2012

Em Cascais (Portugal), da esquerda para a direita, Fernanda, Paulinho, eu e Gilda

Em Cascais (Portugal), da esquerda para a direita, Fernanda, Paulinho, eu e Gilda

Fazendo um balanço de 2012, concluo que tive um ano bipolar.  Enormes alegrias, profundas tristezas. algumas decepções. Com a parceria de amigos, mesmo sem um tostão, consegui fazer um lindo festival de inverno em Vila de Santo André. Meu coração precisava produzir alguma coisa e foi bom prá muita gente… Terminei uma colcha de crochê projeto que vinha se arrastando há 10 anos, comecei a escrever um novo livro e um texto para teatro. Vi uma historia que escrevi na tela grande do cinema e me emocionei. Torci pela vitoria eleitoral de uma amiga, mas não chegou lá. Meu corpo não deu defeito, em compensação a casa pediu socorro, consertos estruturais. Mudança da fiação elétrica, retirada de uma enorme colmeia, refazer a horta suspensa, colocar novas telhas, matar cupins, tudo o que se espera de uma vida rural…

E de todos os novos amigos que surgiram e os que reencontrei, um em especial. Há alguns meses resolvi buscar uma amiga, achei sua filha no Facebook e consegui o telefone. Numa tarde de sábado fiz a ligação. Ela me atendeu com enorme surpresa. O tom de voz não mudou, era o mesmo desde que a conheci há mais de 40 anos. Ela foi fundamental em minha vida quando comecei a me posicionar profissionalmente. Ninguém era mais elegante do que Gilda Muller. Tinha estilo, educação, simplicidade, humor e generosidade. Diretora da TV Studio Produção, empresa que produzia os programas na TV do Flavio Cavalcanti, de quem também era grande amiga e comadre, fora casada com Maneco Muller, pioneiro no colunismo social assinando com o pseudônimo de Jacinto de Thormes desde a década de 50. Gilda e Maneco mantinham a mais equilibrada relação de ex-casal que já vi. Trabalhavam na mesma equipe, passavam férias juntos com os 3 filhos e não imaginam o quanto me serviram de referencia para todos os meus casamentos. Casamentos se acabam, amizades não.

Gilda conhecia e frequentava a fina flor da sociedade brasileira. Tratava da mesma forma todos os chics que constavam do livro “Sociedade Brasileira”, onde estava seu nome, como também o açougueiro da esquina, o rapaz da quitanda… Foi a primeira pessoa que vi vestir um tailleur (ou era um blazer ?) com estamparia azul marinho e verde bandeira! Quando eu, uma garota da Tijuca, ia pensar em tamanha ousadia?

Durante um bom tempo trabalhamos na mesma sala e fiz com Gilda minha pós-graduação em etiqueta e bons modos. Foi melhor do que qualquer intensivo no Colégio Sacre Couer… Em 72 com o sucesso de audiência do Programa Flávio Cavalcanti e o bom faturamento, ganhamos do patrão uma viagem à Europa. E lá fomos, eu gravidíssima, Paulinho (meu marido) e Gilda,  de 1ª. classe pela Tap para Lisboa, Roma, Londres e até Paris quando nos separamos. Gilda tinha uma irmã que morava por lá, mas ainda estivemos juntas almoçando na Tour Eiffel…

Um dia seguimos caminhos diferentes e creio que a ultima vez que a vi foi em 93 na noite de autógrafos do livro “Um Instante, Maestro”. Bom, todo esse relato prá contar como foi bom ter convivido com Gilda, sua importancia em minha formação e como foi deliciosa a conversa ao telefone naquele sábado. O tempo não existiu. 20 anos não se passaram. Com entusiasmo falou dos filhos, dos netos, sempre alegre, alto astral, boas gargalhadas. Prometi ir visita-la – e irei!! – da próxima vez que for ao Rio e antes de desligar o telefone ela disse uma frase de enorme significado para este ano bipolar:
– Léa, o seu telefonema foi a melhor coisa que me aconteceu este ano!

Não é incrível ter alguém que não me vê há 2 décadas e me quer tão bem ?

Gilda, por você também valeu 2012 !!!

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6 Respostas para “2012

  1. Léa que bacana, acho que em algum momento voltamos ao passado para buscar os amigos que fizeram parte da nossa juventude.Engraçado porque também fiz isso em julho/2012. Foi um encontro em Guaratinguetá e depois de 35 anos juntamos 60 amigos. Foi demais! O pai de uma das amigas com 90 anos fez um discurso lindo e cantou emoções, foi demais. Voltamos no tempo. No discurso e falou sobre nossas traquinagens (palavras dele) e falou para continuarmos sonhando e fazendo as mesmas traquinagens- Isso é vida. Todos nós choramos e entendemos a mensagens .

  2. Léa, que delícia reencontrar ami
    gos.Eu sempre admirei Maneco e Gilda Muller de longe… eram exemplos p/ mim, bom escutar vc falar deles…

  3. Léa, querida;
    Lindo e emocionante! Aliás, nosso reencontro foi uma das melhores coisas que me aconteceram em 2012! Obrigada pelos momentos maravilhosos com você! Beijos com carinho!

  4. Léa
    Adorei o que escreveu sobre seu reencontro com Gilda. Estou muito feliz de te reencontrar neste início de ano que, só por este reencontro, promete ser bom. Mande notícias do Bernardo, como ele está?
    Mil beijos

  5. Gilda Müller, uma pessoa bem educada? É pouco! É um exemplo de finesse, aliás recebida de seus pais, pessoas de educação primorosa que eu tive a honra de conhecer por termos morado no mesmo prédio em Botafogo/Rio (aliás moravam justamente no apartamento encima do meu). Em Nova York descobri que tinha um amigo comum que só tinha elogios a ela.

  6. Dona Gilda, pessoa que não conheci, faleceu ontem 03/06/2015.

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