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Bed & Breakfast

 

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 Gosto das manhãs de verão quando preparo em silêncio o café para os meus amigos. Levo os cachorros para a casinha, coloco a água para ferver e com capricho vou arrumando a mesa na varanda. Estes dias somos em 9. Lotação esgotada !  Enquanto separo as frutas e cozinho a banana da terra, penso no prazer da casa cheia que só acontece no verão. Bem que podia ser ao longo do ano. Afinal Vila de Santo André é tão linda !

Nada em minha vida foi planejado. Aos 20 anos nem o sonho mais louco chegou próximo do cenário em que me encontro. Um dia de cada vez, a vida se apresenta e surpreende. Tudo começou na partilha da pousada. Mamãe ficou com a casa do Victor e dois chalés num terreno com muitas árvores no meio de um areal em um vilarejo no sul da Bahia, distante mais de 1000 kms do Rio de Janeiro. Quase três anos depois, com o patrimônio abandonado, vim para um semestre sabático e a missão de vender a propriedade. Comprei a casa e aqui estou há mais de 8 anos. O areal virou gramado. Plantei mais árvore, fiz um belo jardim e com a procura no verão comecei a alugar os chalés para amigos. Alguns anos depois construí mais um chalé para o meu filho e fui aprimorando o prazer de receber no mais autêntico estilo bed & breakfast. Ofereço o que sei e posso fazer mesmo sem ter auxiliar: um belo café da manhã e arrumar quartos. Mas com o jeitinho baiano da Helenita e da Geisa eu nem preciso estar em casa. Elas deram autenticidade ao breakfast com a tapioca, o bolo de fubá, sucos de graviola, cupuaçu e cajá, e recebem com a simpatia da Bahia.   

As conversas no café da manhã são deliciosas, tenho o privilégio de só receber pessoas interessantes com boas historias prá contar. Sempre aprendo e ensino alguma coisa. Ontem fizemos cinema no jardim. Esticamos uma lona branca e um lençol num varal, colocamos projetor, notebook e caixa de som na mesinha, cadeiras e espreguiçadeiras e os olhos grudados na tela grande. O perfume da noite, o pio da coruja, os cachorros dormindo no gramado e a emoção que só um bom filme provoca.  Esta é a outra vida, muito divertida e um prato cheio para uma jornalista. (Fotos : Cláudia Schembri)

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Aos meus queridos

Desde ontem meu pensamento está nos que partiram… Acordei cedo, busquei companhia e não encontrei. Peguei 25km de estrada até  Mogiquiçaba, um pequeno povoado na divisa de Santa Cruz Cabrália com o município de Belmonte, onde deixei o corpo do meu irmão há quase 11 anos. No trajeto desliguei o som do carro, fui ao silencio pensando naqueles que partiram, em muito do que vivemos, recobrando imagens que vão além da fotografia do porta retratos na sala, do álbum da estante, da memória no computador. Imagens com movimentos, tons da voz, risos, trejeitos, cores favoritas, sabores, perfumes… Cena que nenhum filme mostra e só se reconstrói na imaginação e nem sei até que ponto é real. O tempo pode ter suavizado matizes, reverberado sons, alterado dimensões, mas é o que ficou. Torna-se uma verdade.

Estou num tempo de mais partidas do que chegadas, de repensar caminhos. Fui revendo tudo isso enquanto me desviava de alguns buracos na estrada, assim como os tropeços da vida. Mamãe e papai estão juntos no Rio de Janeiro. Victor optou pela Bahia. Escolha não se explica, segue-se o desejo. E lembro quantas vezes passei por esta estrada com ele, com outros pensamentos e muitas gargalhadas.  Jamais imaginei um dia estar aqui, tão integrada a esta gente tanto que junto comigo levei nesta viagem um abraço no coração de outras duas pessoas queridas que também foram colocados ao lado dele…

Parei o carro à beira da estrada. Por incrível que pareça nos minutos que  fiz minhas preces e acendi as velas no pequeno e simples cemitério nenhum carro, ninguém passou por perto. Era só eu e os queridos Victor, Dudu (Edoarda Casadei) e Doró (Dorothea Copony). Se acreditamos que existe um encontro além deste mundo, eles estarão próximos. Eram amigos das conversas e da boa mesa, tinham vivido muito, escolheram ficar por aqui… E lá seus corpos foram deixados, lado a lado. Hoje um pouco de mato no entorno, algumas flores nativas, a sombra das árvores e ainda se escuta, mesmo que distante, o barulho do mar. Lembrei deles, com muito carinho, nesta sexta-feira e em tanto outros queridos… Sei que partimos sem aviso prévio e por isso só nos resta  viver melhor enquanto aqui estivermos.

O pote de ouro

Gosto da lenda do pote de ouro no pé do arco-íris. Singela e lúdica leva para vôos sem asas, pura imaginação. E o que eu faria com um pote de ouro? E como faço para chegar até lá? Sempre acho que encontrarei muito mato no caminho e me vejo debatendo em um capinzal que cobre a minha cabeça. Cobre sim a minha cabeça, mão não é o capinzal. São tolos os pensamentos que não deixam ver que o pote de ouro está dentro de mim, dentro de nós. As soluções estão aonde nascem os problemas, e não fora de deles… Lembrei disso quando Cláudia enviou esta seqüência linda de fotos feitas na travessia da balsa… Fez um sol lindo e depois veio uma grande chuva, prenúncio de arco-íris… E eis que surge o pote de ouro no momento em que entendemos que somos luz e sombra, o bom e o mau, a tristeza e alegria, e todos os inversos são um só. A alma humana é simultaneamente divina e diabólica, sagrada e profana, santa e pecadora. E se for prestar atenção ao que escreveu Hermes Trimegisto na Tábua da Esmeralda em 680 dC, “é verdade, certo e muito verdadeiro que o que está embaixo é como o que está em cima e o que está em cima é como o que está embaixo, para realizar os milagres de uma única coisa.” Ninguém é só sol nem só chuva…Mas todos somos arco-íris com pote de ouro… (Fotos : Cláudia Schembri)

Começa a surgir ...

Cabrália ainda distante

Chegando mais perto da cidade

Se derramando na cidades

Esplendoroso no barquinho pesqueiro