A viagem ao som do oboé

Escuto canções no oboé que meu hospede, um belo músico das Minas Gerais, executa no jardim. Deitada na rede olho as copas das árvores e ao som deste instrumento tão sofisticado me delicio com um repertório do Chico Buarque que é um luxo. No suave movimento dos galhos das árvores em contraste com o azul do céu, as vezes sou banhada por réstias de sol, os cachorros dormem aos pés da rede, uma folha cai no colo e agradeço uma vez mais estes simples prazeres da vida. Sim, tenho uma vida muito simples, talvez por isso tão rica em imagens, sons, pensamentos e percepções.

Faz alguns anos que li (ou vi?) algo sobre uma terapia que usa o recontar a vida como ferramenta para superar traumas. Recontar no sentido de escrever, contar de novo prá si mesmo, reconstruir a própria biografia. Creio que são profissionais na linha da antroposofia que desenvolvem este sistema, e venho escrevendo a minha historia sem nenhuma base científica, apenas como forma de autoconhecimento.
Por isso gostei tanto do vídeo que circula pela internet e assisti esta semana. A atriz Jane Fonda, num speach de pouco mais de 10 minutos numa conferencia produzida pela empresa de seu marido Ted Turner, se mostra lúcida, reflexiva e conclui a existência do que chama de “3º ato”, uma fase nova para os que passam dos 60, pois comprovadamente viveremos 34 anos a mais do que as nossas bisavós. Do seu ponto de vista, Jane que vem de uma família declaradamente depressiva, rever a trajetória e perdoar os erros são elementos para reformatar as células, um processo neurológico que em uma análise rudimentar comparo a liberar espaço no hard disk.
Gosto muito desta linha de raciocínio de liberação de culpa, não foi a toa que me identifiquei tanto com os estudos de Um Curso em Milagres. Já tem muitos anos, talvez mais de 20, que ouvi o Dr.Lair Ribeiro num curso dizer para algumas pessoas que reclamavam sobre os maus tratos no passado: “não importa o que seus pais fizeram com você. Eles fizeram o que melhor sabiam. Importa o que você fez do que eles lhe fizeram.”

Apesar de ter passado alguns anos em divãs e poltronas de analista, o tempo tem me ensinado que, vistos a distancia, problemas, medos e desafios se tornam pequenos. Acredito que todos os dramas antigos se percebidos com mais complacência e doçura, podem ser motivos para grandes gargalhadas, ou senão um risinho de confiança de quem superou uma etapa. Perceber que estou no 3º ato, sem queixas do passado, nem culpas ou arrependimentos, com esta qualidade de vida só posso me manter no caminho de buscar ser uma pessoa cada vez melhor. Não para os outros, mas prá mim mesma…

 

 

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2 Respostas para “A viagem ao som do oboé

  1. Noto que o tempo lhe trouxe ainda mais sabedoria. Sabe desobstruir os caminhos para a plenitude. Ventos baianos na face trazem energia para os atos que surgem meio sem alarde. Seguindo voce.

  2. Ola Léa!

    acabo de ler sobre sua vida em N York há 30 anos, no tmepo em que iniciei uma nova rota em m vida too, o casamento, os sonhos, os filhos..depois a realidade sem oculos cor de rosa.
    Jung fala que se o aluno esta pronto o mestre aparece esse com certeza será para mim, um ano de renovação, a começar descobrir pelos olhos de dois amigos queridos a vila de Santo André!
    e Voce e Olimpia, suas fotos estão no meu FB para com licença sua ilustrar meu sonho.
    abraços.
    Cristie

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