Por causa do engarrafamento, coisa rara por aqui nesta época do ano, procurei um cd no carro e encontrei um que me levou à uma viagem de 20 anos… Uma viagem que tem sons, cheiro e cor nítidos na minha memória. Lembro perfeitamente quando ele entrou na minha sala para uma reunião formal e o olhei dos pés a cabeça concluindo rapidamente que era exatamente o tipo que não me atraia. Mas isso foi só até começar a expor seu ponto de vista em um projeto com varias nuances e possibilidades. Enrubesci por dentro. Ele era perfeito para os meus sonhos. E passei a me dedicar com mais afinco ao projeto, contar os dias as horas e os minutos para as reuniões, e cada vez que ele começava a falar eu gelava. Ele era genial, mas não se vendia assim…Como todo homem inteligente tinha humor, falava num tom mais baixo com uma timidez marota, como quem pede desculpas por estar ali… E foram muitas reuniões… Até que uma delas, desta vez em seu escritório, quando saímos já passando das 8 da noite ele convidou para um chopp num bar na esquina… A esta altura eu aceitaria convite até para tomar cicuta… No caminho veio uma daquelas chuvas de verão que fazem fumaça no asfalto e exalam um cheio bom de terra e corremos até o bar aonde chegamos ensopados… Ainda não entendi como andar na chuva molhando menos, e foi na filosófica discussão se era melhor correr ou andar calmamente, que ele pediu um Steinhaeger para esquentar com um chopp na seqüência… Não sei a que horas saímos do bar, já não chovia mais e quando abri a porta do meu carro ele veio de um jeito meio desencontrado para me entregar uns papeis e acabamos nos beijando. O mundo parou. Igualzinho como no cinema, luzes pipocaram no céu, estrelas cadentes passaram raspando sob nossas cabeças, violinos tocaram enquanto o corpo tremia e a perna ficava bamba…
Fui para casa me sentindo uma princesa na carruagem conduzida por ratinhos… E vieram outros encontros não tão profissionais, mas numa paixão avassaladora, destas de perder o fôlego e dormir suspirando… Nunca se sabe se o sentimento tem a mesma proporção para as duas partes, mas eu estava tão feliz que nem pensaria em medir aquela deliciosa loucura… Queria viver plenamente e trouxe vinhos de uma viagem ao Chile, comprei queijos franceses para beliscar vendo jogo de futebol na TV, acordei cedo para caminhar no calçadão até que um dia, não mais que um dia, na mesa de um outro bar ele pediu um tempo… E eu fiz uma coisa horrível: chorei copiosamente do tipo não me abandone… Voltei prá casa como a ultima mulher do mundo. Envergonhada solucei a noite toda e no dia seguinte não consegui sair da cama… Dias de coração rasgado, horas que não passavam… O projeto ficou lindo, aplaudido com louvor e premiado no exterior… Dele ficaram as lembranças materializadas nos presentes do CD da Bethania “As Canções que você fez prá mim” e um livro do Sebastião Salgado com fotos de mulheres trabalhadoras… Bela referencia… E hoje no engarrafamento toda esta historia me voltou viva, quente, 20 anos depois e escrevo este texto em memória de alguém que já não está mais aqui… Creio que ele sempre soube o quanto eu o amei, mesmo que por tão pouco tempo, pois amor não tem tamanho, acontece…
Afff, Léa, que história linda! ♡♥♡♥
E que curiosidade pra saber quem foi esse homem maravilhoso! 😉
Ontem foi o Dia do Jornalista, lembrei com muito carinho de pessoas competentes, maravilhosas mesmo, as quais não só me identifico mas por quem tenho grande admiração, dentre elas em primeiro plano vinha vc, hoje ao ler sua crônica e lembrando das demais, pude visualizar se sorriso e confirmar o quanto vc é importante para todos nós, vida longa e prazerosa minha querida amiga Salgueirense Lea Penteado. Continue nos brindando sempre !!! Bjs !!!