Índice – Banco de Dados

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Leio no jornal o obituário de Cyro Kurtz e viajo no tempo, início dos anos 70… Releio o capítulo do livro que escrevi sobre a trajetória de Flavio Cavalcanti onde reencontro Cyro,  Paulo Alberto Monteiro de Barros (Artur da Távola), Eurico Amado, Alberto Rajão e um grupo que havia se escondido do país nos tempos da ditadura e retornava com uma proposta inovadora : um Banco de Dados com a informações do país que crescia… Buscaram apoio no Flávio, seu programa era líder de audiência, e segue abaixo a minha memória sobre este fato na reprodução do livro… Pessoas de bem, idealistas e brasileiríssmas… Em tempo de eleição esta gente faz muita falta… Fica aqui a minha singela homenagem…

Capítulo 13

“Mesmo abrindo mão de suas colunas no jornal Última Hora, Flávio não perdeu o contato com Paulo Alberto, que, naquela época, já estava se associando a um projeto do jornalista Gentil Noronha. Nos anos 60, Noronha começou a arquivar informações sobre o Brasil, principalmente as que se referiam à economia. Acordava de madrugada, lia os jornais e arquivava os dados em fichas. Um método bem artesanal. Em pouco tempo, tinha um acervo de grande valor histórico, e, para expandir sua empresa, chamou Ciro Curtis, Alfredo Viana, Paulo Alberto e Eurico Amado. Homens muito inteligentes que, assim como ele, já haviam passado por enormes dificuldades por serem de esquerda. Juntos formaram o Índice —Banco de Dados, prestando um serviço muito interessante. Diariamente, por volta das duas horas da manhã, assim que os jornais eram impressos, Gentil e sua equipe faziam uma leitura detalhada, selecionando as principais notícias econômicas. Depois redigiam um boletim, que era mimeografado e distribuído aos clientes. Era um trabalho apaixonado e dedicado.

A clientela era formada por empresários que não tinham tempo a perder com a leitura de todos os jornais e iam direto ao que interessava: a economia do país.

A amizade de Paulo Alberto a Flávio fez com que toda semana recebêssemos informações do índice sobre o crescimento do país, notas interessantes que o apresentador gostava de divulgar no programa, sempre citando a fonte. Índice – Banco de Dados ganhou notoriedade em todo o país, a clientela ia aumentando e aos poucos a forma artesanal de classificar as informações foi dando lugar aos computadores. No programa, as notas divulgadas também faziam sucesso. Recebíamos cartas de todo o Brasil pedindo mais e mais informações. Não só técnicos em economia nos escreviam mas também pequenos artesãos, donas-de-casa, vendedores, aposentados, soldados, estudantes e bancários querendo mais dados. Era um período próspero na economia do país.

Diante do interesse do público e do empenho de Flávio em colaborar com os profissionais do Índice, a equipe resolveu criar um livro mostrando o Brasil que o Brasil não conhecia. Os jornalistas Alberto Rajão e Jesus Soares Pereira trabalharam em tempo integral para a elaboração do livro Brasil em Dados, que em outubro de 71 foi lançado no Programa Flávio Cavalcanti. O prefácio escrito pelo apresentador era o seguinte:

“Há cerca de um ano, o Programa Flávio Cavalcanti começou a divulgar pequenas informações sobre a economia brasileira, aproveitando o excelente trabalho de pesquisa que me é fornecido diariamente pelo índice – Banco de Dados. Ao fazer essa divulgação, meu desejo era o de prestar mais um bom serviço aos telespectadores da TV Tupi, Canal 6, transmitindo-lhes dados de grande valor para quem planeja, educa, produz, comercializa, estuda, para todos aqueles, enfim, que precisam da informação econômica em suas atividades profissionais.

Supunha que o número dessas pessoas não fosse muito grande, limitado que estaria a uma parte das chamadas elites do país. Embora poucas, mereciam que o Programa Flávio Cavalcanti estendesse a elas o serviço que ainda era privilégio dos clientes do índice.

Devo confessar que me enganei, apesar de minha longa experiência na imprensa, no rádio e na televisão. Milhares e milhares de cartas começaram a chegar, de todo o país, das grandes cidades e dos pequenos municípios do Norte, do Leste, do Centro, do Oeste e do Sul. Dezenas de milhares de brasileiros escreviam-me pedindo mais informações.

‘Seu Flávio. Quantas toneladas de aço produz o Brasil? Qual a quilometragem de nossas estradas? Quantos analfabetos ainda existem? Por que não se industrializa a banana?

Quantas vagas existem nas universidades brasileiras? Qual tem sido o aumento de nossa renda per capita?’

Eram consultas de professoras, médicos, advogados, industriais. Mas eram também, e em maior número, perguntas de operários, comerciantes, camponeses, donas-de-casa, estudantes, vendedores, aposentados, soldados, empregadas domésticas.

Descobri com uma das maiores emoções de minha vida que o povo brasileiro queria saber; que o povo brasileiro quer conhecer o seu país, a sua terra, a sua gente, os seus problemas, as suas possibilidades. Descobri que o povo brasileiro deseja aprender, para melhorar, para construir, para desenvolver-se. Era preciso ajudá-lo. Recorri ao índice. Expus essa necessidade e a minha ideia: estender ao povo a assessoria econômica que vinha sendo prestada apenas aos técnicos, aos dirigentes, aos grandes industriais e homens de empresa que têm acesso às fontes de pesquisa ou que recebem todas as manhãs o Boletim do Banco de Dados.

Meu entusiasmo foi imediatamente entendido e incorporado pelos jovens empresários e profissionais daquela organização. Começamos a recolher informações, a classificá-las,

a organizá-las didaticamente, a enriquecê-las com fotos, gráficos e quadros, a traduzi-las para uma linguagem simples, ao alcance de todos.

Posso dizer agora, com muito orgulho, que o resultado desse trabalho foi o que obtive no índice, guardei e passo a vocês: o Brasil em Dados.

De tudo o que fiz nos jornais, nas emissoras de rádio e nos estúdios de televisão, procurando durante anos oferecer ao meu público a melhor música, o humor mais alegre, a notícia mais verdadeira, o espetáculo mais agradável, nada se compara ao que desejo oferecer a todo o povo brasileiro através deste livro: o conhecimento de seu próprio país. Brasil em Dados não contém a minha opinião nem a opinião de ninguém. Não é contra nem a favor de pessoas ou de partidos. Não ataca nem defende quem quer que seja. Brasil em Dados informa. Esta é a minha contribuição ao desenvolvimento, à paz, à integração e à felicidade deste nosso querido Brasil. E modesta, sem dúvida. Mas eu a dou, juntamente com o Índice

– Banco de Dados, com o melhor do meu carinho, do meu patriotismo, da minha confiança nesta brava gente brasileira. Tomem este livro nas mãos, transfiram para a memória o que ele contém, fortaleçam no coração o que ele deseja ensinar: o amor ao Brasil, não apenas pelo que ele é, mas pelo que ele deve e pode ser. E será.

Flávio Cavalcanti.”

Brasil em Dados se transformou num grande sucesso editorial. Em 48 horas foram vendidos vinte mil exemplares, em uma semana, cinquenta mil, e em um ano, duzentos mil. Tinha 144 páginas escritas por uma equipe de técnicos e profissionais do Índice; trazia ainda fotografias, gráficos e quadros, traduzindo a economia para uma linguagem simples, bem ao alcance do público.

Nessa época o Brasil tinha 92 milhões de habitantes e era o oitavo país em volume populacional. Na sua frente estavam China, Índia, União Soviética, Estados Unidos, Indonésia, Paquistão e Japão.

Em 72, Flávio lançou São Paulo em Dados, também elaborado pela equipe do Índice. Repetindo o sucesso, o livro teve cem mil exemplares vendidos em menos de seis meses só em São Paulo.

O Índice ainda prestou serviços à Bolsa de Valores do Rio de Janeiro e a muitas empresas de grande porte. Foi vendido em 74, e de sua equipe original continuam entre nós Paulo Alberto Monteiro de Barros, deputado federal, e Ciro Curtis, advogado.”

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Uma resposta para “Índice – Banco de Dados

  1. Sou filho do Cyro e infelizmente não temos mais um exemplar do livro. Seria muito bom criar um pdf do mesmo. Se alguém tiver um exemplar, posso providenciar isto. Gostaria muito de mostrá-lo às minhas filhas…
    Bruno Kurtz

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