Ainda me lembro do primeiro impacto do pé batendo no chão. Depois o desequilíbrio ao ficar trocando de um pé para o outro, e finalmente a alegria de encontrar o ritmo pulando com os dois pés sincopadamente. Os braços estendidos com as mãos segurando a pequena base de plástico embrulhada nos dedos, passavam sobre a cabeça, voltavam até os pés e finalmente me redescobri pulando corda na cozinha. Uma bobagem num fim de dia de chuva. O pátio estava molhado e resolvi ver se ainda sabia usar com agilidade. No 3º pulo, olhando para o espelho do antigo armário, me senti dona da situação. Ao mesmo tempo que ridícula. Foi como se em todos estes anos jamais tivesse deixado de pular corda um dia sequer, e a vontade foi sair pelo jardim, pela rua, como se voando com passos largos e asas de braços abertos. Não sabia se ria ou se continuava concentrada prá ver até onde o corpo aguentava. Esqueci do tempo, esqueci da idade. Continuei pulando com os pés juntos e contando 11, 12, 13…E pulava comigo a menina de tranças amarradas com fita, vestido rodado e avental da escola. Pulei a infância e as lembranças mais delicadas que tenho desta minha menina.
O coração bateu mais forte e vi refletida no espelho a minha imagem com o rosto vermelho. As pernas estavam bambas, a testa pingando de suor. Eu estava tão feliz que esse excesso de exercício não poderia me causar qualquer mal. Foi tão grande o impacto, físico e emocional , que fui me acalmar embaixo do chuveiro. Hoje as omoplatas e os joelhos estão doloridos. Mais do que pensar no que vai acontecer com a Carminha, Nina e Tufão da novela das 9, mais do que acompanhar a CPI do Mensalão, eu penso em quando posso voltar à pular corda. Talvez fosse importante continuar, mesmo que poucos pulos, só prá não perder o ritmo. Mas enquanto isso vou pulando as teclas me imaginando estar nas cordas. Amanhã eu volto.
Olá Lea,
Que linda surpresa encontrar seu blog em meio aos achados do google. Gostaria muito de lhe escrever um email, vc possui algum email de contato?