Ele se encantou pela estrangeira pouco mais nova que chegou para um intercâmbio de 3 meses. Ficou acompanhando os movimentos da jovem de cabelos cacheados por onde andava na pequena vila. Em pouco tempo ela falava português fluentemente, ele engolia as palavras ao vê-la. Suspirava. Ela passava de bicicleta e os olhos dele corriam atrás dela. Trabalhou com mais empenho, não faltou um só dia às orações em sua igreja. Deve ter implorado a Deus por este amor. Ele sorria, ela sorria também. Mas ela sorria para todos, era este seu jeito de falar com um olhar vibrante, feliz de quem veio de terras frias e se encantou com o calor e a exuberância do verde do pouco que resta da Mata Atlântica. Sua pele clara contrastava com a das crianças morenas que a cercavam nas brincadeiras na rua. E ele gostava desta diferença. Imaginou seu corpo encostado no dela.
Em um canto da casa simples onde mora, depois que todos iam dormir, ficava dedilhando o violão até sair uma canção prá ela. Andou com caderno e lápis por todos os cantos buscando palavras para uma poesia que completasse a sua obra de amor. Cantou muitas vezes, repetiu cada acorde em seu pensamento enquanto trabalhava, estudava, orava e até dormia. Certa noite à frente de todos os amigos, num grupo em que ela também estava, tomou coragem e mostrou a canção. Ela, como sempre, sorriu. Ele insistiu uma conversa mais profunda, declarou seu amor não apenas na canção, mas com palavras diretas. Ela sorriu, agradeceu, mas preferia que continuassem apenas amigos.
Ele perambulou pelas ruas quase toda a noite lembrando da negativa, voltou prá casa arrasado. Pegou a faca da cozinha e foi rasgando o braço, vários talhos, como se cortasse o peixe para levar à assadeira. O sangue começou a escorrer e ficou olhando cada gota pingar no chão da cozinha. Não chorou. Enrolou o braço no pano de prato e foi deitar na rede com sua dor. Sangrou por fora e por dentro, amargando o primeiro amor não correspondido. Ela partiu no dia seguinte, mas as marcas no braço e a canção ficaram para sempre.
oi Léa! a cronica é tristemente linda mas, me diga: parte disso é ficção ou foi isso mesmo o que aconteceu? fiquei preocupada pois acompanhei da platéia a declaração de amor e conheço bem o menino autor da canção …me dê noticias dele…..Bjs