Do que me lembro, lá pelos fins dos anos 60, era comum encontrar nas salas de estar ou nos jardins das casas uma árvore da felicidade. Frondosa ou em versão bonsai, diziam que bastava ter um casal — macho e fêmea — para atrair alegria duradoura.
Tive várias ao longo da vida, até chegar à Bahia… E encontrar, não uma árvore, mas um jardim com alma de floresta.
Hoje completo 21 anos em Vila de Santo André, Santa Cruz Cabrália, Bahia. E não tenho árvore da felicidade no quintal. Nem preciso.
Aprendi a ser feliz entre árvores com nomes que soam como cantigas: aderno, araçá, angelim, almescla, araticum, aroeira… E mais: bananeira, cajueiro, coqueiros, dendezeiro, embaúba, flamboyant, jambolão, limoeiro.
Algumas são heranças do meu irmão Victor, que ergueu esta casa. Outras, dádivas dos pássaros.
Plantei apenas o jambolão, que hoje é um gigante. Seus frutos roxos tingem o chão como se o tempo ali se materializasse em cor.
Algumas árvores têm histórias. Como o cajueiro cuja galha atravessava a cerca e sombreava o caminho para a praia. Estava esplêndido, até que o vizinho pediu para cortar.
Queria a passagem livre para um caminhão.
Disse “não” de pronto — busque outra solução, respondi.
Mas ao voltar pra casa, a dúvida me agarrou: o que pesa mais — a galha do cajueiro ou a boa convivência com o vizinho?
Cortei a galha.
O cajueiro, generoso, não se ofendeu. Voltou a crescer. E sua nova galha, agora mais alta, já se estende, atrevida, pelo mesmo caminho…
Com honra, sou Cidadã Cabraliense. O diploma está na parede — mas o reconhecimento vem daquilo que construí aqui.
Tive o privilégio de servir duas vezes à cidade onde o Brasil começou. Fui Secretária de Cultura e Secretária de Comunicação.
E vi a Vila de Santo André, que me acolheu com 350 moradores, crescer para mais de mil almas.
Um vilarejo resume uma grande cidade: os problemas são os mesmos, mas as alegrias e os conflitos nos tocam mais de perto, como se fossem parte da própria pele.
Nestes 21 anos, tive quatro cães.
Escrevi três livros. Criei um site que vai completar 20 anos, um blog e redes sociais.
Aprendi a costurar bonecas de pano, colchas de retalho. A fazer pilates 3 vezes por semana. A dormir com a janela aberta para ver a lua passeando no céu.
Sou anfitriã de pessoas adoráveis que passam por minha casa o ano todo. Um prazer receber. E fiz novos amigos.
Com as flores do hibisco, aprendi sobre a finitude e o mais essencial: a vida é breve.
Mesmo em toda sua beleza, o hibisco dura apenas 24 horas.
A cada ano, uma nova pergunta me visita: até quando?
E hoje, respondo com o que aprendi entre raízes e galhos:
Enquanto eu for feliz.






















