Confesso que há algum tempo tenho dificuldade em reconhecer aquele mulher de cabelos grisalhos que me olha todas as manhãs no espelho. Às vezes me permito algumas fotos para encará-la, outras recuso reprodução tão chocada que fico naquela que não me reconheço. Na auto imagem estou entre os 30 e 40 anos. E aquela que me persegue ao se refletir no espelho enquanto passo o batom, ou quando encaro ao passar o creme no rosto, tem a minha voz, os olhos pequenos, os meus trejeitos, mas esteticamente não é com quem converso intimamente.
Para criar o material da campanha de promoção do livro que escrevi contando alguns cases de assessoria de imprensa, tive que fazer fotos e o mais desafiador, vídeos. No primeiro dia quando vi i vídeo na tela do computador tive o impulso de apertar o pause e deletar. Revi e não quis mais saber do assunto. O cenário era o jardim de casa, a roupa e a maquiagem estavam discretas, mas o assunto se encerrou ali. Fui dormir e sonhei que tinha que fazer o vídeo de qualquer jeito. Acordei mais confiante, com muitas críticas ao vídeo do dia anterior e pronta para novas gravações. Vesti uma blusa vermelha para levantar o astral, passei perfume, um toque de delineador nos olhos, joguei o melhor sorriso e de uma tacada só falei mais de 3 minutos. Tenho muita facilidade de falar em público, mesmo que seja só para uma câmera conduzida por uma amiga e tendo como plateia plantas e árvores do jardim. Aprendi que o que está no coração não sai da memória, o que conto é a minha história, e isso fica bem fácil. A questão é a imagem reproduzida.
No meio dessa operação uma amiga psiquiatra, na mesma faixa etária, telefonou e contei a crise de identidade. Ela simplesmente sorriu e disse: não reconhecer a própria imagem é mais comum do que você pensa. Fiquei com a frase na cabeça e lembrei que as vezes quando reencontro um amigo ou vejo em fotos no Facebook penso : como envelheceu ! E completo : deve pensar o mesmo ao me ver… Não posso esperar que se mantenha com a mesma juventude que eu julgo ainda ter, é preciso reavaliar o olhar para si e o outro…
A realidade é que graças a conversa rápida com a amiga psiquiatra, bastou um toque para reencontrar o rumo. Se o que julgo ser loucura não é apenas um problema meu, e se aquela que me segue não é uma inimiga, começo um exercício de aceitação e boa vontade com a mulher de cabelos grisalhos. Assisto ao vídeo e apesar das rugas, de tanto sol a pele ainda está boa… Os quilos a mais estão bem disfarçados na blusa larga e até que ela é uma figura bem simpática. Não tem outro jeito, vou ter que gostar de mim assim mesma. 30 anos nunca mais…
Foto: Cláudia Schembri (sem photoshop)