto. Nem tive tempo de conhecer, ouvir suas necessidades, ser cuidadosa. Só me resta prestar atenção nos outros órgãos, se fosse possível adoraria virar do avesso e construir uma relação mais amorosa. Agora, no modelo “sem vesícula”, vida que segue com agradecimentos ao Dr. Josdanei Carneiro Silva, sua equipe e atendimento do Hospital Neuroccor, em Porto Seguro, as preces e boas vibrações da família e amigos distantes, a querida Ju Braga que veio me acompanhar, a presença das amigas “baianas” Ana Nunes Bacana, Carla Mott Ancona, Mikie Iwakiri, Patricia Martins, e a nutricionista vegana Carla Figueiredo que tem me alimentado desde que tudo isso começou…

Inesquecível

Foto @mauro.oferreira

Quando acabei de escrever sobre as 5 mulheres que partiram em junho, sem dar tempo de esfriar o teclado chegou a notícia de mais uma, esta conheci quando vim morar na Bahia há 18 anos. “Dona” Anna Mariani, assim conhecida em Vila de Santo André, mesmo que alguns a tenham visto raras vezes, interferiu discretamente e de forma determinante na vida da comunidade por quase duas décadas. Talvez muitos não soubessem que era conhecida nacional e internacionalmente pelas fotografias de fachadas e detalhes da arquitetura de habitações populares, que realizou desde 1976 em muitas expedições pelo Nordeste. Percorreu centenas de povoados para fazer milhares de imagens que tinham em comum: fachadas pintadas a cal pigmentada, rematadas em cima por platibanda (uma barra enfeitada, escondendo o telhado). Fotografou todas de forma idêntica, bem de frente, na mesma escala, sem destaques nem comentários, só local e data. Quando estava em meio a esse trabalho, teve um convite para expor na Bienal de São Paulo de 1987. Saiu de lá com propostas de exposição mundo afora, começando pelo Centro Pompidou, em Paris. Nesta época seu acervo já acumulava mais de 2 mil fotografias que foram publicadas em dois livros e desde o início deste ano fazem parte do Instituto Moreira Salles. 

Ela pode não ter fotografado fachadas de Santo André, mas deixou um registro ainda maior em centenas de crianças e adolescentes que passaram pelas instituições que apoiou de forma determinante. Desde a segunda parte dos anos 90, quando construiu uma casa à beira mar no então povoado de Santo André antes que o mesmo se tornasse um destino descolado de veraneio, olhou para a sua gente de forma especial. Em 2005 começou a colaborar com a Escolinha Maria Marta que existia desde quando aqui chegou. Primeiro financiou uma professora e, com o passar do tempo, se tornou a grande madrinha da Instituição que recebe em torno de 50 crianças entre 2 e 5 anos, do povoado e seus arredores. Nada mais delicioso do que ver as crianças chegando à escolinha que tem uma excelente base pedagógica e muito colaborou para a formação de uma geração. 

Como Conselheira e membro fundadora do Neojiba (Núcleo Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia), em 2009 aproximou o IASA (Instituto Amigos de Santo André) que já oferecia educação musical à comunidade, para que se tornasse parceiro institucional desta escola que tem núcleos espalhados por toda a Bahia. O Neojibá, que tem como objetivo promover o desenvolvimento e a integração social prioritariamente de crianças, adolescentes e jovens em situações de vulnerabilidade por meio do ensino e da prática musical coletivos e de novas bases, deu ao IASA uma grande oportunidade. Quer recebendo “master classes” com músicos muitas vezes internacionais, quer permitindo aos seus alunos vivenciarem uma temporada de estudos em Salvador, ou trocando experiências com outras instituições na Bahia. Hoje, alguns alunos da bandinha do IASA se tornaram professores e monitores de música, passando o conhecimento para outras crianças e jovens da comunidade… Um ciclo feliz e renovável…

Tive oportunidade de conversar algumas vezes com Anna Mariani, tanto em encontros inesperados nas caminhadas na praia, como em sua casa… Eu já sabia um pouco sobre sua trajetória, mas em 2009 quando assisti ao show de Maria Bethânia “Amor, Festa, Devoção” e no segundo ato o cenário descia adornado com uma série de quadros com retratos de fachadas de casas, fiquei ainda mais impactada com a obra da “vizinha”.  Em 2012 assisti ao seu lado, num espaço aberto na vila, uma apresentação dos alunos no IASA cujo tema era o Nordeste. Cenários e palcos totalmente diferentes, mas aquela senhora sorridente de cabelos brancos admirava a apresentação das crianças vestidas de cangaceiros e índios de forma encantadora. Tudo muito singelo. Jamais esqueci o seu olhar embevecido como se estivesse assistindo a apresentação de uma sinfônica no mais renomado palco do mundo… Ela sabia o quanto a música e a educação transformava vidas e fez a sua parte em nossa comunidade… 

Anna Mariani faleceu de causas naturais na sua residência em São Paulo aos 87 anos no dia 22 de junho.  Meus sentimentos à família e gratidão por toda a amizade à nossa vila. Descanse em paz. 

Algumas fotos de Anna Mariani

Inspirações e referências

Quando li esta manhã sobre a partida da Danuza Leão lembrei do Moacyr Deriquem. Modelo e ator nos anos 70 – 80, sempre que algum famoso morria ele dizia “ninguém vai sozinho”. E era a mais pura verdade, dias depois surgia a notícia de uma outra partida… Mas junho extrapolou: até agora foram 5 queridas que, de alguma forma, fizeram parte da minha vida…

Eu e Neila Tavares (4 de junho), tínhamos a mesma idade, a nossa vida se encontrou diversas vezes…Foi amiga dos meus dois maridos, Paulo Martins e Régis Cardoso por quem foi dirigida na novela “Anjo Mau”. Neila foi da geração da pílula que trouxe liberdade às mulheres que seguiram a vida independente de parceiros. Mulheres que se reinventaram, buscaram seu espaço e, como escrevia muito bem, brilhou também nas letras. Maria Lucia Dahl (16 de junho) com quem falei poucas vezes nunca soube o quanto me inspirou. Eu era repórter de revistas e jornais, ela cronista no Jornal do Brasil. Como eu gostaria de saber escrever crônicas, falar sobre coisas comuns com a mesma facilidade com que ela fazia.  Eu lia as suas crônicas e me perguntava se conseguiria fazer algo que chegasse próximo. Quando há alguns anos ela foi morar no Retiro dos Artistas aplaudi. Tenho a maior admiração pelo Retiro, acho um trabalho lindo e se um dia me sentir sozinha vou bater na porta.

Na década de 70, casada com um diretor de novelas, passei a fazer parte de um grupo seleto de estrelas globais que era convidado a encontros promovidos pela Guta Matos, poderosa diretora de elenco da Globo, as sessões de cinema organizadas por Moacyr Deriquem, uma vida social muito divertida onde Ilka Soares (18 de junho) sempre linda e elegante transitava. Até um fim de semana na casa da Arquidiocese do Rio de Janeiro a convite do Bispo Dom Eugenio Salles estivemos juntas. O que me impressionava era um estilo chic mesmo que se vestisse de saco de estopa. Eu nunca chegaria a este ponto, acho que as pessoas com estilo nascem assim. Foi uma mulher elegante sempre, assumiu os cabelos grisalhos antes de muitas. Partiu faltando poucos dias para completar 90 anos.

Marilu Bueno (22 de junho) conheci nas gravações da novela Estúpido Cupido…Durante muitos anos fazia eu fiz matérias de novelas para revistas especializadas em tv. Era um tempo em que a novela já era um produto da melhor qualidade e de exportação, mas não era tratada da mesma forma pela mídia… Era considerado um jornalismo menor, posso escrever um tratado sobre o assunto pois andei por ele como enorme alegria…Fui “setorista” do “Estupido Cupido”, ou seja, estava em quase todas as gravações ao ponto da festa de aniversário de 4 anos do Bernardo estar quase todo o elenco cantando parabéns… Demos boas risadas, altíssimo astral. Foi assim até os 82 anos…

Quanto a Danuza Leão (22 de junho), conheci como jurada do programa Flávio Cavalcanti. Ela era tão diferenciada que aceitou o convite feito por Gilda Robichez Ramos, diretora da TV Studio (empresa que produzia o programa) para fazer parte do corpo de jurados. Era tudo muito novo na tv. O programa mesclava temas populares e sofisticados, alguns olhavam com estranheza ela já muito poderosa opinando por assuntos diversos. Nos reencontramos muitas vezez… No início dos anos 90 caminhávamos juntas de manhã bem cedinho no calçadão do Leme (Rio de Janeiro). Alguns anos depois, quando colunista do Jornal do Brasil, uma vez me telefonou pedindo indicação de alguém para ocupar na sua equipe o lugar da Cacaia (outra amiga querida) que estava de mudança para São Paulo. Sugeri Sonia Biondo, havíamos trabalhado juntas no jornal O Globo e estava disponível… E lá foi a Biondo com quem fez  boa parceria durante um bom tempo… Danuza era a pessoa que eu sempre gostei de estar perto mesmo sem precisar falar…Li todos seus livros, inspiradores e orientadores…Quando vim morar na Bahia trocamos e-mails, ela queria alguns dias de férias num lugar tranquilo e certamente encontraria isso em Santo André. Ela vai fazer enorme falta, mesmo sem nos falar há alguns anos… Na verdade, todas vão fazer falta, pois me inspiraram, foram referências e fizeram parte do meu caminho… Valeu a vida !!

A natureza ensina

Eu moro em uma cidade que colocou agroecologia em seu currículo escolar e nunca pensei que esse assunto fosse me emocionar. Mas vivendo em uma área de proteção ambiental, cercada com o que ainda resta de Mata Atlântica, aprendendo que “regenerar” não é apenas o solo mas a nós mesmos, em uma semana onde ambientalistas estão no topo das manchetes, esta manhã assistindo a abertura do curso de agrofloresta que acontece até o dia 19, fiquei comovida… Para quem saiu de um apartamento no Rio de Janeiro e veio se entender numa casa cercada de árvores, a mudança foi grande e gradual… A natureza ensina, qualquer folha caindo que se transforma em adubo é uma lição;  qualquer mudança de lua ora escurecendo, ora inundando de luz o quintal é um sopro de conhecimento.

E, se na cidade de Santa Cruz Cabrália que tem  1200.000 m2 área rural agrícola, nada mais justo do que colocar o assunto na sala de aula. Para isso estão sendo preparados professores interessados no assunto e encontrei 21 sentados à beira do rio João de Tiba, na Ponta de Santo André, num clima bem diferente de uma sala de aula formal. O curso “A Arte de Guardar o Sol: Cultivo de Alimentos em Reconexão com a Natureza”, título de um livro de Walter Steembok, foi disponibilizado para todos que buscam saber sobre o assunto, com aulas teóricas e vivências práticas sobre permacultura e regeneração. Preparar educadores e expandir estas informações em “sala de aula” é a certeza de que o mundo não está perdido… Em 3 escolas da região a agroecologia já está no currículo nas turmas da 6ª. à 9ª. série. Agora é seduzir mais professores a “comprarem” esta ideia e saírem multiplicando os conhecimentos adquiridos sobre o tema que, na verdade, está presente em cada esquina da cidade.

A ideia de reunir profissionais desta área com o objetivo de passar conhecimento foi da Carla Mott Ancona, uma executiva paulista que atuou por muitos anos na área de turismo e há pouco mais de um ano mudou para Santo André, atrás do sonho de desenvolver projetos sustentáveis na região. Em um ano Carla já fez uma revolução através do Projeto Colmeia realizando 2 fóruns online sobre sustentabilidade, encontro para mulheres falarem da feminilidade, cursos de corte costura e letramento digital, e se integrou de uma forma incrível com a comunidade.

E voltando ao encontro da manhã, quando em determinado momento numa atividade coletiva foi proposto que cada um contasse para quem estivesse mais próximo o que o levou ao curso e o que esperava levar no final, surgiram emocionantes os depoimentos. Estamos num tempo de muito discurso sobre meio ambiente, percebo uma profusão de teorias e um mínimo de vivencia… Estar acompanhando as mudanças que ocorrem no planeta num local tão mágico, é um privilégio. Quanto mais eu conheço a natureza mais eu me conheço.