Eu fiz 12 anos de idade recém chegada ao Rio de Janeiro… Alguns dias antes acontecera a mais longa e cansativa viagem numa kombi saída de São Paulo na manhã de 1º de janeiro… Papai bebera algumas para se despedir da Paulicéia e viemos parando ao longo da Dutra para ele se recompor… No banco da frente iam papai, mamãe e o meu irmão pequeno… Ainda permitiam crianças sem cadeirinhas… Os três maiores no meio, enquanto eu com o cachorro e muitas sacolas no último banco… Chegamos na grande casa na rua da Cascata na Tijuca bem antes que o caminhão da mudança. Eu e meus irmãos fomos distribuídos na casa dos parentes até tudo ficar pronto para começarmos vida nova.
O calor do primeiro verão, a fresca da tarde na rua arborizada, as mangas do quintal são coisas pra não mais esquecer… Pela primeira vez eu tinha um quarto que não dividiria com minha irmã e podia dormir com a janela aberta olhando as estrelas. Entre as muitas novidades um dia em passeio de reconhecimento pela Praça Sanz Peña, o centro comercial do bairro, avistei na vitrine da Sloper* algo que fez pular o meu coração: um par de sapatos que mesclava couro cor de rosa e plástico transparente… Nunca eu tinha sonhado em ver coisa mais linda, mimosa, feminina e, por que não dizer, carioca…Era quase Cinderela !
Desejei imensamente aquela sapatilha. Imaginava meus dedinhos exibidos na transparência do plástico. Acreditava que minha vida seria outra, que conseguiria fazer muitos amigos, era como um atestado de modernidade e carioquice. Insisti muito para mamãe comprar, mas o meu aniversário já tinha passado e o orçamento era apertado… Passei semanas sonhando cor de rosa até que um dia passeando com a madrinha Cilá revelei o sonho e dias depois se tornou realidade. Naquele verão fui a mais feliz garota da Tijuca. Jamais esqueci este sentimento… Hoje, quando estava fechando a compra de uma sandália em uma loja Arezzo em Porto Seguro, olhei na prateleira e uma sapatilha rosa sorria pra mim, da mesma maneira quando o vi a primeira vez na vitrine da Sloper. Meu coração bateu acelerado. O tom rosa mais forte, amadurecido como eu, porém o mesmo encantamento… Uma Cinderela mais vivida, experiente com um coração de adolescente… Cheguei a conjecturar que poderia ser juvenil demais, nem ser adequada ao meu estilo atual e talvez nenhuma roupa combinasse… Mas era o último par, só tinha esta cor e do meu número exato…. Alguém tem dúvida que eu comprei? Que se dane o resto eu vou ser feliz…
Sloper – eu achava que era o que tinha de mais elegante na Tijuca. Era uma loja de departamentos nos moldes da Mesbla e dos grandes magazines franceses do final do século XIX que vendia roupas, sapatos, bijuterias, maquiagem, perfumes… um luxo!
Seus sapatinhos de Cinderela, combinam com tudo. São irreverentes e sobem escadas para sarus e festas, são bonitos, combinam com roupa despojada, alegre, roupa de receber amigos e descalça-las e as deixar descansar ao lado do sofá. Combinam com viagens rápidas a Porto Seguro e ao nada seguro Rio de Janeiro. São descoladas e combinam com você cuja elegância se mescla com felicidade e coragem. Beijos e bons passeios sapatinho de cristal……..
Adorei lea!use sua sapatilha mesmo que nao combine com qq roupa ,ela com toda ,certeza combina com ser feliz!!
Sloper… Me lembro bem!
O sapatinho é lindo, mas mais bonita é a sua felicidade. 💜
Uma crônica deliciosa de ler….que me remeteu à momentos especiais da minha vida. Pensei que muitas vezes precisamos de pouco para ter momentos imensamente felizes. Que essas sapatilhas te levem por lugares maravilhosos…. bjus
Que lindo, Léa! Adoro suas ms, porque tambén adoro as minhas, que são muitas! Curta as suas sapatilhas com essa alegria e sensibilidade que vc tem para as coisas que realmente importam!
Quem nunca sonhou com sapatilhas de Cinderela. Adoro seus posts