“Memórias à Mesa: Entre Aérton Perlingeiro e Angélica ao Vivo”

Desde a estreia, em outubro, estou querendo escrever sobre o programa “Angélica ao Vivo”, no GNT. Ele me trouxe boas lembranças, tanto por ser ao vivo — uma arte para poucos apresentadores — quanto pelo formato “almoço com as estrelas”.

Talvez muitos nem se lembrem de que houve um tempo em que não existia transmissão de TV por satélite. Os programas eram exclusivos de seus estados e, tanto no Rio quanto em São Paulo, havia o tradicional “Almoço com as Estrelas”. No Rio, com Aérton Perlingeiro; em São Paulo, com o casal Lolita e Airton Rodrigues. Dezenas de artistas ainda em atividade podem comentar a importância desses programas na divulgação de suas músicas, peças de teatro, filmes, livros…

Tive uma relação próxima com o programa do Aérton Perlingeiro na TV Tupi. No final dos anos 60, comecei como repórter em uma revista de TV e, aos sábados, tinha a missão de fazer a cobertura. O melhor de tudo: tive o privilégio de ver estrelas como Fernanda Montenegro, Paulo Autran, Bibi Ferreira, Agildo Ribeiro, Rogéria, e outros grandes nomes do teatro, à mesa, almoçando e promovendo seus espetáculos. Sempre era possível conseguir alguma entrevista nos intervalos.

O almoço existia de verdade. Os pratos vinham um pouco frios, trazidos por garçons vestidos comme il faut — calça preta, paletó branco e gravata borboleta. Às vezes, algum convidado era flagrado pelas câmeras com a boca cheia ou chamado para dar alguma opinião ainda mastigando. Mas isso não apagava o brilho…

Ao assistir ao programa da Angélica, entrei numa viagem prazerosa. A tecnologia deu ao programa um ritmo ágil e leve, diferente dos anos 60/70, quando os convidados mal podiam se mover em torno da grande mesa. Agora, com a cozinha integrada — do fogão à mesa —, André Marques dominando as panelas, os drinks correndo soltos (e soltando a língua dos convidados), a descontração faz toda a diferença.

O auditório é simpático, a cantora transita da mesa para o palco com naturalidade — tudo muito atual, descolado e elegante. Quanto à Angélica, ela é um show à parte, com sua leveza e habilidade em transitar entre todos esses elementos.

Como é bom constatar que formatos antigos podem ser revisitados com inteligência e charme.

Desejo uma nova temporada!

Deixe um comentário