Estava tomando café com meu mais novo amigo Christophe Jean, um francês que mora em Itacaré, falávamos sobre a opção de morar em um lugar paradisíaco e muitas vezes o erro na escolha. Ambos conhecemos muitos casos, além das nossas próprias histórias, de pessoas que deixam as grandes cidades em busca do sonho de uma casinha na praia, um local tranquilo, como a foto em um postal. E quando se constrói um sonho acredita-se que nada há mais a nossa volta, só mesmo os nossos desejos de ouvir o barulho das ondas do mar, o canto dos passarinhos, ver o por do sol, apreciar a natureza exuberante e é tudo paz… Não imaginam que ao redor possam ter vizinhos ouvindo “arroxa” no mais alto volume, um eco chato reclamando da árvore cheia de cupim que você teve que cortar, que uma área próxima pode ser vendida para um grande empreendimento e isso não contando ter que aprender a conhecer e conviver com as dezenas de espécies de insetos que invadem a sua casa em diferentes épocas do ano.
Sonho só, nem mesmo no fim do mundo. Impossível estar completamente isolado vivendo apenas aquela poesia de quadro de Monet, pois se não é o homem, é a natureza a gritar e interferir no seu movimento. Definitivamente ninguém está sozinho. Os pensamentos falam alto, mesmo que não tenhamos com quem conversar. E diante disso muitos que vem em busca do paraíso, se dão conta do erro e retornam à civilização. Poucos percebem que o paraíso é muito mais uma questão interna, é a nossa própria essência.
Mas o ser humano é tão interessante que muitos sem perceber que o paraíso é interior, depois de um tempo em busca da paz em meio à natureza num local semi virgem, descobrem que o “dolce far niente” cansa e começam a se ocupar com um pequeno negócio como um restaurante, uma pousada… Para o negócio/sonho dar certo, precisa ter um mínimo de movimento. Começam a promover a localidade, os visitantes vão chegando e o que consideram paraíso se transforma em destino turístico. Vira moda num verão, surgem outras pousadas, restaurantes, comércio e com isso os problemas de infraestrutura… Quando se dão conta já estão neuróticos com a instabilidade do mercado, contas a pagar e convivendo com a baixa estação.
Enquanto o paraíso e a paz estiverem fora de nós, a vida vai ser uma constante busca em redemoinhos…
Em tempo : o meu amigo Christophe está em Itacaré há 16 anos, é webmaster do melhor site de praias do nordeste e para França vai somente visitar a família.
Lea, muito interessante!! , Mas as vezes, o paraíso täo almejado por tantos,está na capacidade de dar um sorriso, de compartilhar seu lar com alguém que te traga paz,de observar as estrelas,de andar de mäos dadas,sonhar seus sonhos, e principalmente viver o presente com toda intensidade,e buscar em nós a melhor forma de conviver com o barulho da natureza, o som dos pensamentos,enfim com o constante fluxo de emoçöes, que fazem dessa vida um verdadeiro paraíso.
Acrescentando aos seu pensamentos sempre muito humanos, o Chico Buarque acertou mais uma vez: “Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma.”
Um abraço.