A simplicidade, ou melhor, a precariedade de onde eu moro é tal que hoje no café da manhã a Helenita avisou que não tinha pão francês, pois o único padeiro estava com dor de dente e não colocou a mão na massa. Pra mim não faz diferença, se não tem pão vou de brioches, como recomendou a Maria Antonieta, Rainha de França, esposa de Luiz XVI, às vésperas da Queda da Bastilha! Não é a queda da monarquia, mas estamos vivendo um clima surreal em Santa Cruz Cabrália. Em pouco menos de 20 dias, a prefeitura já teve seu representante principal trocado quatro vezes. Duas vezes assumido o prefeito cassado, Jorge Pontes (PT) e as outras duas, a prefeita Maria Ozélia. Hoje é ele que está no poder, a semana que vem pode ser ela. E só não é o assunto mais importante na balsa, por que os buracos na rua da Vila de Santo André estão horríveis.
Ontem a 3ª. aula de blog para a turma Impacto Jovem que faz uma web rádio e tv do IASA (Instituto Amigos de Santo André) dei no pátio da minha casa, pois o sinal para internet é muito melhor. Escolheram o assunto, construíram o texto, colocaram a foto, fizeram a primeira postagem sozinhos. Ficou ótimo, para conferir http://ijsantoandre.wordpress.com
E num experimento de vida que chego a considerar como outra “encadernação”, tão diferente dos universos que conheci, ganho no final de tarde uma cena preciosa. Não foi um por do sol, nem uma nova árvore florindo, nem um ninho de um pássaro exótico. Uma cena que poderia ser corriqueira se não tivesse invadido meu coração.
Eu já comentei que do outro lado da minha rua, numa casa muito simples, mora a Nalanda com sua mãe, Tiana, uma cozinheira de mão cheia. A menina está mal na escola e tem aula de reforço com a Claudia que usa um método de alfabetização com base na pedagogia Waldorf. Hoje Nalanda entrou em minha sala e ficou encantada com a antiga cristaleira onde guardo pequenos objetos recebidos de amigos, lembranças de viagens e uma coleção de caixinhas de música. Comecei esta coleção quando constatei que este era o meu sonho de criança jamais concretizado. Não fui convincente o bastante para que Papai Noel, ou meu pai ou os namorados e por fim os maridos me presenteassem com uma. No dia em que caiu a ficha entrei numa loja e comprei a caixinha delicada, feita em porcelana, com uma menina de cabelos cacheados que roda sobre um tamborete enquanto toca Pour Elise, muito semelhante comigo. Outras tantas chegaram. Ganhei de amigos e comprei mundo a fora com trilhas de I left my heart in San Francisco, Le Lac de Comme, New York, NewYork, Lago dos Cisnes …
Mostrei uma a uma à Nalanda a medida em que ia colocando para tocar. A menina olhava com o mesmo encantamento que eu teria caso tivesse uma caixinha de música na sua idade. Ficou fascinada com uma em especial, ligeiramente brega, um porta jóias com um espelho e uma bailarina rodopiando. E olhando Nalanda eu percebi que ainda tenho esse olhar alguns dias quando acordo blue e coloco todas para tocar ao mesmo tempo. Saio do chão, não estou em Santo André, nem São Paulo, ou qualquer outro lugar no mundo. Apenas flutuo nos meus sonhos…
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