Bato o pé no fundo, tomo impulso e volto. Repito várias vezes o movimento. Fecho os olhos, respiro profundamente. Meu corpo está exausto. A mente também. Não estou no mar, nem na piscina, muito menos num poço ou num rio. Tenho batido o pé no fundo de mim, indo e voltando, buscando entender nas profundezas do meu coração estes novos tempos. Conhecer quem é aquela que me olha no espelho e vejo nas fotos deste verão. Ela fisicamente não me representa. Realmente envelhecer é um horror !
Comento sobre este sentimento com um amiga da mesma idade que me fez dar boas gargalhadas ao lembrar o dia em que a tia, aos 85 anos, revelou que estava preocupada pois começava a se sentir velha… Ok. Ela deve ter passado batida pela faixa dos 60 e quiçá dos 70, o que não é o meu caso… O meu sentimento é profundo… Percebo uma dicotomia de quem apareço ser e quem eu sinto ser.
A semana passada participei de um workshop sobre ações na Costa do Descobrimento para atender as exigências da Fifa quanto as seleções alemã e suÃça que terão seus centros de treinamento na região. Eu estava no grupo de Comunicação e Marketing quando surgiu uma dúvida quanto ao credenciamento da imprensa. A preocupação tinha fundamento. Qualquer blog ou fanpage no Facebook considera-se mÃdia com direito a credenciamento e o grupo com pouco mais de 20 pessoas, a maioria jovens, alguns com experiência na área, estava sem saber o que propor. Sugeri a ação que utilizei no credenciamento do Rock in Rio de 1991 e enquanto explicava o procedimento ia me dando conta de que algumas das pessoas que estavam naquela sala talvez não tivessem nascido quando isso aconteceu ou no máximo engatinhado ao som da guitarra do Santana. O fato é que nestes 23 anos aconteceu uma revolução nas telecomunicações mas a solução podia ser resolvida com uma receita antiga. Confesso que me senti a velha jornalista tirando historinhas e soluções básicas do bolso, como a velha bruxa que conhece de cor a poção de canela com pétalas de rosa para usar na lua cheia e conquistar o amado.
Conhecimento não tem prazo de validade. Pode ser usado com moderação Ad eternum, afirmo no meu confuso latim… Mas sabem o que é Latim ?
Entretanto, mesmo tirando as soluções da cartola e tendo uma enorme clareza profissional, pessoalmente existe o sentimento de que alguma coisa está fora da ordem… Amigos atiram para várias sugestões… Quem sabe uma cirurgia plástica. Longe de mim… Esconder as rugas pode dar um refresh, atenuar a crise, mas não resolve o que está no meu coração… A verdade é que passei dos 60…
Hoje caminhando na praia antes das da 7 da manhã, como não encontrei uma viva alma, simplesmente aderi ao velho e bom topless… Andei liberta por um longo trecho, mergulhei, me exibi para o céu azul, passarinhos, restinga, sol e areia, sem me preocupar com a estética à mostra. Afinal posso me dar a este desfrute… E enquanto isso continuo mergulhando fundo para ver se consigo colocar no mesmo quadro as imagens de quem eu sou e quem imagino ser…
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Comentários
Luciene Setta em O REI E EU Paloma Piragibe em Inspirações e referências Analu Neves em Que mulher é essa ? Angela Ghizi Guimarã… em Que mulher é essa ? Marilia Barbosa Nune… em Que mulher é essa ?
Desfrute, Léa. Sempre. O tempo é nosso aliado nestes inumeros calendários que somam e encantam nossa vida. O céu, os pásssos, os peixes, as iaras e as sereias de todas as águas te abençoarão. Beijos.
Primeiro: A velhice realmente é uma merda!
Segundo: A alternativa é muito pior!
Léa Mais uma crônica de pura lucidez e sabedoria. Simplesmente maravilhosa! Parabéns Rogerio
Enviado do meu iPhone
Querida Léa, saber envelhecer exige que se tenha um mínimo de graça e classe nessa arte que tão poucos dominam. É ver o tempo como aliado e a natureza como parceira constante de estripulias; é fazer dos desgastes ponto de partida para o que mais vier, e da maturidade alcançada, a possível via de salvação.
É preciso parar de pensar no que a idade levou e passar a encarar aquilo que a idade trouxe…
Muitos se esquecem disso! Detém-se aos danos e ignoram as conquistas. É preciso parar de pensar somente no que passou e passar a encarar com garra tudo o que ainda está por vir. Não me refiro somente à qualidade de vida. No meu ponto de vista, é essencial que se mantenha a qualidade de alma.
Abraços, Giba.
Em 27 de janeiro de 2014 17:02, “Léa Penteado”
Tenho caminhado “pela mesma praia”, afinal eu também passei dos 60…
Beijo, amiga, escrevendo lindamente, como sempre!
Maravilhosa, suas crônicas sempre me surpreendem e quando chego ao final do texto, sou sincero de dizer, quero mais, seja com 60 ou mais, o plus esta na sabedoria e na leveza do ser, Lea, continue caminhando, seguindo em frente e nos brindando, sempre !!!
Bjs,
JC Marinho