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Feliz 2017

murta

A Murta com seus frutos

Acordei e vi a árvore de Ingá florindo de um lado da casa e a de Murta cheia de frutos do outro. Para quem vive em um grande centro esses fatos nada representam, mas para quem tem uma exuberante natureza a sua volta são sinais, nem que seja a promessa da chegada de muitas abelhas que passarão a rodear com um zumbido tão alto que me levam a crer que tem uma serra elétrica nas proximidades… Ah! prazeres de uma outra qualidade de vida… Neste tempo de verão vejo a alegria com que os turistas por aqui passam e se encantam… É uma vila muito simples, por isso a cada dia mais raro em meio a tanta tecnologia, tragédia, violência urbana, pressão, caos, medo…

Todos os meus amigos e também os amigos dos meus amigos deveriam ter o direito de passar uma semana por ano em um local como Vila de Santo André, onde as ruas são de terra, onde espontaneamente acontecem pequenos eventos a beira do rio para alegrar os visitantes, onde a gastronomia vai do PF básico ao restaurante de luxo, onde chove nas madrugadas e tem sempre estrelas e uma lua desenhada no céu, onde se toma banho de mar pois até as ondas são tranquilas.

O meu prognostico é que este será meu ano azul…. Não são previsões da astrologia, do tarô ou da bola de cristal, mas assim defini com dias tão azuis e por ter ganho uma bolsa, um colar, uma agenda e uma luminária da mesma cor.  Basta muito pouco para se colorir um ano e se reposicionar diante de um futuro que começo a desenhar nestes primeiros dias… Se o azul ficar marinho vou dar um jeito de clarear… Feliz 2017 em seu 7º dia…

inga

O Ingá com suas flores

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6 graus de separação

Jpeg

Levei a Ana para pegar a balsa. Atravessou o rio João de Tiba, do outro lado o táxi a esperava para o aeroporto e voltou para sua casa no Rio de Janeiro.  Chegou há duas semanas. Não a conhecia, era mais uma hospede para a pousada e acabamos amigas. Trouxe trufas, um livro com as poesias que escreve, uma boa conversa, vontade de mudar a vida e me ensinou a tingir tecidos. Agora cada vez que olhar o enorme panelão comprado unicamente para tintura vou lembrar dela.

No princípio os hóspedes chegaram por indicação de amigos. Hoje podem me encontrar na web e cada dia acredito mais na teoria dos seis graus de separação. Esta teoria diz que no mundo são necessários no máximo seis laços de amizade para que duas pessoas quaisquer estejam ligadas e, através disto é possível chegar a qualquer outra pessoa no mundo. Trocando em miúdos, falando em redes digitais, se eu tiver no mínimo 6 amigos e esses 6 amigos tiverem mais 6 amigos diferentes que terão outra vez mais 6 amigos, numa duplicação em cascata eu posso estar conectada com qualquer pessoa do mundo, do Papa Francisco à Madonna. É uma possibilidade, não um fato.  Mas se eu tenho 6 amigos falando para os seus 6 amigos que recebo amigos de amigos em uma casa-pousada no sul da Bahia, terei novos amigos o ano inteiro.  Assim tem acontecido.

No domingo passado comentávamos animadamente em uma mesa de almoço sobre essa teoria que teve origem num estudo científico, ou seja, não é um “chutódromo”.  E entre as 8 mulheres que formavam suas redes nos divertimos ao constatar aonde poderíamos chegar. Este estudo é bem aprofundado e, como só poderia ser, começou numa universidade nos Estados Unidos através do envio de cartas para identificar os laços de conhecimento pessoal existente entre duas pessoas quaisquer. Acabou se tornando tema de um espetáculo de teatro (Six Degrees of Separation), um jogo para a internet (Oráculo de Bacon) e é um estudo de ponta sobre o poder de movimentos nas redes sociais.

De 6 em 6 vou fazendo amigos sem sair de casa. Não preciso correr o mundo, ele vem ao meu encontro. Gosto de receber pessoas, todas tem uma história para contar, algum conhecimento para compartilhar. Há poucos meses um professor da universidade de turismo passou por aqui e acalmou meu coração com informações baseadas em estudos de mercado sobre o futuro desta vila. Vamos continuar na paz, somos um destino zen. Um casal de São Paulo ensinou a fazer omelete com tapioca, as amigas que vem no verão trazem receitas de novos drinks, o jornalista que ficou 40 dias acompanhando a seleção alemã, em cada viagem que fazia para assistir um jogo da Copa voltava com jornais e revistas, e eu já tinha até desacostumado a ler no papel.

Crio relações, mesmo que curtas, e deixo de ser pousada sendo apenas uma casa que recebe amigos quando um hóspede pede 6 travesseiros e o café da manhã às 7h30, mesmo com o aviso atrás da porta informando que o serviço é após às 8. Sou bem menos rígida com os visitantes do que comigo mesma. Vou exercitando a flexibilidade. Acordo feliz às 6 para preparar no capricho o café de um casal jovem que veio da Alemanha e por temer o sol vai à praia às 7. Estico o café até quase ao meio dia para a turma que sai em jejum com o dia nascendo para a prática de yoga na Ponta de Santo André, com o mesmo carinho com o qual preparo a garrafa térmica de chá no início da noite para a mineira que não janta e coloco pimenta dedo de moça no cardápio do casal que vem da Ilha Fomentera na Espanha para longos períodos. Sempre tem alguém que chega trazendo notícias da civilização e partindo levando a certeza de que o mundo é uma quitinete, basta ter 6 amigos…

Eu na Copa

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Fui dormir com um carro da polícia fechando o acesso à rua onde moro com o sentimento de estar no reality show de um grande evento. Acordei pensando quando foi a primeira vez que vi um evento … A lembrança mais remota chega aos 5 anos no 4º centenário da cidade de São Paulo quando papai levou a família para ver a festa no Anhangabaú. Era inverno, não lembro quais eram as atrações desta comemoração apenas que naquele fim de tarde assisti ao primeiro grande espetáculo da minha vida: uma chuva de prata. Eram milhares de pequenos triângulos de papel de alumínio picados que caíam do céu. Voltei pra casa com as mãos cheias de papeizinhos que meus irmãos guardaram dentro da nossa coleção de licros do Tesouro da Juventude e muito tempo depois li que aquela festa reuniu 1 milhão de pessoas.

Talvez o encantamento da chuva de prata tenha sido tão forte que naquele instante passou um anjo bom e resolveu que este sentimento iria se perpetuar na vida da menina… “Vai viver em grandes eventos” preconizou… Assim os anos correram e fazer festa era parte da minha vida… Na juventude com os amigos da Jaceguai 27 ajudei a organizar shows no Presídio Frei Caneca, depois como jornalista cobri festivais e como assessora de imprensa vieram tantos Rock in Rios, Planeta Atlântida, dezenas de mega shows…Nunca me senti confortável sendo público, preferi os bastidores…

E foram tão veementes as palavras do anjo que até mesmo quando vim morar num pequeno povoado os eventos vieram atrás de mim. Assim estou quase dentro da concentração da seleção alemã de futebol, no perímetro de segurança máxima, dentro dos 500ms da rua principal fechada. Esta manhã desfilaram pela minha porta as vans trazendo os jogadores seguidos por batedores e policiais. A notícia ferve no meu portão com dezenas de jornalistas passando. Estou entre o Campo Bahia, concentração dos jogadores, e o Resort Costa Brasilis, centro de mídia… E vejo tudo da janela do escritório que montei no chalé voltado para a rua… Estou de camarote… Recebi o passe livre, posso ir e vir no perímetro limitado… Com credencial me sinto à vontade…

Santa Cruz Cabrália

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Li a singela postagem no facebook de um morador da vila onde moro sobre o pastor de sua igreja que há pouco mais de dois anos resolveu tomar uma atitude para reverter a situação de Santa Cruz Cabrália e convocou os fiéis a orarem pela cidade. O pastor saiu pelas ruas em oração ungindo com óleo santo os caminhos e as casas, pedindo à Deus que mudasse o destino da cidade onde o Brasil começou. Andou por todos os bairros, ungiu o rio João de Tiba e chegaram a Vila de Santo André onde orações e óleos não foram poupados. Como resultado, este morador credita a isto o fato da Alemanha ter escolhido o local para ser sua sede na Copa do Mundo.

Admiro as pessoas que tem fé, seja qual for… A capacidade da transformação frente a um desejo por mais impossível que possa parecer aos olhos dos outros sempre me comove. É ser maior do que os sonhos e limitações… Estes desafios são os que me parecem estar acontecendo aqui… Da noite para o dia, sem orçamento nem planejamento, caiu de paraquedas uma seleção mundial para se concentrar neste município que sobrevive muito mais da agricultura do que do turismo histórico ou de suas belezas naturais …

Tenho minhas reservas quanto a gestão pública. Envio e-mails ao prefeito e secretários pedindo atenção às mazelas da vila, mas tenho que ser justa neste momento. Não posso ignorar a realidade de que este é um município pobre. São mais de 28 mil habitantes distribuídos em 1.550 km2 – de litoral são 165kms -, onde estão 16 assentamentos de sem-terra, 4 aldeias indígenas, 1 comunidade quilombola e para tudo isso o orçamento é de 4 milhões de reais, basicamente sustentado pelo governo federal… A conta no início do mês começa assim: 1,8 milhões para a educação, 800 mil para a saúde, ainda tem a folha dos funcionários e todos os custos de uma cidade… E é nesse panorama que um dos menores povoados da cidade recebe a seleção de um dos países mais ricos do mundo… Parece pai pobre tendo que fazer a festa de casamento da única filha com um milionário. Os falados recursos da Secopa não chegaram até aqui. É o que conta do Secretário de Turismo Fernando Oliveira.

Neste aperto financeiro há de se ter uma alegria com a visibilidade que a cidade está conquistando. O Jornal da Globo na segunda-feira passada não podia mostrar Cabrália mais bonita… Até a bagunça que se transformou o local onde foi rezada a primeira missa estava fotogênico nas imagens em HD… Se durante um ano todos os recursos do município fossem usados apenas para relações de marketing e promoção não pagaria o que estão conseguindo em mídia gratuita. E a copa nem começou, os falados 200 jornalistas ainda não chegaram, muito mais virá… Vale a cidade e a vila estarem limpas, vale o esforço… Vale o aprendizado para o futuro, planejar como usufruir desta evidencia… E valem também as orações e os óleos que ungiram este milagre de cair do céu o que pode ser a grande transformação de uma cidade até então conhecida como vizinha pobre de Porto Seguro…

À Venda

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Em junho do ano passado a convite do Resort Costa Brasilis o jornalista Tales Azzi veio à Vila de Santo André fazer uma reportagem para a revista Viaje Mais e por indicação de amigos me procurou. Estava chocado com as ruas vazias, as muitas placas “vende-se” em casas e terrenos, as pousadas e restaurantes fechados… A vila estava vivendo a baixa estação, como acontece todos os anos passados os meses de verão. Mas nos ultimos tempos a baixa tem sido tão baixa que algumas pousadas fecham depois da Semana Santa. O único movimento de turismo que o jornalista encontrou foi o que se repete quase todos os dias no encontro do rio com o mar onde chalanas e escunas param por uma ou duas horas como parte do pacote vendido pela CVC. Entre as muitas perguntas o jornalista quis saber sobre uma grande construção abandonada distante uns 200 ms da minha casa. Contei que era um condomínio, conhecia um dos donos e a última vez que falamos ele comentou que os sócios estrangeiros estavam com dificuldade na remessa de dinheiro para continuar o empreendimento. Para não ir embora tão decepcionado, convidei o jornalista para um passeio de veleiro com o Carlindo. Voltou encantado pois ao ver a vila do mar  levou uma melhor impressão e a certeza de que um lugar tão lindo não deveria estar à venda.

O  tempo passou rápido. No dia 18 de agosto uma equipe da Seleção Alemã de Futebol visitava o condomínio cuja obra parada retomara a todo vapor. Uma casa estava bem adiantada, ali foi servido um coquetel, apresentadas plantas baixas da construção, um vídeo mostrando a beleza do projeto arquitetônico e a notícia era que até dezembro a Seleção da Alemanha definiria sua base para a Copa do Mundo e outras duas cidades estavam na disputa. Santa Cruz Cabrália, o resort Costa Brasilis, nem o Campo Bahia estavam no famoso book da Copa que oferece hospedagem e centros de treinamento para as seleções que participariam da Copa. Vila de Santo André era o azarão na disputa, correndo por fora com sua exuberante beleza natural, praias semi virgens e um grande empreendimento de bem sucedidos alemães.

Outras visitas aconteceram, a obra foi andando cada vez mais rápida até que no dia 6 de dezembro quando aconteceu o sorteio das chaves da Copa ficou definido que a Alemanha estrearia em Salvador, mesmo contrariando a Fifa os alemães decidiram ter sua própria concentração e centro de treinamento em Vila de Santo André. Operários trabalhando das 7 às 2 da manhã, de domingo a domingo… Poeira e muito barulho… A rua de terra antes silenciosa ficou tomada por caminhões… Não se pode fazer omelete sem quebrar ovos, eu sei…

Crescia rapidamente um enorme condomínio em um terreno de 12 mil m2 com 14 casas. Uma área de proteção ambiental em local próximo conseguiu em tempo recorde de 15 dias autorização para devastação de um espaço para a construção de um campo de futebol e outros quesitos necessários para um centro de treinamento. Parecia uma gincana e se nada deu certo no Brasil com a Copa, aqui na Bahia, local onde dizem que impera a preguiça, está tudo pronto. A prefeitura veio para a limpeza geral, pressionou a empresa de energia elétrica para trocar postes e colocou lâmpadas, pintou o meio fio com as cores das bandeiras do dois países, mas ainda há uma pergunta no ar quanto o falado legado da Copa… Os comentários correm solto na vila.

Legado é a divulgação que a vila vai ter em receber os alemães? Alguns questionam…

Vão reformar o campo de futebol. Isto é muito bom…

Mas isto não é legado da Copa,  contesta a Secretária de Meio Ambiente.

Já doaram uma ambulância para o posto de saúde da vila como antecipação do imposto de 0,5% do valor total da obra.

Mas a ambulância foi para Cabrália. Isto é legado?

E as manilhas colocadas na beira do rio para impedir alagamento da vila fazem parte do legado?

E sem saber qual será o legado e o que reserva o nosso futuro, se pós Copa seremos reconhecidos como destino turístico e teremos visitante ao longo do ano, precisamos agora resolver questões básicas. Neste exato momento há duas informações conflitantes quanto ao fechamento da rua do Campo Bahia. Na verdade esta é a rua principal da vila. A informação é que do acesso à praia por onde passam os ambulantes até o lado da minha casa, todo o trecho será fechado. Só os moradores terão credencial para acesso, os demais terão que dar uma grande volta pela pista (rodovia BA 01). Já uma outra pessoa que esteve na mesma reunião onde se discutiu este tema entendeu que a pé ou de bike todos podem passar, o limite será dado aos automóveis. E enquanto não sei o que vai acontecer reflito se a segurança terá a insensibilidade de dividir a vila. Ironicamente criar um muro frente aos alemães…

 

Olha o andor…

andorApesar de ter uma réplica da Santa Ceia na sala de jantar, não posso afirmar que a minha casa fosse católica. Papai era espírita, assim como seus pais, mamãe nunca soube qual era a sua devoção. Não tenho lembrança de minha mãe rezando ou indo à missa. Ela frequentava a Igreja apenas nas festas da Escola Meninópolis dirigida por padres e onde era professora. Estudei em colégio de freiras, menos por princípio religioso e mais pelo fato de mamãe ter conseguido uma bolsa de estudos. Fui às aulas de catecismo e fiz a primeira comunhão. Saí vestida de anjo em muitas procissões, cantava todos os hinos e sabia rezar a Ave Maria e o Pai Nosso em francês e latim.

O tempo passou e junto com ele percorri outras igrejas, busquei a fé em terreiros, pais de santo, entrei nos estudos místicos, discuti a minha fé, esqueci do francês e do latim, vim morar num pequeno povoado. Pequeno e diferente de todos os outros que surgem em torno de uma praça com uma igreja. Ele surgiu à beira do rio e só teve a sua igreja católica há pouco mais de 8 anos.  Por necessidade de entender o que havia me feito deixar grandes centros e optar por uma vida jamais planejada, além de meditar em casa ou na praia, passei a ir à missa aos domingos. Um jeito também de estar próxima da comunidade, de ouvir as leituras do evangelho, estar perto do Deus que creio ser um só …  Nestes anos acompanhei o grande movimento dos fiéis, o abandono da Igreja com muitos domingos sem missa e a recuperação que vem sendo buscada nos últimos anos… Mas como diz a minha fiel escudeira que é evangélica “ninguém quer saber de Deus até a desgraça bater na porta…”

E como ontem era o dia do santo padroeiro da vila, saí de casa como em todos os outros anos para acompanhar a procissão… O andor estava pronto, um trabalho bonito da Gilma e da Yeda que cobriram com flores e filó, a imagem do santo presa no alto… Alguns fiéis se reuniam na porta de igreja e definiram o  roteiro: entrar a primeira esquerda na rua do João Capador, passaríamos pelo campo de futebol, na esquina do Mercado Pombal viraríamos a direita, no ponto de açaí  do Pinguim mais uma vez à direita, seguiríamos na rua principal, passando na frente do atelier do Betinho, do bar do acarajé, da  mercearia do Maciel, seguindo até o cajueiro onde viraríamos à direita retornando à Igreja.

Tudo pronto e nada da procissão sair. O padre estava aflito. Em mais meia hora o dia já teria acabado e seria temerário andar nas ruas escuras com buracos e poças que restaram da chuva impiedosa durante a semana.

E por que a procissão, não sai ? pergunto ao padre…

Está faltando um homem para carregar o andor

E só homem pode carregar o andor?

Não Dona Léa, mas qualquer um que aguente…

Peguei o andor, o peso dava para segurar, e a procissão saiu…

Do avesso

Foto: Cláudia Schembri

Foto: Cláudia Schembri

Choveu tanto nas ultimas semanas, dias seguidos, que agora quando aparece o sol tenho vontade de virar a casa do avesso e pendurar no varal. Tirar a umidade das paredes antes que se transforme em mofo, sacudir o colchão e colocar os travesseiros na janela… Aprendi muito nestes quase 9 anos em que moro na Bahia. Sei reconhecer o canto dos diversos pássaros e a entender um pouco o movimento da natureza. Tempos de sol, tempos de chuva… Entrou um vento sudoeste, choveu na mudança de lua, a seca está prolongada, tudo é motivo para se perceber a vida que está no entorno.

Nos primeiros meses eu ficava espantada com tudo, incluindo a diversidade dos insetos. Não eram apenas os que se transformam em cupim e ficam no entorno das lâmpadas até perder as asas que são vistos nas grandes cidades. Mas dependendo do vento, da temperatura, surgiam uns muito estranhos, cores diferentes, cascudos, deixando as lagartixas excitadas. Lagartixas? Sim, elas andam pelas paredes da varanda e se me causavam certo desconforto, hoje encaro com a maior tranquilidade. Fazem parte do estilo de viver ruralmente. E nessa vida rural, surpresas constantes. Hoje fui visitar umas amigas de São Paulo que tem casa de veraneio do outro lado da rua e enquanto conversávamos surgiu uma família de macaquinhos no muro. Era uma meia dúzia, ágeis e com focinho branco. Um pulou para a janela e ficou olhando insistentemente como se perguntasse: não tem nada para nós?

Voltei prá casa me lembrando do olhar pidão do macaquinho que se somou aos olhares das crianças, velhos, aposentados, doentes, jovens, trabalhadores que tem desfilado nas ultimas semanas na tela da TV e no monitor do meu computador … Todos buscam uma vida melhor, mais decente, digna… E se está difícil para os macaquinhos que tinham toda a Mata Atlântica para viver e está sendo destruída, imagine para nós…