Saí do quarto, olhei a janelinha da escada e a cena era incrível. Uma linha escura em movimento, com mais de um dedo de largura, saía da janelinha percorrendo a parede lateral de madeira, passava pela coleção de imagens de São Francisco no aparador da escada, atravessava o degrau no alto e entrava pela porta da varanda. Era um movimento rápido. Apesar de sinuoso era continuo. Ordenadamente as formigas seguiam com seus filhotes para outro lugar. Interrompi a trajetória passando o dedo na madeira, mas as formigas não voltaram atrás, buscaram um caminho alternativo paralelo.
Aprendi nesta vida semi rural no sul da Bahia a ver coisas jamais imaginadas, e até apreciar o movimento das formigas no quintal. Mas nunca passaram por dentro de casa. Sentei na escada olhando as formigas e pensando nas mudanças da vida que não foram poucas. Acho que como elas eu não voltei atrás, busquei outras saídas. Há muito tempo fiz o levantamento de quantas casas morei num período de 23 anos e concluí que tinha passado por 27 endereços incluindo uma mudança nacional e outra internacional. Na época em que se tinha agenda de telefones os amigos reclamavam que o meu nome estava sempre riscado com tantos números que tive. E ia eu formiga com meu formiguinho embaixo do braço procurando um lugar melhor. Por mais incoerente que possa parecer, essas tantas mudanças me fizeram mais solida e consciente de minhas capacidades.
No final de ano quando todos fazem pensamentos para um novo tempo, como se o simples mudar da data na folhinha pudesse como num passe de mágica transformar a vida, eu desejo, profundamente, a todos os meus amigos que, como as formiguinhas que apareceram esta manhã em minha casa, continuem buscando um lugar melhor onde possam criar novos sonhos até uma próxima caminhada…
seremos eternos aprendizes. formigando. beijos.