À Venda

avenda

Em junho do ano passado a convite do Resort Costa Brasilis o jornalista Tales Azzi veio à Vila de Santo André fazer uma reportagem para a revista Viaje Mais e por indicação de amigos me procurou. Estava chocado com as ruas vazias, as muitas placas “vende-se” em casas e terrenos, as pousadas e restaurantes fechados… A vila estava vivendo a baixa estação, como acontece todos os anos passados os meses de verão. Mas nos ultimos tempos a baixa tem sido tão baixa que algumas pousadas fecham depois da Semana Santa. O único movimento de turismo que o jornalista encontrou foi o que se repete quase todos os dias no encontro do rio com o mar onde chalanas e escunas param por uma ou duas horas como parte do pacote vendido pela CVC. Entre as muitas perguntas o jornalista quis saber sobre uma grande construção abandonada distante uns 200 ms da minha casa. Contei que era um condomínio, conhecia um dos donos e a última vez que falamos ele comentou que os sócios estrangeiros estavam com dificuldade na remessa de dinheiro para continuar o empreendimento. Para não ir embora tão decepcionado, convidei o jornalista para um passeio de veleiro com o Carlindo. Voltou encantado pois ao ver a vila do mar  levou uma melhor impressão e a certeza de que um lugar tão lindo não deveria estar à venda.

O  tempo passou rápido. No dia 18 de agosto uma equipe da Seleção Alemã de Futebol visitava o condomínio cuja obra parada retomara a todo vapor. Uma casa estava bem adiantada, ali foi servido um coquetel, apresentadas plantas baixas da construção, um vídeo mostrando a beleza do projeto arquitetônico e a notícia era que até dezembro a Seleção da Alemanha definiria sua base para a Copa do Mundo e outras duas cidades estavam na disputa. Santa Cruz Cabrália, o resort Costa Brasilis, nem o Campo Bahia estavam no famoso book da Copa que oferece hospedagem e centros de treinamento para as seleções que participariam da Copa. Vila de Santo André era o azarão na disputa, correndo por fora com sua exuberante beleza natural, praias semi virgens e um grande empreendimento de bem sucedidos alemães.

Outras visitas aconteceram, a obra foi andando cada vez mais rápida até que no dia 6 de dezembro quando aconteceu o sorteio das chaves da Copa ficou definido que a Alemanha estrearia em Salvador, mesmo contrariando a Fifa os alemães decidiram ter sua própria concentração e centro de treinamento em Vila de Santo André. Operários trabalhando das 7 às 2 da manhã, de domingo a domingo… Poeira e muito barulho… A rua de terra antes silenciosa ficou tomada por caminhões… Não se pode fazer omelete sem quebrar ovos, eu sei…

Crescia rapidamente um enorme condomínio em um terreno de 12 mil m2 com 14 casas. Uma área de proteção ambiental em local próximo conseguiu em tempo recorde de 15 dias autorização para devastação de um espaço para a construção de um campo de futebol e outros quesitos necessários para um centro de treinamento. Parecia uma gincana e se nada deu certo no Brasil com a Copa, aqui na Bahia, local onde dizem que impera a preguiça, está tudo pronto. A prefeitura veio para a limpeza geral, pressionou a empresa de energia elétrica para trocar postes e colocou lâmpadas, pintou o meio fio com as cores das bandeiras do dois países, mas ainda há uma pergunta no ar quanto o falado legado da Copa… Os comentários correm solto na vila.

Legado é a divulgação que a vila vai ter em receber os alemães? Alguns questionam…

Vão reformar o campo de futebol. Isto é muito bom…

Mas isto não é legado da Copa,  contesta a Secretária de Meio Ambiente.

Já doaram uma ambulância para o posto de saúde da vila como antecipação do imposto de 0,5% do valor total da obra.

Mas a ambulância foi para Cabrália. Isto é legado?

E as manilhas colocadas na beira do rio para impedir alagamento da vila fazem parte do legado?

E sem saber qual será o legado e o que reserva o nosso futuro, se pós Copa seremos reconhecidos como destino turístico e teremos visitante ao longo do ano, precisamos agora resolver questões básicas. Neste exato momento há duas informações conflitantes quanto ao fechamento da rua do Campo Bahia. Na verdade esta é a rua principal da vila. A informação é que do acesso à praia por onde passam os ambulantes até o lado da minha casa, todo o trecho será fechado. Só os moradores terão credencial para acesso, os demais terão que dar uma grande volta pela pista (rodovia BA 01). Já uma outra pessoa que esteve na mesma reunião onde se discutiu este tema entendeu que a pé ou de bike todos podem passar, o limite será dado aos automóveis. E enquanto não sei o que vai acontecer reflito se a segurança terá a insensibilidade de dividir a vila. Ironicamente criar um muro frente aos alemães…

 

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2 Respostas para “À Venda

  1. Muito bom gostei da matéria agora eis a questão vamos passar ou não vamos na rua ?

  2. Parabéns pela matéria, superesclarecedora!

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