Léa e João

Quando a moça do cartório com um papel na mão se dirigiu a mim e perguntou Léa e João, soou estranho. Saí do cartório com a cópia da certidão de casamento com a averbação da separação consensual necessária para a 2ª via do RG, pensando que se fôssemos apenas Léa e João poderíamos estar casados até hoje. Mas não tinha como ser assim, a começar pela forma como nos conhecemos. Em 1976 eu estava morando em São Paulo e o vi entrar de braços dados com uma atriz no teatro onde haveria a entrega do prêmio APCA. Não sei por que falei para Maria Helena Dutra, a jornalista amiga que estava ao meu lado: vou casar com ele. Naquela noite não cheguei perto, voltei para casa pensando no ímpeto das palavras que fugiram pela boca sem imaginar o poder que teriam. Nunca tinha ouvido a sua voz, só sabia que era um diretor de novelas. Alguns meses depois, no dia 23 de outubro, morando de volta no Rio de Janeiro, fui convidada com outros tantos jornalistas e artistas para assistir a um show da Angela Maria com Cauby Peixoto, e ele fazia parte do grupo. Fomos apresentados rapidamente e fez um comentário que achei muito pretencioso. Saí do show e fui com amigos para o “706”, no Leblon, o piano bar da moda, onde logo depois ele chegou. Bastou um olhar, o convite “quer dançar” e tudo começou ao som de “Poxa”, um dos mais belos sambas da época. Namoramos bastante, alguns anos depois nos casamos apaixonadamente, mas na verdade, nunca fomos apenas nossos prenomes. Tínhamos história, cargos, funções, responsabilidades, num mundo de aparências e pouca essência. Eu era Léa Penteado, ele Régis Cardoso, primeiro nome, João. Por mais tentativas que fizéssemos para nos manter juntos, pois a química e a paixão era intensa, sempre aparecia algum impedimento. Ciúmes de um lado, tentações do outro e, mesmo quando depois de separados, tentamos reconstruir o amor, não deu mais match. E de tudo o que ficou, além das boas memórias, um documento me acompanhará aonde ali somos Léa e João.

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