Mundinho digital

Conversando com um amigo me lembrei que tive o privilégio de, em alguns momentos, estar com pessoas especialíssimas, como num jantar na casa do Presidente Juscelino Kubitscheck em que ao servirem o café e o licor, na maior intimidade, ele tirou os sapatos e, com jeitão mineiro, como se estivesse em Diamantina, ficou só de meia cantando “Peixe Vivo” acompanhado do violão de Dilermando Reis. Ou em uma noite em Nova York na saída do Carlyle quando consegui trocar uma meia dúzia de palavras com Woody Allen e pedir um autógrafo. E o olhar encantado do Maestro Zubin Mehta ao avistar o cenário da enseada de Botafogo em dia ensolarado onde faria um concerto com a Orquestra Filarmônica de Israel. Mas lamentavelmente não tenho registro desses encontros. Era um tempo sem selfies e se fosse hoje certamente eu fotografaria as meias do presidente, o cineasta americano assinando no papel ou tocando clarinete… Até havia celular no evento do maestro indiano, mas sem câmera…

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Fotografei todos os terceiros dias de cada mês do primeiro ano de vida do meu filho. Se fosse hoje estaria com uma página no face, espaço no Instagram, mostrando cada espirro ! Fico pasma com as tantas imagens que antes eu ainda gravava em cds, dvds, e hoje estão em arquivos nas nuvens, dezenas de pastas digitais… É só dar uma “googada” em imagens de Vila de Santo André que qualquer pessoa tem à disposição dezenas de fotos que eu fiz… Ainda não sei muito bem o que fazer com tudo isso, conviver com este “mundinho digital” que me parece muito etéreo… Gosto de mexer nas caixas de fotos, folhear álbuns antigos, como fazíamos em casa nos dias de chuva. Era uma grande diversão! Hoje guardo em caixas de isopor para proteger da umidade no sul da Bahia e me espanto ao encontrar algumas fotos sem qualquer significado, mas morro de pena de jogar fora. Não tomam espaço, são poucas entre centenas e por alguma razão foram parar ali. Acho que estou em tempo de imprimir umas fotos, fazer novos álbuns, ter algo para tatear, ver com os dedos daqui uns 20 anos…

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Apesar do apego ao impresso, tenho fascínio pela tecnologia. Gosto sempre de lembrar que tive o primeiro escritório de assessoria de imprensa no Rio com computador, mailings segmentados e por isso foi notícia na página de informática no jornal O Globo. Ao mesmo tempo que adoro aplicativos inteligentes – encontrei um que emite um sinal que afasta mosquitos! – uma parte de mim quer manter o papel e o lápis, o porta retratos antigo, as colagens em quadros, a foto 3 X 4 na carteira.  Assisti outro dia a uma reportagem mostrando que em uma escola nos Estados Unidos as crianças estão sendo alfabetizadas diretamente no tablet, sem acesso a papel ou lápis. Aprendem a digitar como no passado fazíamos em aulas de datilografia. Pensei se vão saber desenhar na areia, mesmo que apenas um sol ou um coração. E nessa viagem me lembro que o homem levou algumas centenas de anos tentando deixar suas informações em desenhos nas pedras, depois escritas nos papiros, evoluindo até chegar a prensa que veio democratizar a sua história na forma de livros… E agora, em menos de meio século, a brincadeira é outra…. Nunca foi tão rápido, nem posso imaginar o que ainda vem à frente, mas estou dentro. Anotando tudo e imprimindo fotos…

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Uma resposta para “Mundinho digital

  1. Você minha “guia turística virtual”, a cada postagem, uma viagem! Obrigada!

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