O cajueiro

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Há 14 anos descobri os cajueiros ao aprender a conviver com os dois plantados no jardim de casa… Troncos com formas sinuosas, ora buscando o sol, ora se enterrando na areia e depois retomando seu caminho que ameaçavam os telhados. Deram poucos frutos, muitas flores, mas gosto de admirar a sua força, a determinação em crescer, mesmo sem receber muita água. Bastava a da chuva e às vezes alguma que do gramado escorria para seus pés…

Porém, com o tempo seus troncos saíram do meu jardim, atravessaram a servidão* e quase se derramaram no caminho, inibindo a entrada de veículos mais altos. Para evitar que derrubassem a frágil cerca de madeira da minha casa como também a cerca de eucalipto de outro vizinho, há algum tempo coloquei uma estaca aparando um pesado galho, tudo paliativo… Sabia que um dia teria que ser podado. Na verdade, o que me seduz são seus galhos, muitos secos, fazendo como um “túnel de acesso” ao meu paraíso… O portal da minha alegria…

Ontem o vizinho de servidão, proprietário da Pousada Victor Hugo, construída nos anos 90 por meu irmão Victor e seu sócio Hugo, veio pedir socorro. Precisa de forma urgente da entrada de um caminhão por uma questão estrutural do seu empreendimento e com os galhos é impossível…

Ouvi o pedido, prometi refletir e fiquei divagando sobre a necessidade relevante do vizinho e a estética poética dos galhos, às vezes misturados com bouganvilles, dando boas-vindas à quem chega. O vizinho é meu bem e meu mal. Se for feliz e próspero, serei também. Doeu profundo o tempo de vazio, o abandono, a pousada sem saber que rumo tomar, muitas vezes fechada por longo tempo. Só sobreviviam os jardins, por total dedicação do Beto, jardineiro da época do meu irmão. Havia amor e cuidado por aquele espaço que vi ser construído, estava na inauguração, acompanhei a expansão, e se tornou ponto de referência no povoado, recebeu elogios nos cadernos de turismo, estrelas referendando os bons serviços, e vi também a partida do meu irmão. Foram anos difíceis de um inventário empacado na morosa justiça no sul da Bahia, a desavença entre o sócio e a minha família e, por fim, a venda há 4 anos. Período de altos e baixos, e a bela Victor Hugo perdendo a identidade…. Até que há seis meses chegou um empresário paulista cheio de sonhos para ser pousadeiro à beira mar… Um respiro para o meu coração…

Nestas divagações, me coloquei no lugar do vizinho…. Conclui a importância da poda …. Clareou a servidão, tenho esperança que vai renascer com vigor, assim como a pousada.

*Servidão – um acesso público para o mar, muitas são tão estreitas que veículos não entram. Esta servidão é mais larga, com acesso a veículos exclusivamente para minha casa e para Pousada Victor Hugo.  

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