Aconteceu de ser a primeira a entrar no avião e ao ver aquele tapete vermelho impecável com cheiro de limpo, poltronas distribuídas esteticamente, o ar condicionado perfeito, tudo excessivamente clean, percebi que este era um mundo bem mais próximo do que vivi, do que a rua de terra com muitos buracos, terrenos cobertos de mato, casinhas simples, da vila onde hoje moro. Mundos muito diferentes. Sempre quando viajo tenho a sensação de que basta rodar um fictício “dial” em meu cérebro para me conectar com a realidade aonde vou me inserir… Mas desta vez me perguntei a qual mundo pertenço…
Posso focar na beleza da praia que a cada dia me oferece um mar e um céu diferente, nuvens com desenhos de carneirinho, montanhas e rabiscos. Posso abrir meus ouvidos para o canto dos pássaros, às cigarras do verão, me deliciar com a lua cheia clareando o jardim e o vento fresco deste invernico. Mas é impossível não ver que além da cerca do quintal está em uma vila muito simples, sem saneamento básico, muitos a falar e pouco para conversar. Às vezes temo estar muito metida nas minhas sandálias havaianas e nos largos vestidos, perdendo o jeito para o sapato de salto e o tailleur… Nem sempre eu sei em qual mundo quero estar e nem sei se um dia saberei.
Um prazer enorme no cotidiano tranquilo, no tempo para ler, meditar, escrever, inventar, caminhar ou apenar apreciar o que está em torno. Uma grande duvida do até quando, e se prá sempre não é muito tempo. E cada vez que penso em retornar a uma grande cidade, surge um inesperado que me empurra para estar ali. Tem sido assim há 8 anos, desde quando cheguei para um semestre sabático e fiquei… Por enquanto o que me resta fazer é tirar a areia da rodinha da mala, passar batom e fazer cara de civilização. São Paulo, aqui estou eu !