Aos meus queridos

Desde ontem meu pensamento está nos que partiram… Acordei cedo, busquei companhia e não encontrei. Peguei 25km de estrada até  Mogiquiçaba, um pequeno povoado na divisa de Santa Cruz Cabrália com o município de Belmonte, onde deixei o corpo do meu irmão há quase 11 anos. No trajeto desliguei o som do carro, fui ao silencio pensando naqueles que partiram, em muito do que vivemos, recobrando imagens que vão além da fotografia do porta retratos na sala, do álbum da estante, da memória no computador. Imagens com movimentos, tons da voz, risos, trejeitos, cores favoritas, sabores, perfumes… Cena que nenhum filme mostra e só se reconstrói na imaginação e nem sei até que ponto é real. O tempo pode ter suavizado matizes, reverberado sons, alterado dimensões, mas é o que ficou. Torna-se uma verdade.

Estou num tempo de mais partidas do que chegadas, de repensar caminhos. Fui revendo tudo isso enquanto me desviava de alguns buracos na estrada, assim como os tropeços da vida. Mamãe e papai estão juntos no Rio de Janeiro. Victor optou pela Bahia. Escolha não se explica, segue-se o desejo. E lembro quantas vezes passei por esta estrada com ele, com outros pensamentos e muitas gargalhadas.  Jamais imaginei um dia estar aqui, tão integrada a esta gente tanto que junto comigo levei nesta viagem um abraço no coração de outras duas pessoas queridas que também foram colocados ao lado dele…

Parei o carro à beira da estrada. Por incrível que pareça nos minutos que  fiz minhas preces e acendi as velas no pequeno e simples cemitério nenhum carro, ninguém passou por perto. Era só eu e os queridos Victor, Dudu (Edoarda Casadei) e Doró (Dorothea Copony). Se acreditamos que existe um encontro além deste mundo, eles estarão próximos. Eram amigos das conversas e da boa mesa, tinham vivido muito, escolheram ficar por aqui… E lá seus corpos foram deixados, lado a lado. Hoje um pouco de mato no entorno, algumas flores nativas, a sombra das árvores e ainda se escuta, mesmo que distante, o barulho do mar. Lembrei deles, com muito carinho, nesta sexta-feira e em tanto outros queridos… Sei que partimos sem aviso prévio e por isso só nos resta  viver melhor enquanto aqui estivermos.

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6 Respostas para “Aos meus queridos

  1. Lindo texto Léa…saudades de todos os que se foram e que de alguma maneira fizeram de mim uma pessoa melhor…saudades em especial de minha mãe (lá se vão 10 anos!) e de Clara (lá se vão 29 anos), mas uma saudade doce, sem traumas…e daqui a pouco vou subir a Sagrada Colina para acender uma vela para os santos, meus vivos e em especial, hoje, aos meus mortos..

  2. Léa, é como se eu também tivesse escrito com você. Os meus queridos são os três fundamentais, meus pais e meu único irmão amado, que partiu há dez anos. É uma orfandade de origem, um estado de ser e uma saudade absoluta. Um beijo!

  3. Lindo, Léa! 🙂 Beijos

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  4. Estamos todos no tempo das idas. Apesar da tristeza que nos causa a partida de pessoas tão amadas, esse também é um tempo de grande crescimento humano para nós, pois é quando paramos para pensar mais profundamente e nos ancorarmos no amor incondicional dentro de nós mesmos. Só o amor realmente existe nesse nosso mundo de ilusões, e temos, mais do nunca, entrarmos dentro de nós para descobri-lo, sabendo que não é fácil o trabalho de nos encarar de frente. Fica o agradecimento pelo tanto que eles nos ensinaram e todo o meu amor, que jamais deixarei de sentir por eles. Beijo grande em você.

  5. Eu vi este pequeno cemitério ao largo da estrada estreita, e lá ficaram emoções que agora revisito ao reverenciar os meus que também se foram…

  6. Belas reflexões, como sempre!

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