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Parabólica

parabolica

 

Você assiste TV por antena parabólica? Certamente a maioria dos meus amigos respondera negativamente. A parabólica é como sinal de vida espetado nas casas mais simples do interior do país trazendo a programação das emissoras de tv aberta. As primeiras vezes que vim para o sul da Bahia, antes de dormir sintonizava na TV Globo e era muito estranho ver no intervalo comercial a tela ficar preta como se estivesse fora do ar. Simples, não havia o que exibir. Chegava apenas a programação da emissora sem os comerciais que na maioria são regionais.

As outras emissoras – Record, Bandeirantes, SBT – retransmitem a programação de São Paulo com direito a todos os comerciais. Mas a Globo, fez algo diferente, Para evitar este buraco negro nos últimos anos criou conteúdo com comerciais de produtos da Som Livre, da Globo Marcas e abriu uma brecha para as emissora afiliadas veicularem pequenos comerciais do que tem de melhor em sua região. Com isso o Aquífero Guarani, as belezas de Goiás, as maravilhas da TV Tem passaram a fazer parte da minha vida nos intervalos das novelas. Mas neste último ano “Isto É Pernambuco” e “Ó Minas Gerais” se tornaram mais constantes nos intervalos da programação. E não é que são também os estados de onde vêm os presidenciáveis Eduardo Campos e Aécio Neves?

Não preciso ir longe para ver que as casas com parabólica não tem reboco nem piso, muito menos saneamento básico como 40% dos domicílios (pesquisa IBGE). As localidades que não são atendidas com o programa “Luz para todos”, utilizam a energia através de baterias ou pequenos geradores. Mas de uma forma ou outras as famílias se conectam com o mundo. Segundo o Ministério das Comunicações são mais de 20 milhões de domicílios cobertos pela parabólica, num total de 54 milhões de residências no país.

E nesta enormidade de país com 16 milhões de analfabetos,  sendo a grande maioria de adultos vulneráveis à manipulação, num domingo nublado, fico pensando com meus botões sobre a extensão  da propaganda na vidas destas pessoas…  Tanto as campanhas de “Brasil um país para todos” como as de Pernambuco e Minas Gerais disseminadas em pílulas nos comerciais o quanto impactam, quais desejos remetem, o que levam a sonhar. O resultado veremos em 2014, quem tem mais bala na agulha e espaço na TV.

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Ó Minas Gerais

No pátio da Igreja de São Francisco-Ouro Preto, Minas Gerais

Cada vez que volto a Minas Gerais, intuitivamente procuro minhas raízes. Nasci mineira por acaso. Mas acredito que o acaso não existe e saio em busca de referencias, algo que me faça lembrar um primeiro ano de vida. Quem sabe um perfume ou um tempero saindo de uma panela fumegante num fogão de lenha me levem ao passado e me tragam alguma revelação… De todas estas viagens, ontem encontrei algo mais próximo. Não nas lembranças de infância, mas no que ouvi na maturidade. Visitando Ouro Preto, em dia de céu azul e um vento frio, em frente ao pátio da Igreja de São Francisco, olhando as casinhas nas ruas estreitas cobertas por paralelepípedos subindo e descendo ladeiras, por alguns momentos imaginei como seria alcançar aquele lugar há mais de 300 anos.
Era algum dia entre 1693 e 1698 quando um bandeirante de uma expedição comandada por Duarte Lopes lá chegou, encontrou uma pepita de ouro e tudo começou… Como desde criança gosto de aventuras, o assunto entradas, bandeiras e moções foram meus temas favoritos nas aulas de historia. Tantos séculos depois ao ver tanta historia naquela cidade, lembrei da busca dos sonhos destes homens e particularmente de um sonho meu. Quando eu morava em Nova York houve um tempo em que estava na duvida se lá ficaria prá sempre ou se retornaria ao Brasil, foi quando recebi uma carta do meu pai que foi definitiva. Papai escrevia muito bem. Fazia analogias, buscava citações de bons autores, e nesta carta lembrava Fernão Dias Paes Leme e o sonho de encontrar esmeraldas. De forma poética e delicada contava a saga do bandeirante que acabou morrendo no meio da mata com um lote de pedras verdes acreditando ter achado esmeraldas, mas eram simples turmalinas. E foi por não me perder nos sonhos que voltei para o Brasil e descobri que as minhas esmeraldas estavam bem mais perto… Andando por Ouro Preto, visitando o Museu da Inconfidência – que museu lindo e tão bem montado !– ,subindo e descendo ladeiras, vou costurando a minha memória de mineira, pelos caminhos que surgirem, com as lembranças que vierem e me sentindo um pouco bandeirante…

Ouro Preto, Minas Gerais