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No carnaval

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Ele estava num grande momento. Aos 50 e poucos anos fez um mega negócio, teve um alto lucro e resolveu viajar com a mulher no carnaval. Queria ir para Salvador, a mulher resistiu e pediu por um resort. Podia até ser na Bahia. Um amigo sugeriu um vilarejo próximo a Porto Seguro, onde tudo o que tem no carnaval é no domingo a alegria do bloco ”das periguetis”. Pedreiros, motoristas, garçons, serventes, estudante, caseiros, aposentados, turistas todos saem vestidos de mulher. Capricham na maquiagem e vão prá rua atrás de uma charanga que toca velhas marchinhas.

Voltou prá casa com os folders do maravilhoso resort e o pacote comprado na CVC para uma semana de férias. Estava eufórico com a viagem. No resort instalaram-se na área das suítes mais caras. Dinheiro não era problema. Ao desfazer a mala entregou um presente à mulher: um vestido de oncinha. Ela achou estranho o gosto do marido, mas como era carnaval não discutiu… Ele ficou só na  piscina. Não quis nem olhar a praia, tinha muita areia e ondas no mar. Ela fez amigos, ia à sauna, à massagem, à meditação e tudo mais que fosse oferecido enquanto ele bebia toda a champagne do hotel.

No domingo de carnaval continuou na champagnota olhando com pouco caso para a mulher que, com tantos outros hóspedes, fazia um carnaval animado na piscina. Pediu o almoço onde estava, não se moveu da espreguiçadeira até às 4 da tarde quando chamou a mulher para ir ao quarto. Ela não entendeu. Ele entrou direto para o banheiro e saiu de barba feita,  perfumado, usando o vestido de oncinha. Ela teve um chilique. O vestido novo, nem pensar. Ele já tinha tomado todas e deu um chega prá lá. Ela começou a gritar e ele a espancar. O barulho foi tanto que os seguranças entraram no quarto, mas o homem de oncinha tinha a força de um touro.

Chamaram a policia que encontrou uma cena patética: a mulher em pânico, acuada num canto, rosto coberto de sangue e lágrimas. O marido em cima do salto dourado, em frente ao espelho desenhava os lábios com um batom vermelho e na sequencia ajeitava os seios de silicone. A suíte toda quebrada. Os policiais deram ordem de prisão e ele desafiou. Fez-se de sedutor, chamou o escurinho de negão e convidou para um trelêlê… Os policiais se ofenderam e usando a força algemaram e levaram para a delegacia.

Horas depois de ter suado toda a champagne e pagar a fiança, foi solto. Ninguém esperando por ele na porta de delegacia. Perdeu o caminho do resort. Foi parar num bairro distante onde saiu atrás de um bloco. “Olha a cabeleira do Zezé, será que ele é, será que é…” e lá ia ele carregando os sapatos de salto na mão e rebolando. Bebeu, fumou e cheirou o que ofereceram. Quando o dia amanheceu foi encontrado num beco, morto com dois tiros, vestindo apenas uma sunga de oncinha.

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