Tim Maia



Esta semana fiquei sensibilizada ao assistir no Arquivo N na Globo News um trecho em que o Tim Maia dizia “meu negocio é cantar, pois quando eu paro de cantar eu faço besteira, eu brigo com a Léa Penteado…” http://globonews.globo.com/Jornalismo/GN/0,,MUL1629594-17665-303,00.html. Luciana Savaget que pesquisou e editou o programa (repete sábado 16:05 e domingo 21:00) me contou que em várias gravações que assistiu ele falava muitas vezes em mim, e em uma delas, muito doidão, disse: “sei que a Léa vai me matar, mas eu vou falar” e esculhambou a organização do show. Esses poucos segundos no ar foram importantes para o momento de reflexão que estou passando, revendo por onde andei e o que valeu a pena.

Quando comecei como repórter na revista Amiga (Bloch Editores) tinha que “cobrir” programas de TV ao vivo em busca de pauta. Em uma 4ª. feira na Discoteca do Chacrinha conheci Tim Maia  (19421998). Ele tinha voltado recentemente dos Estados Unidos e falou alguma coisa que não me recordo mas que renderia uma boa entrevista. Marcou o encontro para o dia seguinte no Solar da Fossa, onde morava. O Solar da Fossa (1964 a 1971) ficava onde hoje é o Shopping Rio Sul, em Botafogo e foi uma antiga fazenda no século 18 transformada em um  conjunto de apartamentos com aluguéis baixos onde morou uma legião de talentos como Caetano, Leminski, Gil, Paulo Diniz, Paulo Coelho (no momento que conhecia Raulzito), Ítala Nandi, Cláudio Marzo, e muitos outros… Cheguei 1 da tarde, na hora marcada, Tim abriu a porta com cara de sono, pediu desculpas pela noitada inesperada e me convidou para sentar na sala. Quando voltou de rosto lavado, antes de começarmos a conversar, bateu na porta um rapaz e entregou um pacote embrulhado em papel pardo amarrado com barbante do tamanho de meio quilo de café. Tim abriu o pacote, provou a mercadoria e me ofereceu. Revoltada dei um ataque e saí xingando. Ele veio atrás, entrei no carro de reportagem fui embora e nunca mais quis saber de Tim Maia. Isto aconteceu em 1969. A reportagem seria sobre o dueto que iria gravar com Elis Regina da sua composição “These Are The Songs” no disco da cantora. Foi por conta deste sucesso que recebeu o convite para um LP, “Tim Maia” (1970), que arrasou com “Primavera” (de Cassiano) e “Azul da Cor do Mar” (de Tim).

Em 1986 como assessora de imprensa do Canecão, os produtores da casa (Walter Lacet, Aloysio Legey e Jerson Alvim) informaram que o Tim ia fazer uma temporada de 4 dias. Apesar da fama de anunciar e não aparecer, desta vez estava tudo tão amarrado que ele não tinha como fugir. Abstraí o fato acontecido há quase 20 anos e telefonei para ele para combinar entrevistas e convidados para a estréia. Ele me tratou com o maior carinho, foi atencioso e cumpriu o acertado. Na passagem de som no dia da estréia quando gravou para o jornalismo da TV Globo, falou varias vezes o meu nome. À noite fiquei até envergonhada. Parecia que o show era dedicado à mim tantas as citações. Esta lua de mel durou 3 dias. No domingo no fim da tarde quando cheguei ao Canecão veio a bomba: o show foi cancelado. A justificativa do empresário: motivo de força maior. Entre o público que voltaria para casa desapontado estavam alguns jornalistas e na 3ª.feira era noticia nos principais jornais. Nesta tarde eu estava trabalhando quando o telefone tocou e era Tim Maia gritando os maiores impropérios. Instintivamente liguei a secretária eletrônica onde os palavrões e ameaça de morte que me fazia foram registrados. Culpava-me pela repercussão na imprensa e estava possesso com a jornalista Deborah Dumar do jornal O Globo que havia publicado “mentiras”, segundo ele, com a minha influencia. Bom, não contente em me telefonar, ligou para O Globo, repetiu o mesmo discurso e ameaças para a Deborah que levou o caso à direção do jornal que por sua vez acionou o Secretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, Dr. Nilo Batista e a confusão estava armada. Tim Maia recebeu um aviso para ficar longe de nós, mas dois dias depois telefonou me pedindo em casamento! Ele falava sério e eu não podia crer. De tudo isso ficou a amizade e por mais incoerente que possa parecer, um enorme respeito. Nos encontramos diversas vezes, em muitos shows e seu swing era incomparável. Tim não marcou apenas a música brasileira com sua voz potente, mas a vida de muita gente, como a minha.

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7 Respostas para “Tim Maia

  1. Oi Léa, eu vi o documentário sobre o Tim.
    Sua vida foi e, é muito rica em amizades.Parabéns.

  2. Fantástico!! De onde ele estiver deve estar achando graça disso tudo….

  3. Lea, nem precisei ver o documentario. Sua cronica foi um programa de TV escrito de forma tao clara e simples. Comoveu-me seu carinho por ele. Nao poderia contar com menos de voce. Beijo.

  4. Léa, história maravilhosa! O Tim parecia repeitá-la e ter medo das “suas broncas”. Ele era uma figura, um personagem realmente. Seu talento é incontestável.

  5. Lea, voce como sempre com usas historias tao boas….me embalam estes seus momentos passados….grande Tim dos nossos coraçoes…parece que estou ouvindo a voz dele…Quando o inverno chegar….vale tudo so nao vale dançar homem com homem e nem mulher com mulher, mas o resto vale…

    beijos em seu coração! Parabens pela historia!!!!!!!

  6. Luciano Senna / Artplan

    Olá Lea, por algum tipo de obra do destino cai em seu blog sobre o Tim Maia. Junto com o seu belissimo texto sobre o Tim me veio a grande saudade de ter tido a sorte de ter desfrutado de sua convivenia na
    Artplan. Em nome daquela Artplan, de nos almoços no bandeijão, de nossas conversas – um grande beijo.
    Saudades – Luciano

  7. Amei o que li,como Tim Maia não há de nascer outro.

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