
A música me leva longe. Cenários, aromas, sabores, amores, momentos, tudo volta e me transporto. Assim como os amigos distantes que num reencontro parece que o tempo não passou, a música exerce esse efeito em mim. Esta semana chegou na caixa postal um cd do João Caetano, presente precioso, e nem precisei chegar em casa para ouvir. Esperando a balsa abri o pacotinho e lá foi o cd engolido pelo som do carro e eu engolida por uma saudade imensa do João, dos nossos anos 80 no Rio, e de ouvir nova boa música. A minha trilha sonora não tem novidade há muito tempo. Fico revisitando os cds digitalizados, fazendo playlists em aplicativos, que falta me fazia descobrir novas letras e sons numa voz que me preenche de boas memórias.
João além de belo compositor, interprete é um talentoso profissional que sempre atua com alguma forma de arte, mesmo quando dá um tempo para a música. Seja na moda quando teve as lindas lojas Fórum no Rio, seja no Arquivo Contemporâneo seu projeto atual. A sonoridade sempre serpenteando, desde os tempos da faculdade de medicina, por que ele também é médico… E aí aparece neste final de ano transbordando poesia num cd que não pode ser mais biográfico, a começar pelo título, apenas JOÃO, com sua assinatura…
Ah João você está tocando direto no cd player do meu coração desde que atravessei a balsa com as janelas fechadas e aumentei o som pois minha alma precisava do seu delicioso cantar. Repito : que falta faz ouvir novas músicas. Músicas com cheiro de terra, memória rural de Goiás, sua raiz, a começar com “João”, mais autobiográfica impossível; músicas apaixonadas, românticas, delicadas como “A Voz do Coração” e “Te Amo”, as homenagens ao Rio de Janeiro em “Cem por Cento Carioca”, e para um seleto grupo de inspiradores que já partiram como Baden, Vinicius, Candeia, Braguinha, Lamartine, Donga, Lupiscinio em “Lugar Sagrado”, e ao design Sergio Rodrigues em “Almas Gêmeas”. São 14 maravilhas, músicas que falam no meu coração, num tempo em que havia delicadeza, respeito, amizade. Um registro forte de uma época feliz. E ao ouvir “Porta Retrato”, descobri que mesmo vasculhando minha caixa de fotografias não tenho uma com você. Ainda está em tempo. Precisamos nos ver, no Rio ou na Bahia, pois o tempo passa como na letra de “Flor do Cerrado” “lembra do tempo / veloz ou lento / passando assim por nós / então me diga / que vão da vida / quis nos deixar tão sós? ”