Regenerar

Às 5 da manhã ao olhar o celular me surpreendi com as tantas mensagens de amigos querendo saber como estou… Sei que as notícias do sul da Bahia são aterrorizantes. Acompanho os fatos, chove desde o início de dezembro, as ruas da Vila de Santo André são uma coletânea de poças, o rio Acuba que estava seco há anos voltou a ter água, assim como um dos seus pequenos afluentes que servia de depósito de folhas de coqueiro e dendê subiu o degrau da varanda da casa de uma amiga. As notícias exibidas não são do meu sul da Bahia…  Por enquanto tudo bem por aqui. Santa Cruz Cabrália está com muita sorte, é isso que mais se escuta na rua.

Aproveito a estiagem, vou à Cabrália. Na balsa encontro Maria Nilza, feliz pelo rumo que sua vida está tomando, virou uma marca e contou que cada vez precisa ter menos. “A chave de uma casa, um cartão de crédito e uma mochila, é só isso que preciso pra ser feliz…Menos é mais”. Fico refletindo a sabedoria desta mulher e quem não conhece a trajetória sugiro a leitura rápida do perfil que escrevi há algum tempo para uma revista da região e republico abaixo.  

Depois dos 60 anos há muito mais para se ver de forma divertida… Relembrando Elis Regina em uma de suas últimas entrevistas “hoje a única coisa que me tira sono é febre de criança”…. Como não tenho criança, transfiro a preocupação para os cães, hoje doentes, razão para a travessia de balsa em busca dos remédios… Passo no correio para ver o que tem na caixa postal e encontro um livro, muito adequado a estes tempos que, como profetiza um amigo, “o sertão vai virar mar”.

O livro “A Arte de Guardar o Sol” de Walter Steenbock, fala sobre os padrões da natureza na reconexão entre florestas, cultivos e gentes. Como escreveu a querida Carla Mott Ancona em um bilhetinho que acompanhou o presente “é para lembrar que sempre estaremos interconectados. Que possamos seguir compartilhando nossos sonhos na eterna busca de novos horizontes para a regeneração da Mãe Terra”… Exatamente o que estamos precisando, regenerar as vidas, inclusive as nossas… E é por aí que andam meus pensamentos nestes últimos dias 2021, um ano difícil, mas com belos encontros e ensinamentos… Quero fazer menos barulho, ser mais brisa do que tempestade.. E que a leveza em 2022 nos acompanhe contrabalançando as previsões mais tenebrosas…

MARIA NILZA

Por Léa Penteado.

O aroma do feijão cozinhando no fogão a lenha da casa da avó ainda acompanha Maria Nilza. Não é à toa que o restaurante que tem há 16 anos na praia do Guaiú tem seu nome acrescido de “no fogão a lenha”, a sua marca registrada.  Se engana quem pensa que ela cresceu na cozinha. Fugiu o mais que pode do fogão. Morou em São Paulo e descobriu a maravilha de uma grande capital. Foram 12 anos entre idas e vindas para Vitoria da Conquista onde a família se instalou. Retornou para conduzir com a irmã um hotel e foi um choque cultural. Mas encarou o desafio que lhe deu a experiência de recepcionar clientes. O trabalho era muito, mas compensava financeiramente. A convite de amigos que tinham uma fazenda em Porto Seguro conheceu o litoral e quando viu o mar foi amor à primeira vista.  Durante um bom tempo se dividiu entre as duas cidades e tudo mudou quando foi convidada para cuidar do receptivo do restaurante A Fronteira, o maior na Passarela do Álcool. Apaixonada pela região, num dia de folga foi expandir seus limites e no caminho para Belmonte pegou uma carona que parou no Guaiú. E foi ali que conta ter sentido uma energia diferente que vinha no cheiro de terra molhada e provocou um estado de êxtase. Agradeceu a carona e ficou no local mesmo sem saber como voltaria para Porto Seguro. Ali começou a história de vida e amor que uniu seu nome ao povoado onde construiu sua marca. Alugou uma casinha para onde fugia nos dias de folgas, depois começou a fazer compotas com frutas da região e pensando mais longe, ao perceber que havia apenas um restaurante que nem sempre estava aberto, resolveu fazer o seu. Alugou uma casa maior, fez um puxadinho para o restaurante com duas mesas e um balcão. A experiência na cozinha era pouca, mas o feijão no fogão a lenha, o arroz soltinho, um frango à milanesa empanado com queijo ralado, farofa de cenoura e um molho de tomate com petit pois encantou o primeiro cliente, um vendedor de motores para barcos que passava pela região e foi embora falando maravilhas. Mandou muitos clientes, assim como amigos de Porto Seguro que na base da boca a boca foram promovendo os seus sabores até estourar em 1996 numa reportagem na revista Veja sobre o litoral brasileiro e referenciada como a “pérola baiana”.  O restaurante pé na areia, num lindo visual da praia do Guaiú, aberto de 3ª a domingo das 10 da manhã às 16hs, é referência nos guias de turismo, recebe visitantes de todo o mundo e os recepciona com o imenso sorriso e simpatia. Todos os detalhes da decoração, como o banheiro que é uma atração à parte, são pensados por ela. A equipe é formada por moradores do Guaiú e na cozinha ainda tem o fogão a lenha. No cardápio não pode faltar a carne de sol e o arroz de polvo, a resistência desde que tudo começou. 

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Uma resposta para “Regenerar

  1. LEA….QUANTO TEMPOOOO…QUE 2022 SEJA UM ANO PRODUTIVO DE AMOR EM PAZ….BEIJOSSSS….

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