Num email curto veio a noticia da morte do França. Eu tinha visto a foto na TV, mas passou tão rápida que só prestei atenção na bonita moça loura com uma criança no colo. Pensei: uma família que parte junto. E na seqüência complementei o pensamento: uma família que parte em bloco. Seguem irmãos sobrinhos mãe amigos e ficam os outros por aqui estáticos com o inesperado de uma água que desceu mais do que se podia prever… A cada dia que passa acomoda dentro de mim a consciência da minha pequenez e inoperância em prever qualquer coisa. A água do mar sobe, a água do céu desce, as terras se movem, as pedras rolam e estamos expostos a todas as intempéries. Um sinal de transito que não abriu, um freio que falhou e vamos para os ares. O engasgo com algum alimento, uma mágoa mal digerida, a respiração estanca, a vida para. É o agora, o momento em que escrevo é certo, o próximo é uma incógnita.
Não quero viver sempre alerta com a mala pronta para partir, mas saber na hora de ir que foram ótimos os tempos por aqui… Domingo passado ao chegar à missa, encontrei o padre na porta da igreja e ao me ver queimada do sol comentou que a praia devia estar ótima e se lamentou por não tomar um banho de mar desde 2009.
“Deus castiga!”, respondi ao padre que levou um susto. Se for para seguir ao pé da letra a culpa cristã acredito que “Deus castiga” quem não usufrui a vida que tem e não usa os seus dons… Se eu ganhei o presente de viver à beira mar, todos os dias dou uma olhadinha nas ondas, um mergulho, aproveito esta dádiva. Assim como presto atenção nos passarinhos que bicam a casca do mamão depois do café da manhã, no caminho das formigas mudando de lugar no fim do dia e querendo devorar uma roseira, o céu estrelado e estalado pelo barulho das árvores no vento da noite… São essas coisinhas simples que me preenchem, alegram e me deixam pronta para o inesperado… Pois esperar mesmo, só a água ferver e passar um café para tomar deitada na rede pensando na vida…
Em tempo : na foto,em primeiro plano, Alexandre França, marido da estilista Daniela Connolly, que partiu com as águas de Itaipava. No final dos anos 90 ele era guitarrista da banda Os Anjos, formada por Bernardo (camisa clara) e que ainda contava com Marquinhos (louro) e Chimpa (as gargalhadas). A autora deste click, Adriana Pitigliani,também partiu de maneira inesperada há alguns anos… E a vida segue, aqui e agora…
Querida Lea,
Muita sabedoria em suas palavras, em sua vivência. Uma verdadeira inspiração que consegui ver “ao vivo” em sua linda Vila de Sto Andre e que persigo todos os dias.
Há dias que é essa abertura para receber todas as coisas boas que nos rodeiam é algo natural. Outros, que precisamos colocar alguns sinais em nossa vida para lembrarmos de ter esta clareza constante.
Isso mesmo clareza! É o que eu peço todos os dias em minha meditação matinal. Clareza para perceber que é importante e sorve-lo minuto a minuto. Viver o tempo, viver no tempo!
Que vc continue com sua vida iluminada!
bjs saudosos,
Claudiad
Lea,
Foi tão bom te rever através do facebook. Trabalhamos anos e anos na mesma cidade e com amigos em comum e só agora te descobri além do mercado publicitário. A vida é um presente que devemos reverenciar. O inesperado faz parte da vida, assim como a morte. O que estamos vivenciando hoje de trágico nas grandes cidades é fruto do desrespeito com a vida e sua natureza que se manifesta frágil e poderosa. É tempo de pararmos para ouvir o que ela nos grita. Apreciar e valorizar seus detalhes é entender o conceito de Deus e admirá-lo a cada dia.
Um beijo pra vc
Ei Léa,
Seu texto me deixou com vontade de lhe ver… Hoje fiquei na praia “do lado de cá”, mas como sei onde lhe achar, qq hora passo por lá.
um beijo!