Amanhã fazem 6 anos que saí do Rio de Janeiro, percorri 1150km até chegar a Vila de Santo André para um ano sabático que não aconteceu. No carro a mudança quase completa. Acredito que o meu coração já sabia que eu ia ficar aqui e por isso me lembrou de trazer muitas tralhas. Não tenho planos de viver em outro lugar. Vou e volto sempre. Mas isso não me impede de perceber nas conversas entre alguns dos quase mil moradores desta vila, que muitos sonham em viver numa cidade grande, conhecer outros lugares, mas nem sabem por onde começar esta mudança…
Penso na busca do homem em melhores lugares. Aprendi vivendo no meio de tantas pessoas que querem conhecer outros mundos que o melhor lugar está dentro de mim. Não há mundo mais rico, mais belo nem mais aberto para explorações do que o meu interior… Mas não espero isso para todos, pois as descobertas são individuais e únicas. Por isso quando a vila fica repleta de turistas no verão, ou como esta semana com os velejadores do cruzeiro Costa Lestes que alegram as ruas, bares e restaurantes, imagino por onde viajam os sonhos dos nativos diante tantos que chegam e partem… Fica sempre um olhar comprido para um barco que pode levar sei lá prá onde, ou trazer algo novo e inusitado… E lembro de um povoado que ficava longe de tudo, até que uma fábrica de celulose surgiu bem próxima e para descarregar a produção iam construir uma estrada que ligaria a um porto. Para manter a tranqüilidade do local, os engenheiros traçaram a estrada fora do povoado e os moradores protestaram. Queriam a estrada cortando a rua principal para o progresso chegar mais rápido. Conversei com a balconista de um bar que disse que com os caminhões indo e vindo a sua porta, quem sabe teria chance de ir embora…
Não preciso mais ir nem vir, me basta ficar por aqui com o cheiro da almescla, a gritaria das maritacas no fim do dia e os sabiás nas manhãs, o barulho do mar, a primeira estrela no céu, caminhar na areia, as coisas bem simples desta vida…
Gostei muito do texto. Me fez recordar as estradas que também percorri, o cheiro do mar, os reflexos prateados da lua sobre as ondas.
Relembranças sensoriais da terra.
Onde fica nossa chegada?
Roberto amigo, acho que o não chegar é o melhor da vida… saudades