Os hospedes partiram, a casa voltou ao movimento normal e o ano começou com a lua cheia. Quem mora perto do mar sabe que na lua cheia a maré atinge o seu limite máximo, na baixa e na cheia, e a paisagem muda completamente. Hoje na aula de hidroginástica, com a maré bem baixa e ainda com o rio na vazante, fazíamos um grande esforço para não sermos carregados pelas águas. De repente num pulo ao voltar estava em um local mais fundo e perdi o pé. Engoli um pouco d água e depois de me equilibrar fiquei pensando que a vida é assim, quando se sai do chão nunca mais se volta para o mesmo lugar. Basta muito pouco para nos transformarmos. Às vezes uma palavra, uma paisagem diferente, um sabor novo e somos outra pessoa… Um livro que abre perspectivas, uma dificuldade que exige um esforço maior, ou até mesmo a beleza da simplicidade da lua cheia nascendo no mar, nunca mais seremos os mesmos… Enquanto escrevo alguma coisa está processando dentro de mim. Refletir mesmo que seja sobre fatos do cotidiano, me fazem uma pessoa em eterno movimento…
Outro dia, num exercício na hidro, tínhamos que caminhar no fundo sem tocar os pés no chão e por alguns momentos me senti literalmente sob as águas. Uma delicia ao me imaginar com pernas enormes como um artista de circo em suas pernas de pau… Como eu gostaria de ter feito isso… Comentei com o pessoal na aula e todos me incentivaram a aprender… Mas não tenho mais tempo nesta “encadernação”, ou melhor, falta preparo físico… Mas enquanto eu me exercito na água não só meu corpo se transforma, como a minha mente viaja e nunca mais serei como acordei esta manhã…