Nem lembro há quantos anos ouvi o Moacyr Deriquem* comentar diante da morte de algum famoso que esperássemos pois na sequencia seria anunciada a morte de outro… “Ninguém vai sozinho” dizia ele, desde então fiquei atenta aos sinais, sempre que vai um espero para ver quem vai junto…
Com todo respeito e admiração que me merecem, sem querer apressar a partida, mas diante a idade e problemas de saúde, Rubem e Suassuna eram previsíveis… Ubaldo foi um susto, estava com 73 anos, ainda tinha muitas letras pela frente…
Hoje depois de um post que coloquei no facebook sobre a partida de Suassuna, Rubem e Ubaldo na mesma semana uma amiga comentou “será que eles armaram essa?” Não sei se tinham esta capacidade, mas como estou neste pensamento reflito que se é assim mesmo que a vida acontece quem será que vai comigo ? Não quero antecipar a ida de ninguém, nem fazer previsões ou escolhas, mas seguindo este raciocínio deve seguir comigo algum jornalista. Não sei se é pedir muito, mas seria bom se fosse alguém com quem dividi espaço em alguma redação, tanto faz se foi em jornal ou revista, também vale quem trabalhou em assessoria de imprensa, pois teríamos assuntos em comum… Lembraríamos de boas pautas, projetos complicados para conseguir espaço na mídia e outros tantos que foram mais prazerosos…
Também poder ser alguém daqui da Bahia, que conheça as belezuras de Vila de Santo André, entenda de canto de passarinho, de tipo de árvore de mato, de maré alta e maré baixa, e que juntos possamos lembrar as delícias deste paraíso na terra… Outra opção é uma costureira, bordadeira, crocheteira ou tricoteira, não precisa nem ser grande estilista, uma pessoa mais doméstica com quem poderia no caminho falar sobre pontos de cruz, dicas de arremate no tricôt ou uma nova laçada no crochê… Agradeceria também se me ensinasse um melhor acabamento de costura para as colchas de retalhos, isto pode servir num aprendizado de grande utilidade se me for permitido levar para outra encarnação. Também seria bem vindo algum artista em mosaicos, com quem lembraria quantos azulejos quebrei e as “artes” que deixei em casa…
Quem sabe vai comigo alguma carola, destas que cantam todos os hinos na missa e poderíamos seguir puxando o terço, seria uma caminhada temática e chegaríamos no clima… E dentro deste segmento, podem ir comigo também estudantes de “Um Curso em Milagres”, praticantes de Reiki, todos os chegados a qualquer modalidade de meditação e buscantes em entender a vida… Claro que não teríamos entendido tudo sobre a vida mas passaríamos juntos a falar sobre a morte… Mas se puder mesmo fazer uma escolha, quero viver por um bom tempo e não me deixe seguir com qualquer pessoa da família pois velório duplo é demais…
*Moacyr Deriquem (1927-2001) foi ator de teatro, cinema e TV e também diretor de novelas. Iniciou a carreira artística em 1949, no Teatro do Estudante, aos 23 anos, contrariando a vontade dos pais. Foi um dos príncipes do Teatrinho Trol e galã no programa “Neide no País das Maravilhas”, programas extinta TV Tupi. Ele atuou também em chanchadas de sucesso produzidas pela Atlântida, como “Vamos com calma” e “Colégio de brotos”, ambas dirigidas por Carlos Manga e lançadas em 1956. Nesta última, Deriquem trabalhou ao lado de Oscarito. A fita foi recorde de bilheteria. Nas décadas de 1970 e 1980, participou de várias novelas da Rede Globo, entre elas “Casarão” e “Cambalacho”.