- Foto : Cláudia Schembri
Num verão a alguns anos estava eu sentada à sombra da amendoeira e muito próxima estava uma mulher, um pouco mais velha, com um caderno de desenho e uma caixa de lápis de cor. Retratava lindamente a paisagem e este foi o ponto para começarmos a conversar. Era a sua primeira vez em Vila Santo André. Contou que tinha um escritório de engenharia e viera atrás da filha que se apaixonara por um nativo analfabeto. Um rapaz lindo, com um corpo escultural, praticamente um deus de ébano. A filha, psicóloga casada, chegando aos 30 anos, sem filhos, alguns meses antes entrou em crise. Decidiu refletir sobre a relação a distancia, sozinha, durante uma semana à beira mar. Caiu de amores pelo artesão nativo. Voltou prá casa, terminou o casamento, pagou altas contas de telefone e retornou para continuar o tórrido romance no verão. Alugou uma casinha junto ao campo de futebol – o lugar não pode ser mais rústico – e veio ser feliz. A mãe, discretamente, veio dar suporte a filha. Inteligentemente se instalou na mais charmosa pousada e ficou esperando o andar da carruagem. Logo na virada do ano mãe e filha voltaram para a cidade de origem, romance vivido e com tempo de validade…
Lembrei-me deste fato conversando com uma amiga, também psicóloga, que tem casa aqui. Por que as mulheres – e também os homens – se enveredam por uns amores loucos que sabem que dificilmente vão chegar a algum lugar? Agora, enquanto escrevo, veio à memória uma querida amiga jornalista, Marisa Raja Gabaglia, autora do livro “Amor Bandido” (1982) contando a sua paixão pelo cirurgião plástico Hosmany Ramos, http://pt.wikipedia.org/wiki/Hosmany_Ramos dublê de ladrão. Relembrei Darlene Gloria, linda atriz, primeiro nu do cinema nacional, que se encantou pelo policial Mariel Mariscot, de um mundo tão diferente com quem viveu uma incrível relação.
Estes dois exemplos tão próximos, me remetem ao assunto de ontem, onde chorei até lavar a alma. A necessidade de ser amada, não tem limite para receber o doador. Vale o analfabeto, também o marginal, o intelectual sem comprometimento, o infinitamente mais jovem, ou seja, qualquer um que chegue ao momento em que o que mais se necessita é um abraço e um afeto… Nem sempre é uma questão de sexo, mas uma relação gentil, e quando se pensa que pessoas de mundo tão diferentes não tem o que conversar, a vida surpreende revelando novos assuntos… Pois quando se ama, do jeito que for, deixa de ser dois, passa a ser um e tudo se mistura…
Léa, querida. simplesmente MARAVILHOSO esse texto!
…”A necessidade de ser amada, não tem limite para receber o doador”!Essa frase é na alma!
Que delicia esse texto. Do tipo que acolhe… Adorei.