Acordei pensando em escolhas. Nada tão profundo como a que coube à Sofia ao optar entre a morte do filho ou da filha em um campo de concentração, mas na de pares, grupos, amigos… Quando criança, brincava de roda e tinha uma canção que dizia “escolho a …… para ser meu par” . Com a amiga escolhida ia-se para o meio da roda onde se ficava requebrando e se exibindo por alguns minutos, enquanto todas as outras crianças rodavam olhando a cena… Eu ficava muito constrangida quando chegava a minha vez de tirar apenas uma amiga para dançar no meio da roda, seria mais justo se todos saíssem requebrando como em uma escola de samba, assim não estaria deixando alguém de lado…E da roda às festinhas na adolescência a escolha continuava, só que desta vez era mais dramático : alguém me tirava para dançar. Tinha a opção de recusar a dança, mas jamais consegui tomar esta atitude, morria de dó do pobre rapaz… E lá ia eu pelo salão dançando com quem me convidasse, mas raramente surgiam estranhos. Fazíamos parte do mesmo grupo, gostávamos das mesmas coisas, tínhamos o mesmo comportamento e educação…
Naquele tempo ainda não sabia que eu seria o reflexo do meu grupo e esta seria a mais desafiadora experiência… Os grupos que escolhi fazer parte ou me escolheram, como a família de onde vim, as crianças com quem brinquei, os rapazes que me tiraram para dançar, as garotas com quem troquei confidencias na adolescência, os amigos da escola, os parceiros profissionais, os amores e casamentos todos foram espelho dos momentos que vivi. A estrutura do núcleo familiar me deu os princípios básicos de educação, moral, ética e segurança para escolher minhas tribos. Amei nas semelhanças que me via no outro e na mesma proporção odiei a fragilidade do outro que era também a minha e que eu não queria enxergar. Sou os lugares por onde passei e as pessoas com quem andei. Sou um caleidoscópio de tudo isso, caquinhos coloridos que refletidos no espelho se multiplicam em dezenas de formas. Às segundas-feiras quando me vejo sentada à mesa da varanda com Cláudia, Flávia, Luciana e Suely, o pequeno grupo de estudo e meditação, fico feliz em constatar que aonde eu for sempre vou encontrar pessoas com a mesma essência… Acho até que o universo já conhece o meu estilo, visto os bons pares da minha vida…
Que alma linda vc tem…
Quanto mais leio, mais gosto!