As bruxas

Na noite do haloween éramos cinco mulheres em volta de uma mesa: uma psicanalista, uma artista plástica, uma dona de casa, uma jornalista e fechando com chave de ouro uma argentina misto de taróloga, numeróloga e outras adivinhações. Bebíamos vinho, comíamos pizza e falávamos sobre os elementos que compõe o mundo mágico das bruxas quando nos detivemos na figura da aranha que com paciência e determinação constrói a sua teia.

Quem ensinou a aranha a tecer com arte fios de seda tão finos?

Adoro compor pedaços, juntar caquinhos, emendar tecidos, misturar linhas e cores no crochê, e me encantei pela teia que transita por este mesmo pensamento. Tenho algo em comum com a aranha, teço para a sobrevivência. A aranha retira seus fios de glândulas que estão na sua barriga e até nisso nos parecemos: somos viscerais. Ela constrói mínimos espaços soltos no ar entre um fio e outro sem métrica. Tece em silencio, sem platéia e palpite de vizinhos. Faço o mesmo enquanto trabalho manualmente e meu pensamento voa.

Ela tece sua trama em locais de pouco movimento e quando a obra esta pronta, mesmo se algum fio for rompido o entorno se mantém firme deixando em perfeito equilíbrio o que foi tecido. Nada desestrutura a quase escultura delicada. Olhando a teia sem o medo do veneno da aranha ou o sentimento do cenário de um local abandonado, vejo como rendas preciosas. Sutis como as relações humanas que precisam de cuidado para os fios não se romperem. Pensei sobre tudo isso antes de dormir lembrando a mensagem postada no Facebook por um amigo que não vejo há muitos anos e que por razões que já não importam mais deixei de falar.

“Acordei pensando que a nossa vida á tão curta que devemos curtir todos que estão em nosso caminho. Quantas pessoas que víamos e conversávamos todos os dias e que hoje nem mais nos falamos? Quantos amigos e amigas que nem mais sabemos onde andam e o que fazem? Esta manhã senti falta de tanta gente. De alguns nem lembro mais o motivo pelo qual deixamos de nos falar. Só doeu foi a falta que essas pessoas me fazem. E quanto tempo ainda estaremos por aqui? Depois vamos embora e aí sim jamais as veremos de novo. Pelo menos não neste Plano. As vezes uma tolice nos separa e isso não é correto. Proponho uma grande trégua. Um armistício eterno. Se com alguém eu fui injusto, se a alguém eu insultei, peço que me perdoe. Só tenha uma certeza. Sinto sua falta e sua boa conversa.”

Vivi mais do que tenho a viver e estou aprendendo que quando a borda da teia é tecida com firmeza as amizades que por ali passaram jamais se perderão. Mesmo que o tempo passe, mesmo que haja a distância geográfica, o sentimento dos bons momentos ficará junto com as velhas fotos.

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