Na recepção da clínica de exames, apenas mulheres das mais diversas idades e classes sociais. Louras, morenas, gordas, magras, umas bem tratadas outras que se esqueceram com o tempo, dividem seus pensamentos com a conversa de Ana Maria Braga sobre TOC na enorme TV presa a parede. Devem estar refletindo como eu sobre o estado de suas mamas, seu útero e hormônios. Olhares se cruzam, fico estudando os pés. Uma sandália preta Crock calçada com meias de lã da mesma cor, uma sapatilha sem meias, um par de tênis para corrida, um par de botas elegantes… Ao procurar a dona das botas encontro um rosto idoso e por puro preconceito achei que ia achar um bem mais jovem. Um olho na tv outro no painel que vai dando o número da senha recebida na porta. A mulher de sandália Crock cochila ao meu lado, ressona… A magrinha que lê Mario Vargas Losa não saiu ainda da primeira página, enquanto a jovem de cabelo crespo e colete de crochê ja está indo embora.
No painel a senha 304. É minha vez. Carteira de identidade, cartão do plano de saúde e pedido do médico. A recepcionista nem olha prá mim, apenas entrega um questionário de histórico de câncer de mama. Nada a declarar. Volto para a TV e agora a Ana Maria dá uma receita de bem casado. Estou em jejum… Não demora e uma atendente me chama, como na escola, “Léa Ceres Viana Penteado”. E fui dar a veia para tirar sangue e encher vidrinhos, despir a parte debaixo da roupa para o papanicolau, ultrasonografia de útero e depois a parte de cima para a mamografia.
“Segura a mama direita… isso… agora fica com os pés prá frente, a orelha encosta deste lado, o rostinho aqui e o queixinho para cima. Segura bem a mama, encolhe a barriga e quando eu avisar você não respira”… Com o peito imprensado entre duas placas o “não respirar” já seria normal… A máquina gelada, a sala fria e a tensão óbvia do check up anual.
“Pronto, agora do outro lado….” e depois de frente, em vários ângulos nas posições mais ridículas… Só quem já fez sabe o que é uma mamografia… Por mais que seja doloroso e incômodo, a atendente é gentil e só fala no diminutivo. “Queixinho, pezinho, rostinho, orelhinha..” e por aí vai… Tudo no tempo certo, nem um minuto de atraso… Saio e vejo outras mulheres na recepção. Acabou a Ana Maria, agora é um programa sobre saúde, bem de acordo com o local… O resultado das mamas, hormônios e afins só na semana que vem… E você ja fez o seu exame anual ?
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Comentários
Luciene Setta em O REI E EU Paloma Piragibe em Inspirações e referências Analu Neves em Que mulher é essa ? Angela Ghizi Guimarã… em Que mulher é essa ? Marilia Barbosa Nune… em Que mulher é essa ?
Muito boa crônica! Tomara que quando eu começar a fazer os meus exames de próstata, o meu médico também só use palavras no diminutivo, como: vou colocar o meu dedinho rapidinho…
Tenho lido seu blog.
Uma antiga amiga, D.Aglaé, me falava muito bem de vc.
Ela dizia tb:”Gilda, escreve seu livro que eu faço a revisão. Ela tb era uma mulher muito inteligente, de bom senso, discreta, toda especial.
Lendo seus textos, me lembro dela tb.
Grande abraço.
Gilda Velloso
Muito boa crônica. Mulheres…A mesma rotina para todas. Mas,quantas nesse Brasil imenso ainda não têm acesso a esses exames?
Abraço
Maria José
Descrição perfeita do suplício anual. Por que será que ainda não inventaram uma maneira mais civilizada de fazer mamografia?
Lea, muito obrigada pelo alerta. Lendo sua crônica me lembrei que precisava fazer meu preventivo e mamografia. Na sala de espera voltei a lembrar da cena descrita. Seu texto se materializou. Aquelas pessoas estavam ali e eu era vc. Que engraçado! Passada uma semana, hoje peguei os resultados. Que alívio! Estou ok. A vida é preciosa. Quero comemorar meu próximo aniversário em Santo André da Bahia. Bjs. Marcia Brito
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