Às vezes penso qual o processo que aciona a criatividade das pessoas. Aquele momento em que dá um click, cai a ficha, quando a gente diz eureka, peguei o fio da meada… Quando penso no processo criativo não incluo o tempo em que escrevia na redação onde os textos saiam quase automaticamente, pois o jornal/e ou revista tinha hora prá fechar e quando lia no dia seguinte sempre achava que ficara faltando algum detalhe… Li em algum lugar que o João Ubaldo se “obriga” a ficar frente ao computador para escrever alguma coisa todos os dias. Jorge Amado me contou que produzia suas historias teclando numa velha máquina de escrever, mas a minha curiosidade é saber até o momento de se escrever como surge o texto. Posso falar do meu processo, que se não me considerasse uma pessoa normal diria que é uma coisa de louco… Isto não me leva a procurar um analista, mas como tenho tempo para reflexão, é um tema interessante…
Começo a escrever mentalmente enquanto ando pelo jardim e vou catando ervas daninhas no meio do gramado, quando junto pedaços de tecidos para montar uma colcha de retalhos, enquanto quebro azulejos para criar efeitos decorativos em mosaicos, enquanto faço crochê assistindo TV e ontem “escrevi” este texto no meio de um banho de mar… As ondas vinham e no sobe e desce da maré pensei na alegria que é escrever por escrever, sem pressa ou cobrança, easy rider, brincando com as palavras e lembrando historias…
Os fatos vêm como se eu abrisse caixinhas que são acessadas por um componente mágico que desconheço. Quando trabalhava no jornal O Globo reencontrei um rapaz que fora continuo / mensageiro / boy ou qualquer título que se dê a quem ficava no leva e traz de pastas/arquivos/memorandos/ layouts entre a redação e departamentos na Bloch Editores, onde comecei como repórter. Foi lá que ele ganhou o apelido de Tim, por conta de uma vasta cabeleira black power no estilo Tim Maia. No Globo ele já era Tim Lopes, repórter da redação geral, cobria policia, cotidiano e o que viesse… Era sensível, sonhava escrever para o Segundo Caderno, reduto dos chamados “intelectuais” e às vezes vinha me mostrar uns textos mais elaborados dizendo que eu era sua “copy desk moral”. Tim fez belíssimas matérias, colocando poesia mesmo em situações duras como quando se fez passar por morador de rua ou trabalhador num canteiro de obras…
Por incrível coincidência no final de 1991 nos encontramos num vôo do Rio para São Paulo. Ele estava levantando informações para uma matéria e eu indo para receber o prêmio Marketing Best de Comunicação do Projeto Rock in Rio II. Era um momento importante na minha vida e estava sozinha na paulicéia… Comentei com Tim, não precisei nem pedir e na hora marcada lá estava ele de terno e gravata me esperando na entrada do local de entrega do premio onde não conhecíamos uma só pessoa… Éramos realmente estranhos no ninho e nos divertimos com isso quando saímos para comemorar com pizza e vinho..
O processo criativo é tão interessante que quando escrevi a primeira parte deste texto mentalmente não tinha Tim Lopes… Ele chegou e pediu licença para ser lembrado… E busco no Google sobre mais informações deste amigo que se foi e encontrei um site em sua homenagem com a seguinte frase:
“Hoje é Domingo, 19 de Setembro de 2010. Já se passaram 3031 dias desde que Tim Lopes partiu…