Para quem vive em uma capital e não conhece o outro lado do rio João de Tiba, em Santa Cruz Cabrália, é difícil explicar. As fotos que coloco mostram a natureza exuberante. Isto é real. Mas tão exuberante como a natureza são as pessoas que moram por aqui. Os nativos são sábios e generosos ao ensinar como sobreviver neste mundo rural tropical. Os estrangeiros – argentinos, alemães, italianos, franceses, americanos, suíços… – em pouco tempo se adaptam ao clima baiano e convivem harmoniosamente. Continua a verdadeira miscigenação das raças que encantou os portugueses. E como brasileira fico encantada com tamanha diversidade.
Conheço as pessoas na balsa, ou num restaurante, no mercado, andando na praia… Tudo muito informal. Diante do tamanho do horizonte onde o olhar perde de vista com tanto mar, as relações fluem descontraidamente. Impossível ser formal usando sandálias havaianas? Não se vive como em um edifício numa grande cidade onde mal se conhece o vizinho da porta ao lado.
Para quem vive do outro lado do rio, a balsa é praticamente uma sala de visitas. Moradores de Santo André, Santo Antonio, Guaiu, Mogiquiçaba e Belmonte são tão “commuters” de balsa como eram os meus companheiros no trem que sai da Grand Central e faz a ligação de New York a Larchmont, na área de Westchester onde eu morava. No horário de “rush” os 15 minutos de travessia não são suficientes para falar com tanta gente. E é ali que se sabe de tudo: do entra e sai de liminares do prefeito que foi cassado e da briga com sua vice que nos intervalos assume o posto, da chegada de novos moradores, da baixa temporada dos turistas, de casamentos – separações e traições, confusões em família, má qualidade de ensino, festas e aniversários, por aí vai…
Foi numa travessia que conheci uma moça com um jeito ex-urbano aculturando-se a região. Nos encontramos outras vezes em pleno rio e a semana passada ela telefonou convidando para almoçar na sua casa. Nestas curtas conversas soube que era gaúcha, viera dos Estados Unidos onde morou 20 anos, o marido é um fotógrafo americano e moram em Mogiquiçaba um pequeno povoado há 25km de Vila de Santo André, no município vizinho de Belmonte, com kms e kms de praias semi virgens e algumas fazendas a beira mar.
Com mais 3 amigas – uma mineira, uma libanesa e a outra portuguesa – e depois de 25km de estrada, mais 2 km numa estradinha de terra e areia no meio de coqueiros, nenhum vizinho, apenas terras separadas por cercas feitas de estacas de madeira e arame farpado, chegamos a casa. A minha melhor fantasia jamais chegaria perto do que era a casa. Uma miragem ! Num estilo “Americano-mexicano” – se é que isto existe? – a casa é muito especial… E a arte dos seus moradores ainda muito mais…
Que dádiva ser surpreendida a cada dia não apenas com os pássaros, paisagens e a natureza que tenho a minha volta, mas por pessoas que conheci numa travessia de balsa. É o que dá estar disponível para a vida !
Leleca,
Conforme ia lendo,ia pensando como uma Capricórnio como eu (que sou séria,sisuda,carrancuda e grave…rsrsrs) tem na alma essa disponibilidade alegre ,às vezes prática, esse olhar de 360 graus para o mundo e – principalmente – para as pessoas à sua voltal. Já tinha começado a pensar nisso no meu casamento. Foi sozinha, de repente já estava falando com um, falando com outro, indo lá embaixo resolver aquele “perrengue”, resolvia e em cinco minutos depois estava de volta, linda com seu novo cabelo, já parecendo conhecer todo mundo. Tudo que há no mundo lhe interessa. E eu, bicho do mato que sou , olho deslumbrada os seus lindos voos de borboleta.
Amiga,
Além do lindo cenário que é lugar onde moramos, o que mais fascina é isso…a cada travessia de balsa, uma surpresa nos aguarda…e sempre muito agradável.
Amiga,
Além do lindo cenário que é o lugar onde moramos, o que mais fascina é isso…a cada travessia de balsa, uma surpresa nos aguarda…e sempre muito agradável.