Kassu

Perco e ganho todos os dias. Quando o dia nasce perco a noite, e tantas outras chegadas e partidas se repetem no cotidiano. Mas têm perdas muito mais dolorosas, vêm do inesperado, um susto num telefonema e os pés saem do chão. Estou assim voando desde ontem, revendo cenas felizes que aconteceram em minha vida num percurso de 43 anos… Tudo começou quando eu tinha 20 anos, era repórter iniciante e conheci Ivone Kassu. Ela chegava ao Rio vinda de São Paulo onde trabalhava para Benil Santos, um grande empresário artístico. Era ”divulgadora”, assim chamavam os hoje assessores de imprensa, do Chico Anysio e do Simonal. Foi em seu apartamento no Leme, onde recebia sempre muitos amigos, no dia 10 de outubro de 69, que conheci Paulo Martins, um arquiteto que trabalhava com fotografia e cinema, com quem fui viver 13 (!!!) dias depois para escândalo da família. Fomos morar no Leme, bem próximo à Kassu, e a nossa amizade foi se consolidando. Muitas noites em bares de Copacabana e Ipanema, muitas risadas e festas. Um tempo feliz do Rio de Janeiro. Um dia nos encontramos grávidas nos bastidores da TV Tupi, eu trabalhando com Flavio Cavalcanti e ela acompanhando algum artista importante. Empurramos juntas carrinho de bebê nos fins de semana na pracinha do Bairro Peixoto, em Copacabana. Nossos filhos estudaram na mesma escola por um bom período. Trocamos confidencias, duvidas e ansiedades. Nestes 43 anos a vida nos aproximou e nos afastou várias vezes. E jamais pensei que ela fosse embora assim. Ainda esperava conversar na idade mais madura, lembrar de tantas historias que vimos, ouvimos e das quais ríamos muito. Fica a saudade, a certeza de uma trajetória linda. Abriu caminho para muitos, revelou talentos. Foi mãe exemplar de André, teve milhões de amigos!   Guardo deliciosas lembranças. Como esta foto, a  ultima que fizemos…

Publicidade

8 Respostas para “Kassu

  1. Querida, são tantas as lembranças que acumulamos ao longo da vida…e que bom temos muito mais lembranças boas, de amigos queridos, que tristezas e mágoas como muitos…que Kassu siga em paz na sua trajetória e encontre o céu em festa!

  2. LELECA!!! Desde ontem, quero te dar o ABRAÇO MAIS APERTADO possível. Dimensiono sua dor. Sei de KASSU&VOCÊ. Estava, entretanto, aguardando manifestação sua, temendo invadir um possível resguardo em silêncio. Agora, já posso te garantirr: TAMUS JUNTAS, viu, minha ídala???!!!! Mesmo a mais de 3 mil km de distãncia. Assim como KASSU também para sempre estará: juntin docê.

  3. …Guardo deliciosas lembranças.

  4. Léa querida, linda homenagem! Conheci a Kassu em meados de 80 quando trabalhamos juntas no primeiro Free Jazz. Muitos anos, muita história , muita risada e muitas trapalhadas também se seguiram a este primeiro encontro…..
    Ando triste, uma tristeza serena e os dias azuis deste inverno com jeito de quase verão, a leitura de textos como este seu, tem preenchido o silêncio por ora bem-vindo. Falei com a Kassu ha umas três semanas,depois de pelo menos uns uns cinco anos de intervalo. Como é imprevisível este tempo que nos deixa perdida e nos leva na impermanência de momentos a esbarrar em uma frase em uma foto que faz brotara lembrança, uma saudade que nada mais é do que o amor e amizade que ficam. Benza Deus e os Budas, Alá ,Maomé, Jeová, Khrishna todos os Orixás por nossa natureza divina e humana que nos permite ter estes momentos muito para além do momento em si. Do tempo do espaço…. Não deu para encontrar com ela. Ficamos de nos ver logo. Deu saudade do André das conversas, mas a vida correu rápido… Lendo KASSU deu uma vontade imensa de celebrar os amigos a família vivendo, porque mais s triste que a morte é a morte antes de sê-lo, esta que deixa presa no fundo da uma gaveta os sorrisos e risadas que soltas devem continuar numa folha, numa nuvem num olhar. Carinho Léa e obrigada!

  5. Lea, querida,
    lendo o seu texto, suas experiencias de vida com quem acaba de fechar os olhos para a vida fisica, carnal…seu texto me embala…nao tive muito contato com ela, mas os poucos que tive, em todos foram contatos gentis, de trocas de abracos e beijos e boas falas…ela sempre atenciosa com quem apreciava ou aprecia o trabalho do RC! Nesta noite aih da foto, do lancamento do seu livro, ainda posso me lembrar do carinho dela comigo quando pronunciei o nome dela. Na missa da Aninha, Lala, na Urca, conversamos muito…enfim…que pessoa querida, gentil, sincera…

    O seu texto ate me acalentou, como sempre….espero que voce esteja escrevendo um livro sobre sua vida e suas historias….amo seus textos e ja te disse isto muitas vezes!

    Sera dificil pensar em voce sem a Kassu…eu as colocava sempre juntas na secao de jornalismo exemplar!!!!

    Enfim, como diz o Eduardo Lages – “nos seguimos em frente, resistindo!

    Carinhos pra voce. Sei que deve estar bem pensativa, reflexiva….

    Obrigada, sempre, pelos seus textos! Beijos!!!!!

  6. Como um colat de pérolas no qual cada pérola corresponde a um amigo assim tão próximo como ela foi de voce, a vida nos pune com perdas graduais dessas pérolas. Resta no colar a união entre as que restam e que nos dá forças para seguir.
    Sinceros sentimentos por esta pérola que se foi e a reiteração de amizade eterna.

  7. Léa, que amizade bonita a de vocês. Em poucas palavras você me levou a São Paulo depois me trouxe ao Rio de Janeiro, cheguei a sentir a brisa do e depois o cheiro gostoso das cabeças das suas crianças pequenas nos carrinhos de bebê e ouvi sons, muitos sons…Muitos acordes…Vove Léa, escreve muito bem. Você, em poucos minutos me mostrou uma vida inteira. Sei da sua dor, Não tem como não doer, mas escuta querida: as coisas irão se ajeitar. Beijão.

  8. Lindas amizades como essas são como musas inspiradoras que nos acalentam e nos motivam ao longo da vida

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s