
Foto : Claudia Schembri
Eu adoro o silencio dos domingos…
Aos domingos não arrumo a cama, tomo café de pijama lendo o jornal no tablet, e nem os passarinhos cantam no meu quintal… Acho que eles sabem que é dia de descanso…
Aos domingos ouço música, como meu pai fazia quando eu era criança… Colocava os discos na vitrola e ficava fazendo alguma coisa, às vezes preparava o fumo para o cachimbo, misturava vários blends numa lata grande e acrescentava casca de maçã em uma operação silenciosa e cuidadosa. Em outras arrumava os próprios discos ou os livros na estante e pouco antes do almoço preparava algum drink especial que levava para mamãe na cozinha e me deixava dar uma bicadinha…
É uma lembrança tão significativa que me faz ouvir música aos domingos como se fosse uma celebração em memória da minha família… Não preciso mais colocar os discos na vitrola, tenho uma playlist no spotify com Rod Stewart cantando standards americanos, uma série de boleros na voz de Luiz Miguel, o jazz da Diana Krall, a maravilha de João Bosco e ainda o som do nordeste de Fagner, Geraldinho Azevedo e Alceu Valença… Fico arrumando o jardim, tomando sol e bebendo Aperol… Apesar da música ter feito parte da minha trajetória profissional, não consigo ter como fundo musical no cotidiano… Não trabalho ouvindo música… Tenho os sons da natureza, às vezes interrompidos pelos carros que passam vendendo frutas, fazendo anúncios da prefeitura e mais um sem número de ofertas, mas sei que são passageiros e não me aborrecem…
Aos domingos algumas vezes deixo de almoçar fora com amigos e faço um macarrão que não chega próximo ao sabor dos que vinham à mesa na casa dos meus pais acompanhados de carne assada e salada de batata com maionese… Quantas vezes ajudei a preparar a maionese amassando a gema cozida, colocando azeite aos poucos até ficar bem clarinha, quase branca…
Durante muitos anos, quando morava distante, aos domingos no fim da tarde telefonava para minha mãe. Horário em que todos estavam reunidos para o lanche e assim sabia das novidades da família numa única ligação que muitas vezes aconteciam com chamadas internacionais que pesavam no orçamento, mas traziam uma alegria que preenchia meu coração por uma semana… Ainda hoje aos domingos no entardecer tenho o impulso de pegar o telefone mas ninguém atende o 586827. A família ficou pequena, mas continuo tendo os domingos…
Que salutar…doces e agradáveis memórias