A vila onde moro tem tão poucos habitantes que nascer e morrer é assunto coletivo. Quando cheguei há pouco mais de 6 anos ouvi o comentário que demorava alguém morrer por la. Nascer era mais facil. As meninas se tornam moças e como no Xote do Gonzagão “ela só quer, só pensa em namorar”, e logo na seqüência, geralmente, vem um filho.
Mas este ano deu pra muita gente morrer em Vila de Santo Andre. A Josefina em janeiro, mais uma senhorinha em julho, depois o Gago, a mulher do Celso, “seu” Capador nosso curador e hoje a mulher do Railton. E nesse vai e vem de comentários nos velórios a declaração surpreendente do Vitório. “Vou mudar daqui pois não quero que a morte me pegue”.
Vitório tem idade indefinida. Provavelmente bem mais que 60. Negro e forte, rosto expressivo e vincado, cortava madeira na roça e vendia para fazer cercas. Mas o Ibama proibiu este tipo de poda que ingenuamente ele acreditava serem “árvores de mato” mas que eram da preservada Mata Atlantica. Com isso começou a fazer vassouras da piaçava que retira também da roça e faz uma porção de bicos. Recentemente cortou com machado a árvore que caiu no meu quintal. As vezes toma uns tragos a mais, e vem tagarelando sozinho pelas ruas e vielas.
E com esse jeitão e perfil esta se preparando para mudar de vila, fugir da morte, como se ela não estivesse na espreita estes anos todos vestida de boa vida.
Ah! Vitório, se isso fosse possível eu ate ia junto com você. Mas a morte não se escolhe, não se foge nem se espera. Ela chega na hora certa. Ate lá o melhor é pensar que somos imortais. Léa Penteado Enviado do meu Blackberry
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Comentários
Luciene Setta em O REI E EU Paloma Piragibe em Inspirações e referências Analu Neves em Que mulher é essa ? Angela Ghizi Guimarã… em Que mulher é essa ? Marilia Barbosa Nune… em Que mulher é essa ?
Léa querida, espero que Esta Senhora não me encontre tão cedo.
Beijos.
Bom saber que você está viva!
Léa, como é inspirador o que você escreve. Uma maneira tão poética e humana…É uma delícia compartilhar seus textos, ideias, emoções. E, que a dona Morte, fique bem distante da gente.
Saudações gaudérias
Vera