Uma sensação de abandono, nada acontece. Rua deserta, restaurantes e algumas pousadas fechadas, de vez em quando um turista desavisado faz poeira com seu carro na estrada de terra e segue viagem para outro povoado.
Dias de chuva, muita chuva. Crianças passam a caminho da escola. Homens e mulheres que trabalham na ponta da praia passam com seus carrinhos de mão levando bebidas e gelo no isopor para atender aos turistas que descem das chalanas/escunas e por pouco mais de 1 hora se banham nas águas onde se encontram rio e mar. Este movimento se repete 6 dias na semana, num lindo local que como toda a vila sobrevive há anos do descaso das autoridades públicas.
“A vila está à venda?”, pergunta o jornalista ao bater na minha porta. A convite do grande resort, em má hora ele veio para fazer uma reportagem do “pouco conhecido paraíso no sul da Bahia”. Assim a mídia quase sempre se refere à vila. Conto boas histórias ao jornalista, justifico que esta é uma semana atípica e para não partir sem matéria, peço ao Rogério que o coloque em um passeio no veleiro do Carlindo. E lá vai o jornalista embora feliz com o que viu e a vila do ponto de vista do mar até que é bem linda e merece ser visitada. Menos mal.
E quase desanimada de tanto falar com um e com outro o que fazer para a vila ter uma vida normal como qualquer destino turístico, num dia de setembro chega a notícia que aos 45 minutos do segundo tempo o resort vizinho à minha casa entrou no Book da FIFA. Foi aí que aprendi que o book é um tipo de bíblia em que a entidade organizadora da Copa do Mundo distribui entre as seleções para que escolham aonde querem ficar concentradas. O controle de qualidade aprovou o Mabu Costa Brasilis, só faltava o local para o centro de treinamento, um campo de futebol com características bem específicas, mas isto seria mais fácil com tantas áreas preservadas nas proximidades… E foi assim que surgiu a lenda “os alemães estão chegando”.
Um condomínio numa área de mais de 12 mil m2 que caminhava em passos de cágado, entrou em velocidade máxima e ganhou a placa CAMPO BAHIA no portão pintado de verde. “Os alemães estão chegando” corria de boca em boca na pequena vila com menos de 800 habitantes…Caminhões com material de construção em profusão quase causam engarrafamento na pequena rua de terra. “São os alemães chegando”… E lá vem pela rua de terra outro caminhão jogando barro e a máquina barulhenta tentando nivelar o que não dá prá ser nivelado. Os poucos limpadores de rua retiram o lixo, jogam prá debaixo do “tapete” a sujeira, tudo ‘prá alemão ver’… E em um dia em setembro com a presença das autoridades da prefeitura que esqueceram desta vila durante tantos anos, cercados por segurança e imprensa local, chega a comitiva alemã. Examinam a obra do condomínio onde pode ser a concentração dos jogadores, as instalações do resort para hospedar dirigentes, familiares e afins, visitam alguns lugares para construir o centro de treinamento e partem no mesmo dia deixando no ar a pergunta “os alemães vêm?”
E assim se passaram 2 meses. A bolsa de apostas estava aberta. Grupos contra, outros a favor e uma tarde me peguei no portão de casa vendo o movimento dos caminhões levantando poeira, refletindo que se os alemães escolhessem mesmo Santo André para concentração seria como que uma produção de um Rock in Rio com duração de 45 dias. E eles escolheram Santo André. Ainda bem que já vivi isso e sei que como tudo na vida, isto também passará.
Sera q teremos a visita do ”progresso” .Sera’ que isto e’ bom
jurandias
Querida Lea.
Sou a favor de boas Escolas, Postos de Saude, Saneamento etc…
Mas quanto ao chamado “Progresso” tomara que tão cedo não.
Me perdoe, mas ele pode acabar com a magia da Vila de Santo André.
Temos o exemplo de Arraial D’Ajuda, Trancoso e outros.
Bjs
Eva Pimentel.
Cara Léa, com certeza já vistes como ficam as margens de um rio (no Brasil) após uma enchente. Pois é, espero que não, mas tem que sim !!…
,,, temo que sim !!…
Sera que eles vão ficar aqui mesmo ta rolando o comentário que não mas
Precisamos, unir as lideranças do povoado para refletir sobre isso, tentar entender o que isso vai alterar nas nossas vidas, e isso com uma certa urgência.!
Miriam Silva
Moradora, Santo André -SCC-Ba
*”O teu futuro é duvidoso,
eu vejo grana,
eu vejo dor,
no paraíso perigoso,
que a palma da tua mão mostrou…”
A incógnita, quase certeza, de um tempo muito curto de “Vila”.
Sabe Deus…
*(Beth Balanço, Cazuza)
Vi a balsa particular pra os alemães. Inacreditavel.