Não faz muito tempo uma amiga querida atirou-se do alto de um edifício. Programou muito bem. Sozinha, sem filhos, teve um baque financeiro e não conseguiu pedir socorro. Deixou cartas com desculpas, não aguentou viver assim. Há dois dias uma amiga tomou todos os remédios que tinha em casa. Como era apenas uma ameaça e não a certeza de partida, avisou à alguém que pediu ajuda à vizinha e foi salva. Tenho acompanhado mulheres que ao virar a faixa dos 60 anos sem opção para o futuro entram em depressão… Percebo algumas alcoólatras perdendo a auto estima, deteriorando fisicamente, se abandonando, tomando atitudes que colocam em risco a integridade física…
Confesso que tenho medo de tudo isso. Este não saber o que vem pela frente não deveria assustar pois desde que nascemos o processo é esse. Ninguém recebeu manual de instrução, é o desafio da descoberta a cada dia. Mas todos querem permanecer no que consideram “os áureos tempos” e nem aproveitam o que acontece aqui e agora…Pode não ser o que nossa memória seletiva considere o melhor, mas é o que temos pra hoje e tem seu lado divertido. Descobri que não preciso mais me preocupar com a celulite, depois de uma certa idade ela até desaparece, as prioridades são outras… A pressão tem que estar bacana, olhar para o colesterol. Comer muitas fibras e o intestino tem que funcionar todo dia… Uma amiga telefonou contando que a perna ficou mais fina depois de um mês engessada por conta de uma fratura… Ainda bem que pode andar sem bengala, pois concurso de mais belas pernas não vamos mais participar…
Tenho uma lista de coisas para fazer nos próximos 20 anos. São tantas e tão legais que as vezes me dou ao luxo de nem começar para não acabar logo… É como o recheio do bolo, deixar para o final, curtir mais um pouco…. Um amigo terminou de gravar um disco no ano passado. Temos a mesma idade, ele fez o que sempre sonhou, do jeito que queria, com todo o tempo e recursos disponíveis… E fez lindo! Olhar o passado de nada vale, quero ver é olhar prá frente e projetar novos caminhos… Na minha lista enorme de futuro tenho hoje uma prioridade: o lixo. Outro dia postei a foto de um local de triagem de resíduos sólidos (plásticos, vidros, papelão…) e perguntei aos amigos o que estavam fazendo com o lixo de suas casas. Não é que um deles teve a cara de pau de dizer que não tinha isso em sua casa ?
Vivemos cercados por embalagens e não somos também responsáveis pela forma como serão descartadas? Esta é uma boa e longa conversa que jamais imaginei a esta altura da vida estar envolvida de forma tão integral…Tenho lido a respeito, conversado com quem conhece, penso em projetos… O meu lixinho, posso cuidar bem, fazer compostagem no quintal, levar as embalagens para um descarte consciente, mas o meu foco é ampliar esta ação na vila onde moro, quem sabe estender aos povoados vizinhos, à cidade… Desculpem queridas deprimidas e alcoólatras, sinto muito por esta escolha mas estou muito ocupada para desistir da vida.
Que bom, Leleca, que bom…
Tão bonito de se ler como de viver. Confesso que não me tornei alcoólatra por medo, mas andei deprimida por uns tempos. É complicado estar sozinha dos afetos mais próximos, vê-los desaparecer ou permanecer na lembrança que é doce e amarga e da a sensação de “para sempre sempre acaba” mesmo lendo muito, buscando muito, tentando e meditando sobre a impermanência. Mas ler você, olhar o dia que surge, a lua que preenche o céu nas noites deste inverno carioca , saber da sua vila e de tantas vilas e vidas que surgem e seguem, botar menos pressão , menos cobrança no dia a dia e dar de cara com postagens como essa fazem o medo e a depressão se recolherem dando espaço a uma lucidez que teima em surgir. Por tudo obrigada Léa.
sempre bom ler suas cronicas tao verdadeiras,aprecio como vc leva a vida numa visao de amor e esperancas!!!!bjs querida,
muitas bencaos e que vc continue sempre ocupada!!!!
Amei o texto, também tenho muitos planos pro futuro, mas trabalho isso todos os dias …Também estou muito ocupada vivendo e sendo feliz do jeito que dá! Beijos azuisss
Lindo texto! Olhar pra frente, sempre…
Lea… Muito legal ler isso no dia meu niver de 62 anos. Passados 2 anos sabáticos, depois da tristeza de uma grande perda, estou reinventando a minha vida, aprendendo a sonhar meus próprios sonhos e procurando viabilizar meus planos de vida. E também enfrentando a famosa ‘síndrome do ninho vazio’ (essa parte é complicada… não gosto de viver sozinha, mesmo sabendo ficar só). Mas como li outro dia… sou uma “hopeaholic” . Beijossss
Que delicia ler seu texto!
Excelente posicionamento, estimulante maneira de pensar, ser e mostrar. Eu escolhi rir com o corpo todo, com o coração e toda alegria que posso buscar dentro de mim. Está dando muito certo até agora, aos 64. Beijos!
Ô beleza!