Quando viajo de carro e vejo uma casinha à beira da estrada, sem vizinhos, solitária, fico imaginando o que faz uma pessoa viver assim. Não sei se é uma escolha ou uma determinação do destino, mas sempre invento historia, crio personagens e isto faz com que as viagens sejam mais divertidas. De onde eu moro para uma “meia civilização” são alguns quilômetros de estrada. E hoje, indo para Eunápolis levar o Xico ao veterinário, lembrei que há alguns anos quando estavam construindo a Veracel, uma enorme fabrica de celulose aqui no sul da Bahia, para se tornar viável o escoamento do material produzido teriam que construir uma estrada unindo a indústria ao seu terminal marítimo. A estrada passaria nas imediações do distrito de Barrolândia, uma localidade pobre e pequena, e para definir o local exato realizaram uma audiência publica. Presentes os representantes da fábrica, autoridades municipais e os moradores. A fábrica sugeria um traçado sem comprometer o povoado, passando por fora, minimizando ao máximo os efeitos dos grandes caminhões e também do trânsito que seria gerado. Já os moradores exigiram que a estrada cortasse bem ao meio da localidade, com isso ganhariam ares de cidade grande. Um amigo envolvido neste processo, comentou que ouviu a seguinte justificativa de uma moradora ainda jovem : “quem sabe assim alguém passa por aqui e me leva embora.”
Os moradores ganharam, a linda estrada lá está. Quantos sonhos à beira de uma estrada! Não sei se a jovem saiu de Barrolândia, talvez os caminhoneiros apressados não parem nem para visitar o “brega”, mas o desejo de aventurar para outros lugares faz parte da busca do ser humano. As aventuras motivam, atenuam dias tristes, alimentam a alma. Eu continuo encantada com as estradas, vendo as casinhas à beira, fantasiando sobre a paisagem. Foi isso que me inspirou a escrever o argumento do filme “À Beira do Caminho” que Breno Silveira dirigiu e estreia em agosto. É só esperar para conhecer a alma de um caminhoneiro.
Estarei na estreia de terno e gravata com saco de pipoca, encantado.
esperar alguém passar é poético mas na realidade a pobre deve ter chorado muito.
adoro seus textos de ficciorealidade misturando memória&criação.