Apesar de nos conhecermos há muitos anos, nunca conversamos. Ela era pra mim a juíza com cara de garota que tem uma casa na vila onde passa as férias e os feriados. Nos cumprimentavamos a distancia, temos muitos amigos em comum, mas ontem a noite acabamos na mesma mesa em torno de uma pizza comentando sobre a vida. A passagem do tempo, as marcas e as experiências de cada um, os resultados dos aprendizados e quem chegamos a ser agora. Histórias de mesa de bar com baixo teor alcoólico, e ela contou que aos 17 anos saiu de sua casa no interior e foi morar num pensionato de freiras em Sao Paulo levando uma mala, um colchonete e a aprovação para a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Morou 7 anos no pensionato e como a sua família estava distante muitos kms, ali ficava mesmo nos fins de semana. Com isso , conhecia todas as moradoras, entre elas uma senhora pobre que por caridade das freiras ocupava um quarto no subsolo. Como não tinha família por perto, a futura advogada interiorana e a velhinha abandonada ficaram amigas. Um dia a velhinha morreu. Sabendo da amizade com a estudante a freira pede para que ela ajude abrir o quartinho. A surpresa foi descobrir que moravam com a velhinha mais de 200 passarinhos que saíram em revoada com a porta aberta. Reclusa e solitária a velhinha tinha amigos livres. Entravam e saiam do seu quarto por pequenas frestas. Sabe la quais fantasias criava com as noticias que os pequenos traziam todos os dias. A estudante e a freira sentaram no chão e choraram. Pela vida da velha, por suas próprias vidas também sem poder voar. Acho que foi ai que a jovem decidiu que voaria mais alto e aos 25 anos ja era juíza federal.
PS: Esta foto fiz sobrevoando de helicóptero Vila de Santo Andre. É um pedaço do rio Joao de Tiba e eu me senti passarinho voando.
Enviado do meu BlackBerry® da TIM
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Comentários
Anita Gouveia em O professor de português marilia barbosa em Rock’n roll na veia lpenteado em Em memória do Segundo Caderno… Raimundo Nonato dos… em Em memória do Segundo Caderno… Silvio Atanes em Em memória do Segundo Caderno…
Belo texto, uma viagem, um filme. A cada dia mais madura como narradora dos momentos tocantes da vida. Um prazer ler suas linhas. Beijo, feliz Pascoa.
Que a Pascoa, seja constante em sua vida!
Todo dia corro p/ ler seus ” escritos”, belos, infinitamente belos.
Com o carinho maior da
Wilma
Nossa Lea… emocionante!
deve ter sido incrivel o momento que elas abriram a porta!
fico tentando imaginar….
um beijo enorme!
quel
textro, foto, história…que história real.
beijos.
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