Andando no mercado por alguns segundos pensei ter visto um amigo que já morreu. Eu estava entres as gôndolas de frutas e a seção de queijos e não acreditei no que acabara de ver… Quando peguei o carrinho e me virei ele não estava mais… Saí pelos corredores com a lista de compras na mão e os olhos em busca do homem para confirmar o quanto era parecido mas o perdi… O que me chamou atenção era ser um homem mais velho e eu não vi o meu amigo na idade madura, pois morreu com menos de 50 anos sem cabelos grisalhos ou rugas.
Esta visão ou alucinação credito ao fato de estar acompanhando a distância o tempo passar na vida dos meus amigos… Saí do Rio há 11 anos e às vezes me pego no facebook olhando fotos e vendo como estão envelhecendo aqueles com quem convivi na juventude e maturidade… Alguns estão com cabelos grisalhos, outros pintados, mais gordos e magros, uns mantêm as marcas do tempo, outros optaram pelo bisturi, mas estão lá na essência da amizade e por nenhuma ruga a mais ou um grisalho a menos eu queria que partissem sem vivermos juntos este momento… Estamos no mesmo barco…
Gosto da minha idade, gosto do que vivi e como na voz de Piaf “no je ne regrette rien”. Como disse um amigo, arrepender é ter vergonha do que se fez, e como aprendi a não carregar culpa, também não tenho arrependimento… Mas devo confessar do fundo do meu coração é que não gosto ter perdido a aparência dos 35 anos… Vou ser mais generosa com o calendário e permitir que ter o jeito dos 40 me deixaria muito feliz… O que incomoda é o ar de senhora que adquiri sem ter feito o menor esforço para isso… Quando vi estava comigo e mesmo que eu corte o cabelo com a máquina 2, carregue no gel para arrepiar, pendure um brinco de pena na orelha, emagreça 10 quilos, vou ser apenas uma coroa estilosa, ou excêntrica..
Tenho pensando que a faixa dos 60 é a adolescência da velhice… É um estar fora do jeito, maduros a mais e velhos a menos… E não tem um manual de instrução para viver esta experiência… Um dia de cada vez… E com isso às vezes me rebelo, outras me aceito… Alguns momentos o espelho é gentil com a jovem senhora que ali se apresenta, em outras é profundamente cruel e me faz sentir ridícula… Tenho o consolo de que isto não é privilégio meu e quero estar próxima, mesmo a distância, acompanhando através das fotos na internet, nos posts-curtidas e comentários com todos que passaram um dia em minha vida …
e passarei da bike para a ‘motinha’
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Adorei a reflexão.
Minha frase predileta: “Tenho pensando que a faixa dos 60 é a adolescência da velhice…” Genial!
Vc é linda!!!