Todas as homenagens que tenho visto dos 100 anos de Jorge Amado não são atoa. Além da sua importância como escritor, era um homem muito especial, e tenho um pequeno testemunho. Como gerente de imprensa na Editora Record fiz o lançamento do livro “Navegação de Cabotagem” na Bienal do Livro em São Paulo, em 1992, que coincidia com a celebração dos 80 anos do escritor. O enorme stand para atender aos milhares de livros da editora foi tematizado com “Navegação de Cabotagem” o grande homenageado do ano. Vendedores com chapéu de comandante, tudo girava em torno deste que seria o grande lançamento. E fomos para São Paulo começando com uma coletiva de imprensa, algumas entrevistas para a TV – acho que ele foi ao Jô Soares ainda no SBT – e a famosa tarde de autógrafos na Bienal quando humildemente Paulo Coelho veio ao stand para ser apresentado ao escritor baiano. Ficamos hospedados no mesmo hotel nos Jardins e jamais vou esquecer seu profissionalismo. Num contrato entre a editora e uma grande livraria, teríamos que entregar 500 livros autografados para leitores que haviam efetuado a compra antecipada. Todos os dias um rapaz do hotel vinha em meu apartamento com um carrinho, pegava uma boa quantidade de livros e entregava no apartamento de Jorge e Zélia, retornando com os livros já assinados. Assim foi até assinar todos sem reclamar. E ele já tinha 80 anos! Ora, quem tem um respeito deste tamanho por seus leitores merece mesmo muitas homenagens em seus 100 anos de vida. Vivas ao Amado !
Em tempo : “Navegação de Cabotagem” são memórias do escritor e começou a ser escrito em janeiro de 1986. Na ocasião, o autor estava em Nova York, ao lado da mulher, Zélia Gattai, para participar do Congresso Internacional do Pen Club. Adoentado, sofrendo de pneumonia, não compareceu às conferências e se pôs a redigir algumas notas à medida que elas lhe acorriam à lembrança. Uma deliciosa leitura.