Chico 80 anos

Lendo nos jornais as homenagens aos 80 anos do Chico Buarque na próxima 4ª feira, lembrei de um encontro que tive com ele que, se não tivesse testemunhas, ficaria calada. Em 1967 eu fazia o curso pré-vestibular na rua México, centro do Rio de Janeiro, e entre os colegas havia o tímido Léo. O cursinho preparava para diversas áreas, eu fazia para psicologia, mas haviam aulas compartilhadas com alunos de economia e administração, a turma do Léo. Eu morava na Tijuca, assim como Ângela, a minha melhor amiga, com quem diariamente ia de ônibus para as aulas. Certo dia Léo convidou 10 amigos para seu jantar de aniversário e lá fui com Ângela para o endereço que era a Galeria Menescal em Copacabana. O apartamento ocupava toda a extensão da cobertura, da N.Sa. de Copacabana à Barata Ribeiro. Eu já tinha ido a casas elegantes, mas nada se comparava àquela. Sofisticada e conservadora, havia obras de artes em todas as paredes que eu reconhecia pela assinatura dos artistas que tinha lido em livros ou visto em museus.

Foi só então que soubemos da família do Léo. Era filho do Leão Gondim de Oliveira e de dona Lili (Amélia Whittaker Gondim de Oliveira), o pai diretor dos Diários Associados e a mãe presidente da revista O Cruzeiro, que fazia parte do mesmo grupo. Os Diários Associados foram criados por Assis Chateaubriand e se tornou o maior conglomerado de mídia da história da imprensa no Brasil, tendo no seu auge cerca de 100 empresas. Era a Rede Globo de hoje, com emissoras de rádio, TV, jornais e revistas em todo o país. O impacto do ambiente não tirou o jeito descontraído dos jovens e depois do jantar, um strogonoff como mandava o cardápio da época, fomos levados à uma sala e como sobremesa a grande surpresa: um tímido Chico Buarque sentado na sala, com o violão ao colo esperando a turma para tocar e cantar as canções que já faziam sucesso… Ele já era famoso e não sei qual a lembrança que os outros amigos guardam, mas eu fiquei encantada em ver um ídolo tão de perto. Fez um show acústico particular, e nós fizemos coro com as músicas do seu primeiro LP, lançado no ano anterior… Nos esbaldamos com “Quem Te Viu, Quem Te Vê”, “A Banda”, “Noite dos Mascarados”, “A Rita”, “Madalena foi pro Mar”, “Você não Ouviu”, “Juca”, “Olê Olá”, “Meu Refrão”. 

Uma noite para nunca esquecer… Ninguém tinha máquina fotográfica, eu não imaginava ser jornalista e o registro na memória é impecável. Anos depois entrevistei Chico Buarque algumas vezes e não toquei neste assunto, mas jamais esqueci o privilégio de ter feito parte de uma plateia tão seleta. Dos amigos do cursinho testemunhas deste encontro, ficou o Roberto Abramson, a Ângela se casou com o Gonzaguinha, partiu há alguns anos, e os outros perdi o contato. Assisti a muitos shows do Chico, nenhum igual a este. Nunca mais soube do Léo, mas onde estiver agradeço imensamente o privilégio e espero que seu caminho tenha sido tão feliz como é o meu. Quanto ao Chico, desejo cada vez inspiração para continuar nos deliciando com a sua arte. 

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